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Bailarina e jornalista, ou jornalista e bailarina. Tanto faz. A coluna fala sobre métodos, histórias, entrevista pessoas, mostra tendências, espetáculos, entre outros assuntos relacionados, mas colocando em tudo isso o mais importante: seu grande amor pela dança
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Made in Brazil for London

Neste Dia Internacional da Dança, bailarinas brasileiras, da Royal Ballet, falam sobre experiência internacional, pandemia e marcos na carreira

Por Flavia Viana
Atualizado em 30 abr 2021, 15h29 - Publicado em 29 abr 2021, 11h38

Se perguntarmos aos bailarinos e às bailarinas qual o maior desejo profissional, a maioria responderá que é dançar em uma companhia fora do país. Boa parte deles apontará a Royal Ballet, em Londres.

A Royal é a primeira companhia de ballet do Reino Unido e também a mais importante sediada no Royal Opera House. Os britânicos são apaixonados por ballet, além de respeitarem muito a arte, por isso, nossos bailarinos desejam tanto entrarem para essa grande companhia.

Uma das maiores profissionais da atualidade, Marianela Nunez, é primeira bailarina na companhia britânica da qual essas três bailarinas brasileiras também fazem parte: Leticia Stock, 30 anos (primeira artista), Isabella Gasparin, 32 anos (solista), e Leticia Dias 23 anos (dancer). O sonho dessas três meninas se tornou realidade.

Para comemorarmos a data de hoje, 29 de abril, Dia Internacional da Dança, tive o prazer de entrevistar e saber mais sobre a trajetória dessas três bailarinas que representam o nosso país em uma das maiores companhias de ballet do mundo, a Royal Ballet.

Suas histórias são diferentes, mas elas compartilham o sonho de dançar em uma grande companhia fora do país, mais precisamente em Londres, na Royal. No caso da Isabella Gasparini, seu objetivo sempre foi a cia britânica, o que faltava era a oportunidade.

Isabella Gasparini
Isabella Gasparini no espetáculo “A Bela Adormecida”. (Andrej USpenski/Reprodução)

“É uma longa trajetória que começou aos 14 anos quando fui medalha de ouro e ganhei bolsa de estudos no Youth America Grand Prix (NY). Fui para o Canadá, me formei, mas meu sonho era a Europa”, conta a artista, que teve o Northern Ballet, em Leeds (norte da Inglaterra), como primeiro emprego.

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Ela também dançou algumas temporadas no English National Ballet e New English Ballet Theatre (outras companhias em Londres).

“Depois de alguns anos, finalmente fui chamada para a Royal, pois eles já me conheciam por eu ter feito duas audições previamente. Sempre quis trabalhar no Royal, mas não tinha conseguido entrar, e é muito difícil conseguir audições”, aponta Isabella.

Na época, as contratações temporárias eram raras. “Havia muitas bailarinas machucadas e eles precisavam de alguém desesperadamente. E lá estava eu, querendo a todo custo uma oportunidade na Royal, e ela veio. De um contrato inicial de três meses, passei a ser permanente na cia.”

A bailarina Letícia Dias entrou na companhia por meio de uma das seletivas mais importantes do mundo, o Prix de Lausanne na Suíça. “Participei de umas das maiores competições internacionais de ballet, o Prix de Lausanne em 2013″, afirma a bailarina, que foi premiada com a quarta melhor bolsa do festival e o lugar na escola da Royal Ballet.

“Estudei por dois anos e me graduei. Depois consegui meu primeiro contrato profissional para o Birmigham Royal Ballet. Trabalhei por uma temporada e depois fiz audição para o Royal Ballet onde trabalho há cinco anos”, completa Dias.

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Letícia Stock também se graduou na escola inglesa. “Eu vim da escola. Fiz os três últimos anos e consegui meu contrato no meu ano de graduação na Royal”, conclui Stock. O sonho se realizou, mas com ele veio a mudança de país e o novo trabalho. Processos e adaptações.

