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Mulheres contam o que fizeram para descomplicar suas vidas

Uma casa no campo? Gastar menos tempo na internet e mais com os filhos? Há muitas maneiras, e todas passam por alcançar satisfação pessoal

Por Liliane Prata
Atualizado em 27 out 2016, 23h09 - Publicado em 19 abr 2016, 15h16

Para você, o que parece mais simples: uma enorme casa no campo, com terra para arar e vacas para alimentar, ou um apartamento compacto e funcional em uma grande metrópole? No que se refere ao conceito de simplicidade, como em quase tudo na vida, vale a máxima “cada cabeça, um sentença”. Para muitos, não há nada mais insuportável do que o trânsito na volta do trabalho; para outros, nada tira mais o sono do que o coaxar dos sapos.

“Além de variar de acordo com o indivíduo, o significado de simplicidade é diferente para cada sociedade e época”, explica a terapeuta Dulce Critelli, professora de filosofia da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. A despeito das diversas interpretações, no entanto, prevalece o consenso de que uma vida mais tranquila passa por relações mais profundas com familiares e amigos e tempo para nos dedicarmos ao que faz sentido para nós (ainda que isso signifique, por exemplo, fazer rapel em arranha-céus).

“Tornar a vida mais simples, no final das contas, é libertar-se daquilo que aprisiona. É focar nas suas necessidades, e não em desejos fabricados por outras pessoas ou pela sociedade. É decidir por uma vida que tenha a sua cara”, ensina Dulce. A seguir, conheça histórias de mulheres que foram, cada uma à sua maneira, em busca da simplicidade – decisão corajosa que compreende, em última instância, procurar a própria felicidade:
 
Adeus à cidade grande
 
Roziane Duarte, 28 anos, trabalhava em uma agência de publicidade em Belo Horizonte e se sentia oprimida pelo ritmo intenso do dia a dia. “O trânsito e o excesso de tarefas me causavam crises de pânico”, conta. Por essa época, fantasiava uma vida tranquila, como a de sua avó, moradora de um sítio na zona rural de Curvelo, localizada a 120 quilômetros da capital. Nas primeiras vezes em que lançou a ideia para o marido, ouviu negativas peremptórias.

Em fevereiro de 2015, no entanto, voltou a introduzir o assunto nos jantares a dois – sua avó havia morrido meses antes e o sítio estava abandonado. Depois de muita conversa, conseguiu convencer o parceiro a embarcar em uma autêntica aventura rural. Hoje, consomem os legumes, frutas e hortaliças que eles mesmos plantam. Tomam leite da vaca de estimação e comem os ovos das galinhas com quem dividem o endereço. Aposentaram o celular, já que não há sinal no sítio, e se conectam à internet por meio das ondas de rádio de uma torre nas imediações.

Para pagar as contas, muito menores do que nos tempos de BH, dá aulas particulares de matemática e vende requeijão e geleia que ela própria produz. Regiane Stefanelli, 30 anos, tomou decisão parecida com a de Roziane. Há dois anos, trocou São Paulo, onde atuava como revisora e preparadora de textos, pela pequena Mococa, no interior paulista – a natureza de seu ofício permite o trabalho remoto. “Sinto falta da efervescência cultural da metrópole. Em compensação, tenho muito mais tempo para curtir a vida”, afirma.
 
Sobre duas rodas
 
Todo dia ela fazia tudo sempre igual: entrava no carro e passava 45 minutos no trânsito de São Paulo, com o filho no banco de trás, a caminho da escola. Na volta para casa, o mesmo tempo era desperdiçado entre buzinas e fumaça – sem contar os minutos preciosos que levava até o trabalho. “Estava estressada e cansada de gastar com o carro”, conta Gabriela Voulo, 34 anos, doula e consultora socioambiental.

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Há sete anos, um presente mudou sua vida: herdou a bicicleta de um amigo que estava deixando São Paulo. A moça, que não pedalava desde a infância, gostou tanto da experiência que resolveu comprar outra bike, novinha. Foi o incentivo de que precisava para inaugurar um novo estilo de vida, menos burocrático: transferiu o filho para uma escola próxima de casa, vendeu o carro e passou a cruzar a cidade sobre duas rodas. O novo costume foi absorvido pelo pequeno, que, agora aos 10 anos, sobe na patinete para se deslocar pela vizinhança. “Tudo ficou mais descomplicado e desenvolvemos outra relação com o espaço. Encontramos pessoas na rua, conversamos com os vizinhos.

Além disso, saber que consigo percorrer aquelas distâncias e subir aquelas ladeiras me dá autonomia e liberdade e me faz sentir mais empoderada”, diz ela. Também em São Paulo, a professora Bianca Santana, 32 anos, trocou o carro por transporte mais sustentável. Sua primeira opção: os próprios pés. Quando a distância assusta ou o tempo é curto, toma um ônibus ou metrô. “O que mais amo na vida sem carro é sentir o cheiro de gardênia ou jasmim. E saber que há tantas árvores frutíferas em São Paulo. E eu não sabia!”
 
