Refil de produto de beleza é opção sustentável e ajuda o meio ambiente
O mercado de beleza brasileiro é um dos maiores do mundo e referência para marcas. Porém, faltam opções de produtos refil, amigos do meio ambiente
conceito de beleza está cada vez mais próximo de saúde e bem-estar. Criar uma rotina que respeite seu corpo, compreender seu tempo e os processos… Isso vai além de só passar um creme. Contudo, há outra camada nessa equação que precisa ser urgentemente pensada: a responsabilidade social e ecológica dos nossos comportamentos de consumo.
É verdade que, nos últimos anos, a busca e oferta de produtos sustentáveis cresceu no Brasil, mas ainda estamos longe do ideal. Nosso mercado de beleza gigante – é o quarto maior do mundo – pouco se atém, por exemplo, às embalagens.
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Não é uma exclusividade nacional, claro. Segundo a campanha global Zero Waste Week, que é focada na redução de desperdício, a indústria de cosméticos produz 120 bilhões de recipientes por ano – e a grande maioria acaba em aterros, lixões e nos nossos mares.
Menos plásticos e mais material reciclado resulta em menor uso de água e produção de carbono. Nesse caminho, uma possibilidade muito utilizada em países da Europa e nos Estados Unidos é a venda de refil. Desodorante, hidratante, xampu, condicionador e até creme para o rosto – mais caros e com ingredientes selecionados – podem ser encontrados em sachês de material reciclado.
Segundo o LCA Center, que estuda impacto ambiental de embalagens, o uso de refis reduziria em 70% a produção de carbono, economizaria 65% da energia e 45% da água utilizados em processos de fabricação dos potes, tampas e caixas.
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Por aqui, há algumas iniciativas que devem ser reconhecidas. Nos anos 1980, a Natura foi a primeira a oferecer o refil para certos produtos. Segundo levantamentos da empresa, isso gera uma diminuição da produção de lixo equivalente ao gerado diariamente por 5,5 milhões de pessoas. Os refis dos hidratantes corporais de Tododia levam 86% menos plástico do que a versão regular, por exemplo.
“Atualmente, 30% do nosso portfólio possui refil e, ao optar por eles, você evita o descarte de, aproximadamente, 3 mil toneladas de resíduos”, afirma a diretora global de sustentabilidade, Denise Hills. Aos poucos, a marca testou oferecer refil também em setores sem tradição no formato, como a perfumaria.
Os números mostram que os consumidores não só aceitaram a proposta como também estão cada vez mais exigentes com embalagens. Em 2020, cerca de 18% do faturamento da Natura foi obtido com produtos com embalagens ecoeficientes. A marca adotou também um modelo usado por outras que é o de logística reversa. Ao devolver certo número de recipientes vazios, o consumidor recebe um novo produto. O objetivo é incentivar o descarte correto, a reciclagem e a economia circular.
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Apesar de parecer óbvia a importância e o impacto do refil para assegurar o futuro saudável do planeta, exige comprometimento das marcas porque, muitas vezes, o custo é maior do que o da embalagem convencional.
A cofundadora da Care Natural Beauty, Patrícia Camargo, ressalta que é necessário que o fator ambiental esteja na espinha dorsal da empresa e permeie todas as decisões, superando números nas planilhas. A Care levou dez meses para desenvolver seu refil e a escolha do material foi o alumínio, que tem ciclo infinito de reciclagem, baixo consumo de água para sua produção e mínimos impactos ao meio ambiente.
“Foram muitos desafios no início. Não só o desenvolvimento técnico, mas a falta de familiaridade do brasileiro com o refil”, conta. A insistência deu certo. Após seis meses do lançamento, as mudanças nos hábitos dos consumidores eram óbvias e 30% deles já estavam fidelizados aos refis.
“Como marca, ganhamos muito ao cumprir nossa missão de promover atitudes e práticas mais sustentáveis”, aponta. Mais um passo nesse caminho foi dado com a criação do programa de assinatura disponibilizado no site da empresa. Ao comprar o produto, o cliente recebe o refil em casa após três meses e com um valor reduzido.
Apesar dos começos difíceis para as marcas, estudos mostram que o ganho financeiro chega a longo prazo. Uma pesquisa da Fundação Ellen MacArthur concluiu que repensar apenas 20% das embalagens de plástico usadas hoje pode representar uma oportunidade de negócio de 10 bilhões de dólares – sustentabilidade, ao contrário do que muitos pensam, também pode gerar muito lucro.
O caminho para escolhas que levem em consideração também o meio ambiente precisa ser encurtado. Não dá tempo de esperar a empresa se posicionar, então é melhor usar seu poder de consumidora para escolher e exigir ofertas ecoeficientes. Até o skincare da noite vai ficar mais gostoso com isso.