Para Isabella, o choque cultural não foi tão grande, porque ela saiu do Canadá direto para a Inglaterra. “O choque cultural não foi tão grande para mim, porque eu já havia morado no Canadá por quatro anos. Aprendi a falar inglês e me acostumei a morar sozinha. O que me pegou de surpresa foi o tempo chuvoso da Inglaterra (especialmente no Norte) aquele céu cinza de Leeds era algo deprimente. Mas fora isso, eu estava bem com meu emprego, fiz boas amizades, e fiquei feliz por iniciar uma carreira que tanto queria”, relembra.

Isabella Gasparini
Isabella Gasparini (Andrej USpenski/Reprodução)

Para as Letícias (Dias e Stock) foram dois extremos. “No início foi difícil. Deixei a minha família e fui morar em um país novo, com uma cultura diferente, sem falar a língua, foram seis meses de adaptação. Mas me acostumei rápido com a rotina e aprendi a língua com facilidade. Só o frio que realmente não consegui me acostumar ainda”, brinca Dias.

Para mim não foi tão difícil porque eu tive a sorte de ter a minha irmã comigo no meu primeiro ano da escola. Mas acredito que mesmo assim não teria sido tão difícil porque eu estava seguindo o meu sonho”, resume Stock.

As três escolheram desde muito cedo a dança para a vida. Cada sacrifício foi válido, principalmente para dançar fora do país e se realizarem.

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O Brasil é cheio de talentos e de paixão, mas infelizmente a arte da dança ainda não é tão reconhecida. Me sinto orgulhosa em poder representar esse país tão lindo aqui fora. Amo o que eu faço e a minha cia”, ressalta Dias.

Dançar na Royal Ballet é colecionar momentos inesquecíveis para elas que fazem questão de compartilhar com muita satisfação.

“São inúmeros os momentos incríveis que já vivi, mas eu acho que fazer o papel de Clara no Quebra Nozes foi maravilhoso. Além disso, levar amigos para assistirem da coxia e sentir a emoção de todos (principalmente meus pais) ao me verem na cia que eu mais sonhei em estar”, relata Isabella.

Para Letícia Dias, também são muitos os momentos eternizados. “Um dos momentos de muita emoção para mim foi ter conseguido o contrato para trabalhar no Royal. Achei que minhas chances tinham acabado na época, mas persisti, mandei um e-mail perguntando sobre audição e depois de alguns meses consegui meu contrato na tão sonhada Royal Ballet. Foi realmente muito emocionante”, relembra a bailarina.

“Meu primeiro solo com a Cia foi uma das ‘fadas’ na produção de ‘A Bela Adormecida’. Eu amei dançar esse papel e foi quando me senti orgulhosa de mim mesmo de estar dançando meu primeiro solo naquele palco. Foi incrível.”

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Leticia Stock
(Acervo pessoal/Reprodução)

A bailarina Letícia Stock compartilha de um momento incomum e inesquecível como Dias. “Quando consegui meu contrato com a Royal, lembro da alegria que senti até hoje, e do sentimento do sonho realizado. Além disso, sempre que temos uma estreia é muito especial. Você sente aquele clima de ansiedade antes do espetáculo, todo mundo querendo que tudo dê certo. Depois quando termina aquela alegria do trabalho realizado.” Dançar Symphonic Variations de Sir Frederick Ashton no palco do Opera House também foi outro muito especial na carreira de Stock.

Para elas momentos difíceis, mas também positivos, felizes e de aproveitamento diante a situação que o mundo tem vivido desde o início da pandemia. “No começo não sabíamos bem o que estava acontecendo, então foi um alivio porque estávamos quebradas de tanto ensaiar e apresentar ‘O Lago dos Cisnes’, um ballet incrível, porém muito exaustivo. Então o descanso foi bom. Mas, quando a situação começou a aparecer e foi se prolongando, surgiram muitos imprevistos”, diz Isabella.

A saída encontrada pela bailarina foi se concentrar nos estudos, nas aulas online de ballet, no condicionamento físico, na yoga e no pilates. “Passei a seguir uma rotina básica em casa para me manter ativa. Outra coisa que tirei de positivo do lockdown foi  começar a escrever um blog onde conto toda a minha trajetória e curiosidades da vida como bailarina da Royal. O último que escrevi foi sobre sapatilhas de ponta. As pessoas adoraram e sigo escrevendo (isabellagasparini.com)”, explica.

