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Três brasileiras que lutam pela preservação do meio ambiente no Brasil

Engajadas, estas três brasileiras fazem um levantamento do impacto das tragédias do ano e sugerem mudanças urgentes

Por Isabella D'Ercole Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 31 dez 2019, 09h15 - Publicado em 31 dez 2019, 08h15

Elas não usam capa, mas são super-heroínas que lutam pela preservação do meio ambiente no Brasil. Engajadas, estas três brasileiras fazem um levantamento do impacto das tragédias do ano e sugerem mudanças urgentes – até rever hábitos diários pode ajudar.

A ambientalista Marcia Hirota é diretora executiva da Fundação SOS Mata Atlântica (Nino Andrés/CLAUDIA)

Um sonho todo azul

Hoje, andando por Campo Grande, é possível avistar araras-azuis atravessando o céu da capital. Não é resultado de um delírio, mas do trabalho da bióloga Neiva Guedes. Em 1989, aos 27 anos, ela caminhava pelo Pantanal durante uma prática de campo quando se deparou com um bando dessas aves. O enorme encantamento só foi arrebatado pela informação de que os bichos estavam ameaçados de extinção.

A bióloga Neiva Guedes estuda araras-azuis há mais de 30 anos. Sua área de pesquisa sofreu com os incêndios florestais este ano (Divulgação/Getty Images)

Decidiu criar o Projeto Arara Azul (@institutoararaazuloficial), que estuda a espécie e o ambiente em que elas vivem. Neiva acompanha a reprodução, a busca por alimentos e abrigo. Com base nos dados reunidos ao longo dos anos, desenvolveu um ninho artificial, ampliando consideravelmente a população dos bichos – e assim eles ultrapassaram as fronteiras das fazendas e podem ser vistos na cidade.

Foi um baque, portanto, quando, em setembro deste ano, um incêndio de grandes proporções atingiu a região em que a bióloga atua com sua equipe. Segundo levantamento do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, as queimadas desse mês ano foram 267% maiores do que as de setembro de 2018. Para Neiva, fogo dessa dimensão não acontecia há mais de 15 anos.

“Uma arara demora sete, oito anos para se reproduzir. Uma árvore leva 60, 80 anos para virar um ninho, e ele será usado por mais de 20 anos por um casal. Os cachos das palmeiras, que servem de alimento para as aves, demoram um ano para se formar. Encontrar tudo isso no chão, carbonizado, é muito duro. Claro que passo noites sem dormir ou fico catatônica, parecendo um zumbi. Mas, então, vejo o esforço de voluntários, pessoas encarando o fogo porque cresceram ali, entendem a importância daquilo, e isso me dá forças para retomar com energia total”, conta a sul-mato-grossense.

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(Divulgação/CLAUDIA)

O fogo atingiu 33% dos ninhos, mas são os efeitos indiretos, após o fim das chamas, que fazem os impactos perdurarem. Faltam árvores para se abrigar, comida, desregulando o delicado equilíbrio do bioma. Neiva acredita que as queimadas sejam acidentais, provocadas pelo homem, e não naturais. “Até o governo mandar brigadas e aviões, passaram-se 15 dias com o fogo lambendo tudo. Mas vimos os fazendeiros e os funcionários lutando contra o fogo como se a vida deles dependesse daquilo. E, no final das contas, depende mesmo. É o lugar em que eles vivem”, constata Neiva. De janeiro a início de novembro, foram mais de 8 mil focos no Pantanal. Mas Neiva espera que esse episódio de setembro tenha servido de lição, pois, nos incêndios que surgiram nos meses seguintes, a reação das instituições oficiais foi mais rápida.

O Projeto Arara Azul investe grande energia em conscientização da população local. Organizam conversas com crianças e professores, já fizeram divulgação de informações pelo rádio, sensibilizam sobre a situação do animal, que ainda está em extinção. “Tem que ser um trabalho conjunto da sociedade com o governo e as ONGs. É responsabilidade de todos. É a fumaça que escurece o céu, a água que falta. Não que eu seja contra ar-condicionado ou andar de carro, mas precisamos abrir mão de algumas pequenas coisas pelo bem coletivo”, alerta Neiva. “Quando eu corto a árvore do quintal ou não separo meu lixo, também estou afetando o meio ambiente. Mas percebo que as gerações mais novas têm essa consciência mais aguçada e fico feliz.”

