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A violência contra a mulher negra deve ser tema constante no feminismo

A preocupação com a violência e as desigualdades raciais não pode durar apenas um mês no ano

Por Gabriela Manssur
28 dez 2020, 09h00
Justiça de Saia
 (Freepik/CLAUDIA)
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1. Vozes no Poder

Na última edição de CLAUDIA, falei sobre como o feminismo, por tempo demais, rejeitou as questões das mulheres negras. Quero ressaltar agora uma realidade que confirma esse desequilíbrio. Embora as mulheres brancas estejam sub-representadas nos lugares de poder, a situação é ainda pior para as negras. Elas são quase um terço da população, mas tem ínfima participação na política institucional. Nestas eleições, dentre as 646 prefeitas eleitas (12% do total de prefeituras do país), 196 se declararam pardas e nove pretas.

É importante dizer que, neste ano, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) referendou que os partidos devem reservar parte proporcional dos recursos do fundo eleitoral e do tempo de propaganda na TV e no rádio para pessoas negras, assim como ocorre com as candidaturas femininas. Ter auxílio financeiro é essencial para mudar esse jogo. Para ter uma ideia, o Brasil está em nono lugar entre 11 países latino-americanos avaliados quanto aos direitos políticos das mulheres pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento e pela ONU Mulheres, em resultado divulgado em setembro.”

2. Maior alvo

Sempre batemos na tecla de que as mulheres negras são as maiores vítimas de violência doméstica e, como estamos cientes, é necessário agir. No projeto Justiceiras, iniciativa que acolhe e encaminha denúncias de violência contra a mulher, elas são 46% das atendidas, sendo que quatro em cada dez têm renda de até um salário mínimo.

Conheça a experiência de uma delas: “Tenho 36 anos e três filhos. Vivi um relacionamento abusivo por dois anos. Conheci o projeto quando estava fugindo. Tive que mudar de cidade porque estava sendo perseguida pelo meu ex-parceiro. Na Delegacia da Mulher, não fui bem recebida, sofri preconceito por ser mulher, humilde e negra. Agora, depois de ter apoio de outras mulheres, estou recomeçando com menos medo.”

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3. Líder de respeito

Devemos focar não só no combate à violência mas também na luta por inclusão e possibilidade de acesso a vários campos e posições. Viviane Duarte, criadora do projeto Plano de Menina, que capacita e incentiva garotas de periferia a se desenvolver, se tornou presidente da empresa de mídia Buzzfeed no Brasil recentemente.

“Ser CEO e negra no Brasil é abrir portas para a representatividade e inspirar meninas a ser o que quiserem. Além de oferecer vagas para estagiários, as companhias precisam promover diversidade em todos os níveis. Não se trata de assistencialismo, mas de propósito, que melhora a reputação e aumenta a lucratividade da marca. Todos saem ganhando”, afirma ela.

4. Justiça é gênero feminino

Passo a palavra também para outra inspiração, uma liderança no direito brasileiro. Claudia Luna é, desde 2019, presidente da Comissão da Mulher Advogada na Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) de São Paulo, a maior seccional do Brasil. Ela é a primeira mulher negra no posto.

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“Estar nessa posição é uma disrupção em um sistema tradicionalmente cis, branco e heteronormativo. Isso quer dizer que mulheres negras, indígenas e LGBTQIA+ ficavam de fora. Estar aqui serve também para pautar essa estrutura, levando um olhar de gênero e de todas as suas interseccionalidades para as discussões. Tenho a responsabilidade de ajudar a repensar uma instituição que, nacionalmente, é composta quase em metade de mulheres. Já vemos algumas mudanças e sei que não serei a última mulher negra no posto. Se queremos equidade social, esse precisa ser um compromisso de todos, todas e todes”, diz.

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