Cachos ao vento
 
Para Kalu Brum, 36 anos, doula e fotógrafa paulistana que mora em Nova Lima (MG), a cabeleira volumosa e cacheada era constante fonte de insatisfação. “Minha mãe sempre usava palavras como ‘rebelde’ e ‘desgrenhado’ para se referir aos meus cachos. Meu pai tem o cabelo bem liso, e eu ouvia de todos que era azarada por ter puxado à minha mãe. Resultado: aos 10 anos, fiz minha primeira escova progressiva”, conta ela.

Na adolescência, Kalu alisava os fios de 15 em 15 dias. “Eu me olhava no espelho e não podia ver nenhuma mecha ondulando que já ia para o salão. Se tinha alguma festa, programava como meu cabelo estaria no dia. Era uma escravidão”, relata. Quando engravidou, precisou deixar os procedimentos químicos de lado. Os fios foram crescendo, volumosos. Em dado momento, quando os cachos já atingiam toda a extensão dos cabelos até a altura das orelhas, deu-se conta de como suas madeixas, ao natural, eram bonitas.

Uma cabeleireira sugeriu que Kalu cortasse a parte remanescente do alisamento e adotasse o chamado no poo – método que consiste em lavar os cabelos com bicarbonato de sódio diluído ou condicionador no lugar dos xampus tradicionais. O objetivo era remover os produtos pesados dos fios e resgatar a textura natural. Há um ano, ela parou de tingir os fios brancos. “Ganhei um tempo e uma leveza que são até difíceis de mensurar. Foi um processo de autoaceitação em que eu perdi o medo da chuva, da maresia, do vento. Deixo meu cabelo secar naturalmente, do jeito que ele é, e não penso mais nisso. Tem festa? Lavo e vou!”
 
(Des)Conectar
 
Já era automático: quando chegava do trabalho, a médica Luiza Rodrigues, 35 anos, de Belo Horizonte, entrava no Facebook. O que era para ser uma simples conferida na timeline transformava-se em uma tarefa árdua, para a qual dedicava tantas horas que mal podia contá-las. Às vezes, o relógio marcava 1 hora da manhã e Luiza continuava ali, de olhos fixos na tela do computador, navegando de um link para outro. “Não fazia nada além disso: não descansava, não lia um livro, não curtia minha família”, lembra.

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Muitas vezes, a médica tentou exercitar o autocontrole. Ao ver que não conseguia ser bem-sucedida, tomou uma decisão radical: cancelou sua inscrição em todas as redes sociais, à exceção do WhatsApp – que, por precaução, mantém no modo silencioso. A desconexão trouxe muitos ganhos para ela: hoje, dedica mais tempo ao convívio com filhos e marido e, quando quer saber notícias dos amigos, dá um punhado de telefonemas. “Sinto que minha vida ficou mais real”, comenta.

É a mesma sensação de Carolina Hedro, 30 anos, comerciante de Campinas (SP), que há um ano saiu do Facebook e do Instagram. “Tudo melhorou. Sem nos dar conta, acabamos perdendo tempo por pura carência e exibicionismo. Não tenho mais essa necessidade”, diz.
 
A liberdade do desapego
 
Nos fins de semana, a blogueira e editora de vídeo Sílvia Ballan, 43 anos, costumava visitar os shopping centers de São Paulo, cidade onde mora. Eram horas e mais horas dedicadas a apreciar vitrines, e reais e mais reais torrados com bolsas, vestidos e itens de decoração. Em 2012, Sílvia enfrentou uma dessas crises que transformam nossa existência de quando em vez.

Ela sentia necessidade de transformações – tinha acabado de se separar do marido e colocava em xeque hábitos havia muito tempo arraigados. Por que possuía aquela quantidade de roupas, acessórios e sapatos? Para que comprava tantos produtos que, depois, ficavam armazenados no fundo de um armário ou encostados em um canto da casa? “Foi então que decidi simplificar. A partir daquele instante, não dependeria mais de um carro. Fiz uma limpa nos armários e cheguei a dar quase um caminhão de coisas que não usava. Tinha duas mantas e, como pensei que só precisava de uma, dei a outra”, lembra.

Nesse processo de autoavaliação, Sílvia resolveu deixar de comer produtos industrializados e passou a comprar em feiras livres em vez de ir ao supermercado. “Hoje em dia, não me preocupo tanto com a aparência. Se saio com uma roupa simples, vejo que, às vezes, dependendo do lugar, sou olhada de cima a baixo. Mas consegui ignorar esse olhar. Simplicidade, para mim, é ter pouca coisa para chamar de minha. É isso que tento passar para as minhas filhas e é assim que me sinto livre.”

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