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Sou a Luciana, da novela das oito, da vida real

Mas, ao contrário da personagem da Alinne Moraes, nunca me revoltei, e só me tornei modelo depois do acidente que me deixou numa cadeira de rodas

Por Redação M de Mulher
Atualizado em 21 jan 2020, 05h40 - Publicado em 20 out 2009, 21h00

Se tem uma coisa que não sou é coitada. Espero que a Luciana da novela não seja frustrada
Foto: arquivo pessoal

Eu tremia de nervosismo. Estava prestes a estrear como modelo numa passarela. O desfile era um trabalho de conclusão de curso de uma amiga que estudava moda. Ela fez uma apresentação de inclusão social, com negros e deficientes físicos. Fui a última a entrar, e me aplaudiram de pé. Percebi que levava jeito pra coisa. Ali, há quatro anos, escolhi minha profissão.

Hoje, sou agenciada e recebo uma média de oito convites por mês para desfilar. O cachê varia entre R$ 50 a R$ 100. Sei que é menos do que se paga a modelos profissionais, mas o mercado está cada vez mais acessível pra gente como eu. E, com a repercussão da Luciana, personagem da Alinne Moraes na novela Viver a Vida, essa abertura deve crescer ainda mais.

Perdi meu pai no acidente

Não sei que destino o autor Manoel Carlos reserva para a Luciana, mas espero que ela fique numa cadeira de rodas até o último capítulo. Será muito bom mostrar que a paraplégica pode, sim, ter uma vida bacana, apesar da deficiência.

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Assim como a personagem da novela, perdi os movimentos em um acidente de carro. Foi na manhã de 13 de janeiro de 1991, um domingo. Eu tinha 9 anos e voltava das férias na casa da minha tia, em Belo Horizonte, com meus pais e meu irmão. Um carro entrou na contramão da rodovia Fernão Dias e atingiu de frente o nosso veículo. A batida pegou o lado onde estava o meu pai. Ele morreu na hora.

Eu estava no banco de trás, logo atrás dele. Desmaiei. Meu caso era grave e fui encaminhada pra São Paulo de helicóptero. Minha coluna havia se partido em dois pedaços. Acordei do coma dez dias depois, no hospital. Minha mãe disse que meu pai estava hospitalizado em Belo Horizonte. Só soube que ele havia morrido quando saí do hospital, após dois meses. Meu padrinho me contou.

A minha ficha caiu um ano depois

Senti muita dor na primeira vez em que sentei numa cadeira de rodas. Colocaram ferros para juntar a minha coluna novamente, e a cicatriz da operação ainda não tinha fechado. Apesar de ser quase insuportável, eu resisti à dor. Eu tinha a esperança, alimentada pelos médicos, de que aquela cadeira fosse uma condição temporária, que logo andaria novamente por aí com minha família.

Fiz fisioterapia no hospital durante um ano, mas meu corpo não respondia aos exercícios. Um dia, uma terapeuta recém-contratada veio conversar comigo. Ela perguntou qual era a causa da minha paralisia. Respondi que havia quebrado a coluna ao meio. Ela fez uma cara de surpresa e disse que, em casos como o meu, a volta dos movimentos era praticamente impossível. Outro fisioterapeuta que estava próximo reprimiu a novata, mas a minha ficha já tinha caído. Eu ficaria para sempre em uma cadeira de rodas.

Bola pra frente

Ouvi falar que, na novela, a Luciana vai descontar na mãe a frustração de estar imobilizada. Eu nunca fiz isso. A morte do meu pai uniu a minha família em torno da minha recuperação, e sempre tive muito apoio da minha mãe, do meu irmão e de colegas.

No ano do acidente, eu começaria a 4a série. Por causa da fisioterapia, meu professor mandava a lição para eu fazer em casa. No ano seguinte, voltei à escola. O problema era subir as escadas até a sala. Meus colegas carregavam minha cadeira até o primeiro andar. Eu levava isso numa boa e até fiz muitas amizades. Uma delas é o Rodrigo, meu melhor amigo até hoje.

Sempre fui da filosofia do bola pra frente. Se tem uma coisa que não sou é coitada. Pelo contrário, sei que sou bonita e gosto de me produzir. Gasto todos os dias no mínimo meia hora pra me arrumar. Passo batom, blush e rímel sempre! Se a ocasião pede, faço uma escova no cabelo, e não dispenso creme nas mãos, porque também sou modelo de mãos. Espero que a Luciana da novela não deixe de se cuidar por conta do acidente nem seja uma pessoa frustrada.

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Eu só toparia um namoro sério

Moro com meu namorado Jonathan há 11 anos. Nos conhecemos no Réveillon de 1998, no sítio da minha tia, em Minas Gerais. Ele era amigo do meu primo. Na virada, vi que ele me olhava de um jeito diferente, mas não dei bola, tadinho. No dia seguinte, ele me chamou para conversar. Avisei logo que não queria nada à toa e que, se fosse para ficarmos junto, tínhamos que namorar. Depois disso ele foi pedir aos meus tios para namorar comigo!

O Jonathan veio morar comigo e, seis anos depois, engravidei do Enzo. Os primeiros meses de gravidez foram muito tranquilos, sem enjoos nem complicações. No sexto mês, tive contrações fortes. Fui ao médico e ele disse que a cabeça do meu filho já estava saindo. Não havia espaço para ele crescer mais dentro de mim, por conta da cadeira de rodas. Graças a isso, engordei apenas três quilos durante toda a gravidez!

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Meu filho nasceu de parto normal

O médico perguntou se eu daria conta de um parto normal. Disse que sim, e o Enzo nasceu saudável, com 1,6 kg e 39 cm.

Hoje meu filho tem 5 anos. Eu o levo pra escola de carro, em um veículo adaptado, sem embreagem e com freio e acelerador especiais. Meu dia a dia é dividido entre o Enzo, os cuidados da casa, onde moro com ele, o Jonathan e minha mãe, e meus compromissos profissionais. Lá em casa, adoro cozinhar para minha família, passo as roupas do Enzo e preparo a mochila para a escola.

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Nos fins de semana passeio com eles na praia ou shopping. Quando preciso, peço ajuda para vencer barreiras, como meios-fios. Sou a prova de que um deficiente físico não é uma pessoa limitada e que, se quiser, pode ter uma vida bastante movimentada, sim!

A modelo paraplégica da novela

Sou a Luciana, da novela das oito, da vida real
Foto: Rafael França/Divulgação TV Globo

Na novela Viver a Vida, da Globo, a personagem Luciana, de Alinne Moraes, sofrerá um acidente de carro em viagem de trabalho à Jordânia e ficará paraplégica. Novelas do autor Manoel Carlos costumam trazer à tona questões sociais. Desta vez, as dificuldades do cotidiano de um cadeirante serão exploradas ao longo da trama.

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