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Após a morte do meu pai, tirei meus sonhos da gaveta em plena pandemia

A leitora e escritora Danny Santos se reergueu do luto através da escrita. Sua recuperação inclui planos de um livro

Por Da Redação
Atualizado em 26 mar 2021, 19h30 - Publicado em 25 mar 2021, 15h46
menina lendo livro
 (petrunjela/ThinkStock)
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O furacão nos alcançou em meados de março e vimos nossas vidas virarem do avesso. Desde que surgiram boatos sobre a aproximação de um vírus letal, fiquei bastante preocupada, mas jamais pensei que pudesse chegar tão perto. E chegou… Passado o meu aniversário, que teve uma comemoração toda virtual, uma grande novidade em minha vida, consegui entender a seriedade daquele momento.

Quando meu pai foi internado e testou positivo para Covid-19, meu mundo caiu. Tudo em volta ficou sombrio e uma nuvem de incerteza pairou sobre mim. Os médicos não sabiam lidar, estavam tateando diante de uma grave doença. A cada dia era um novo tipo de tratamento, mas nenhum foi capaz de salvar a vida do meu pai.

Foi doloroso acompanhar seus dias de longe, apenas com boletins pelo telefone. Logo eu, que não desgrudava dele pra nada. Os dias foram passando e eu já não conseguia atender ao telefone para saber notícias, faltava-me estrutura emocional para lidar com a situação.

A médica sempre que ligava dizia que ele estava sendo muito valente, mostrava a cada dia que queria viver, que queria voltar para os nossos braço. Mas, depois de 22 dias de luta, perdeu a batalha.

A luz se apagou, as cortinas se fecharam e sua presença física se foi. Mergulhei numa tristeza profunda, em um vale negro que jamais estive. Toda minha vida passou como um filme, como um roteiro que nunca iria escrever. Com o tempo, me dei conta de que a vida seguia o seu curso e que deveria acompanhá-la de um jeito ou de outro. Entendi que ele não iria ficar bem sabendo da minha inércia diante do mundo.

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Era a vida me quebrando em pedacinhos. Ao ver os meus cacos no chão, encontrei forças para me reconectar e desengavetar sonhos, através da partida do meu pai. Resolvi ser a melhor pessoa desse mundo, fazer tudo que o tempo e o dia a dia não estava permitindo. Minha rotina sempre foi atribulada, com muitas demandas, mas com pouco tempo para mim. Essa parada forçada me fez encontrar coisas que estavam escondidas, gostos, vontades, ideias que não alcançava na rotina diária.

Reafirmei o meu fascínio pelos livros, o quanto esse mundo era meu. Aumentei significativamente a quantidade de leitura durante esses meses e reativei um blog. Ele estava parado há anos e, de repente, surgiu essa vontade de encontrar o mundo numa janela virtual. A escrita me salvou, o blog me trouxe esperança e me livrou de uma depressão.

Essa nova empreitada está ganhando forma, moldando um público de leitores e me trazendo alegrias inesperadas. Recebi mensagens de pessoas que resolveram mudar aspectos de suas vidas após lerem um texto meu. Que honra trazer essa contribuição em um momento tão delicado de nossas vidas. Digo a todos que a retomada da escrita me trouxe vigor, entendimento, conformismo, por bem dizer. Foi o meu divã, a minha terapia.

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Falando em “Divã”, recebi um elogio de ninguém menos do que Martha Medeiros, uma das maiores escritoras do país! Escrevendo um texto no meu blog, me veio a vontade de encaminhar pro e-mail dela e qual foi a minha surpresa? Ela respondeu! Respondeu e ainda elogiou! Meu coração gritou de felicidade e a mente agradeceu a confirmação de que aquele era o meu caminho.

Agora estou querendo alçar novos voos e me preparando para escrever e publicar um livro. Será a representação de um sonho antigo. Foi preciso um furacão passar para me lembrar que ainda existia. É singelo, despretensioso, mas com gotas de orgulho. Orgulho! Mesmo demorando para iniciar a minha trajetória, me sinto preparada para levar adiante um projeto de vida. A pandemia, especialmente a quarentena forçada, acabou trazendo eixo e equilíbrio, ainda que meu coração estivesse dolorido.

Um ano depois, consigo avaliar que escrever me fez sentir a essência do meu ser e que tenho a obrigação de devolver isso ao universo. A pandemia ainda não passou, o vírus ainda segue trazendo medo e levando vidas. Fica até difícil ter inspiração diante de uma tragédia dessa proporção.

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Em abril faz um ano da partida do meu pai e resolvi fazer uma missa para lembrar quão importante ele foi. Não pude ter a missa de sétimo dia nem mesmo acompanhar o seu velório, mas tudo que desejo nesse momento é homenageá-lo e receber o carinho do conforto, que a pandemia nos tirou.

Sinto-me em paz nesse momento, sigo com a força que um dia meu pai mostrou que temos dentro de nós e que por algumas vezes deixamos adormecer.

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