Carta aberta aos meus ex-namorados
"Obrigada por não me querer", escreve a colunista Caroline Apple para seus ex-companheiros
É com um alívio imenso no peito e uma sensação inédita de liberdade que venho publicamente agradecer a todos meus ex-companheiros por não me quererem. Isso mesmo. Mas calma, isso não é um ode à gratidão de forma inveterada. Esse sentimento só brotou após uma análise profunda das minhas imaturidades e comportamentos tóxicos dentro desses relacionamentos. Sem essa de ditadura da gratidão! Mas contente com quem me tornei, só me resta agradecer a tudo que passei.
Vamos lá!
Agradeço a cada um de vocês por não terem cedido às minhas profundas carências emocionais que me cegavam diante do iminente fracasso que nossas relações estavam fadadas. Estava tudo dito, mas insisti na ilusão para alimentar aspectos de um “euzinho” ainda em desenvolvimento.
Agradeço por, sem querer, me mostrarem que eu não cabia ao lado de vocês, mas não por não ser o suficiente, mas por ser gigante perto da limitada vida que eu mesma propunha para nós.
Agradeço pelas lágrimas que caíram nas despedidas e que, por fim, regaram e nutriram meu jardim pessoal, me permitindo florescer.
Agradeço a falta de acolhimento dos meus desafios internos da forma que eu acreditava ser a melhor maneira, porque assim aprendi a não delegar a ninguém aquilo que só cabe a mim da forma que preciso.
Agradeço por cada momento que disseram ou deram a entender que eu estava louca, porque, realmente, para insistir em estar naquelas relações daquela maneira, eu realmente não estava fazendo pleno uso das minhas faculdades mentais.
Agradeço por romperem comigo como se eu sequer um dia tivesse existido na vida de vocês, assim pude reconhecer em mim a beleza do que é agradecer e honrar, de forma amigável, respeitosa e madura, cada pessoa que passou pela minha vida, sabendo que deixar no passado não significa eliminar o eliminável. Nos atravessamos. E isso, nós dois teremos que lidar, mesmo fingindo pra si mesmo que nada aconteceu.
Agradeço pelos gatilhos que me catapultaram para a busca da minha saúde mental e emocional e para o meu desenvolvimento como mulher e como ser humano.
Agradeço por me mostrarem que tenho total capacidade de ser uma companheira maravilhosa, mas não somente para uma outra pessoa, mas, primeiro, para mim. Foi sozinha que pude me encontrar.
E, por fim, gratidão por me desiludirem, porque eu estava embriagada na ilusão de que poderíamos ser felizes. A desilusão é motivo de festa hoje na minha vida, porque não quero e não posso me demorar neste lugar tão pequeno cheio de expectativas.
Liberdade, enfim, cantou! Carrego sim questões em mim a serem trabalhadas, mas desassociei elas de vocês, pessoas que hoje, com muito respeito, deixo com consciência exatamente onde vocês estão e devem ficar: no passado.
Estamos todos livres!