Para Stock e Dias, preocupações se somaram há momentos felizes. “A pandemia realmente foi um grande desafio para nós bailarinos. Eu tive a sorte de conseguir ir para o Brasil ficar com a minha família, mas achei difícil manter a forma e a motivação sem ter ideia de quando voltaríamos aos palcos. Tentei viver um dia de cada vez, aproveitar os pequenos momentos em casa com a minha família e pensar que todos os dias estávamos mais perto de um final”, explica Dias.

LETÍCIA STOCK
Leticia Stock seguiu dançando até a 39ª semana de gestação (Acervo pessoal/Reprodução)

“Bom, para mim foi bom e ruim ao mesmo tempo. Fiquei grávida e tive minha filha na pandemia, então por esse lado foi a maior benção que eu poderia ter. Porém, estar longe da minha família esse tempo todo ainda é muito difícil. Somos todos muito próximos, e não ter meus pais por perto na minha gravidez e agora com a minha filha neném me deixa muito triste”, desabafa Stock. Em um momento muito difícil no mundo, lembrar que tem saúde já é um alento e dá força para continuar.

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Até a 39ª semanada de gravidez, Letícia fez aulas de ballet em casa. “Peguei bem mais leve, porém me exercitar foi fundamental para o meu bem-estar. Agora que estou de licença-maternidade, tenho feito aulas de ballet em casa, mas é bem mais difícil porque tenho que estar com a neném enquanto faço meus pilés e tendus (risos)”, aponta. A recuperação é feita sempre com muito respeito ao tempo.

Para essas brasileiras que dançam na Royal Ballet, voltar ao Brasil é algo muito distante ainda. “Penso em voltar ao Brasil, mas provavelmente será quando eu parar de dançar. Penso em trabalhar com dança, talvez dar aulas ou ensaios”, ressalta Stock.

No caso de Isabella, somente para visitar a família. “Acredito que voltarei por algum tempo para estar com a minha família, mas não para ficar”, finaliza. Dias também é da mesma opinião. “Um dia talvez eu volte, mas ainda tenho uma longa carreira pela frente aqui fora”, conclui.

 Recentemente, a Royal Ballet retornou com aulas e ensaios presenciais em Londres. Para as meninas, um sinônimo de esperança e felicidade de poder retornar aos palcos.

Leticia Dias
Leticia Dias é bailarina da renomada companhia Royal Ballet, em Londres (Acervo pessoal/Reprodução)
Leticia Dias
(Acervo pessoal/Reprodução)

“Agora estamos a todo vapor com os ensaios para as nossas apresentações em maio na cia. Se tudo continuar bem, vamos trazer uma plateia reduzida, com distanciamento social para assistir aos espetáculos. Estamos muito felizes e ansiosas para voltar a dançar”, comenta a Leticia Dias. Apesar de histórias distintas, essas bailarinas incríveis dividem muitas opiniões similares, entre elas um sonho realizado, dançar na Royal Ballet em Londres.

 Além disso, a gratidão por tudo que conquistaram até aqui, a inspiração em seus pais e a paixão por muitos ballets que hoje elas dançam constantemente em um dos maiores palcos do mundo. Para os bailarinos que desejam uma carreira profissional, elas aconselham dedicação, persistência, trabalho duro, disciplina, não ter medo e nunca desistirem dos seus sonhos. A dança para elas é o que as move, o que as faz levantar todos os dias e o que as completam. É um desafio diário.

“Conheço muitas pessoas que não se tornaram bailarinos profissionais, mas que a dança moldou suas vidas de uma maneira inesperada, talvez esse seja o seu papel”, alerta Isabella.

Leticia dias e isabella gasparini pessoal
(Acervo pessoal/Reprodução)

“A vida e as nossas carreiras são muito curtas. Aproveitem e se dediquem ao máximo sempre. Se é isso que sonham, continuem lutando que um dia se tornará realidade”, aconselha Dias. “Trabalhem muito, escutem seus professores e aproveitem a honra e a sorte que é estarem no palco. A nossa carreira é curta, então sejam felizes e aproveitem cada momento”, finaliza Letícia Stock. E sobre hoje, Dia Internacional da Dança, elas são unanimes em dizer: “devemos comemorá-lo hoje e todos os dias.”

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