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(Divulgação/CLAUDIA)

Além do tráfico de animais, do desmatamento, dos incêndios e das mudanças climáticas, a bióloga ressalta mais uma ameaça que coloca em perigo o Pantanal e a rica biodiversidade dali – o plantio de cana. Em novembro, o governo revogou o decreto que impedia a expansão do cultivo em áreas como o Pantanal e a Amazônia.

Pulmões do mundo

Os oceanos são os verdadeiros pulmões do mundo. Eles absorvem cerca de 30% das emissões antrópicas de gás carbônico do mundo”, afirma a bióloga Leandra Golçalves, pesquisadora do Instituto Oceanográfico da Universidade de São Paulo. Apesar da enorme importância dos mares – não só pela questão mencionada acima, mas pela biodiversidade –, a última estatística pesqueira brasileira é de 2000.

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Há 19 anos, dados sobre a nossa costa, uma das maiores do mundo, não são atualizados. “Não sabemos a quantidade de peixe debaixo d’água para instruir o consumidor nem temos informação para propor de maneira assertiva medidas de preservação”, conta a paulista, que faz parte da Coalizão Ciência e Sociedade (@coalizaocs), criada para promover a interação entre ciência e a construção de políticas públicas no país.

Há algumas semanas, a pesquisadora, que trabalhou por muitos anos no terceiro setor, vê-se dividida entre momentos de agonia e encorajamento. O primeiro sentimento surgiu, principalmente, após o vazamento de óleo que atingiu o Nordeste e já chegou até o Rio de Janeiro. “Há impacto nos manguezais, nos recifes de corais, contaminação de peixes e mariscos, que depois podem ser consumidos… Para estudar as consequências disso, precisaríamos de uma equipe multidisciplinar, com profissionais da saúde pública, biólogos, ecólogos, bioquímicos, médicos. O que dá para afirmar desde já é que os efeitos serão sentidos por muitas décadas”, explica.

(Foto: Bárbara Veiga/CLAUDIA)

Já o incentivo para seguir adiante vem das demonstrações de apreço da população, que não mediu esforços na tentativa de salvar o oceano. As imagens de voluntários que arriscaram a saúde para limpar, com as mãos, as praias atingidas pelo óleo tomaram jornais, TVs e a internet. “O governo demorou muito para agir. O presidente só fez um pronunciamento após 45 dias. Falta coordenação do setor público, como acionar o Plano Nacional de Contigência.” Esse recurso é adotado em acidentes de grandes proporções, em que a ação individualizada de agentes não é suficiente.

Mesmo triste, ela não pode dizer que está surpresa com a situação. “Nosso desenvolvimento sempre aconteceu de costas para o oceano. Só que, hoje, 19% do PIB brasileiro vem do petróleo, que é explorado no mar. Dependemos dele, mas não criamos políticas públicas para acompanhar essa mudança. Temos uma para óleo e gás, outra para pesca, uma para áreas protegidas, mas falta uma política de Estado para o mar brasileiro”, explica.

A bióloga recomenda que o brasileiro passe a cobrar essas atuações nas urnas, buscando candidatos que priorizem projetos no setor ambiental. Ela já adianta uma questão para ficar de olho: “A poluição marinha é urgente! O Brasil tem apenas 30% de seu esgoto tratado nas regiões costeiras; então temos muitas praias impróprias”.

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(Foto: Nino Andrés/CLAUDIA)

Leandra sempre foi fascinada pelo mar. Olhava para aquela imensidão e pensava nos mistérios guardados ali, prontos para ser descobertos. Foi estudar e, já formada, entrou num barquinho pequeno para observar baleias. De repente, viu aquele bicho imenso furar a água, acompanhado de um filhote. “Emoção maior para uma bióloga não há”, recorda. Depois, foi para a Antártica numa expedição contra a caça às baleias.

O projeto juntou 37 ambientalistas por quatro meses. Ali ela entendeu a importância do coletivo nessa missão. Com isso em mente, tornou-se cofundadora da Liga Mulheres pelos Oceanos (@ligadasmulherespelosoceanos), que reúne, além de biólogas, triatletas, velejadoras e mergulhadoras – todas querendo salvar a imensidão azul.

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