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Não se separe se…

Para nossa editora Liliane Prata, melhor ficar bem longe do divórcio se alguns fatores não estiverem (mais ou menos) bem-resolvidos

Por Liliane Prata Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 12 nov 2016, 08h51 - Publicado em 11 nov 2016, 21h18
Cena do filme "Entre o Amor e a Paixão" (Divulgação/)
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Me separei há poucos meses – contando (bem) resumidamente: sempre nos demos bem, mas sempre fomos muito diferentes um do outro e, com o tempo, essas diferenças acabaram pesando para os dois. Bom: desde então, várias pessoas à minha volta confessaram para mim sua vontade de se separar. Explicaram que estavam cansadas, que queriam outra vida, que sentiam que aquela não tinha mais sentido. Em comum, todas estavam com medo (claro) (quem não tem medo de começar ou terminar uma relação amorosa? Quando se tem filhos, então…). Uma amiga me pede uma espécie de balanço quinzenal das minhas emoções e rotina para ver se toma coragem. Para ela e para os outros, resisto a dizer um “Pula logo aqui na piscina, vai, depois de um tempo você se acostuma!”. Pelo contrário. Salvo aqueles casos em que o desejo de se separar é motivado por algo muito claro, a decisão de se divorciar nunca é simples. Pensando bem, existe esse algo muito claro? Só numa espécie de penumbra é possível enxergar os relacionamentos longos… Enfim, entendo todo mundo que já percebeu que não dá mais, mas que mesmo assim só enrola para terminar. A mudança de fase requer uma espécie de ânimo todo próprio. Então, apesar de estar bem na minha nova vida, é mais ou menos isso que tenho aconselhado para meus amigos: que eles não se separem se…

… Não estiverem com esse ânimo que estou dizendo. Tudo no processo de se separar requer ânimo. Ânimo vem do latim animus, que significa alma. É preciso estar com a alma cheia de disposição para encarar as conversas derradeiras, os comunicados à família, as perguntas dos filhos, os papéis assinados, as expectativas, os contratos, as decisões quanto ao apartamento, a guarda, os bens, as surpresas dos outros, as lágrimas, as incertezas.

… Não aceitarem que elas, as incertezas, farão parte do processo. Nenhuma convicção é tão rígida, todas elas podem vir e voltar, e as convicções que envolvem as relações amorosas parecem ser ainda mais atordoadas que as outras. Pode ser que você queira muito se separar hoje, que você já não queira tanto amanhã, que você se pergunte inutilmente se não era melhor ter deixado tudo como estava, que você precise ficar se lembrando de que não queria deixar como estava… Houve uma turbulência interna na hora de decidir (houve uma turbulência interna na hora que a gente nasceu) e essa turbulência interna vai continuar ao menos por um tempo depois que cada um for para o seu canto (e até a gente morrer). Nessas horas, console-se com Nietzsche, frisando para si mesmo que convicções fortes são para os fracos, e siga mais ou menos bem, com as coisas mais ou menos em ordem, até perceber que ufa, você parou de se perguntar se vocês tomaram a decisão certa, ufa, o eletricista finalmente apareceu no apartamento novo, ufa, é sexta-feira e a noite está linda lá fora.

… Estiverem trocando o marido/mulher por outra pessoa. Você pode até estar com outra pessoa – não é o ideal, mas claro, pode acontecer, na verdade acontece milhões de vezes, está acontecendo com milhares de casais (trios) neste exato momento, então vamos evitar a via do moralismo. Mas não há garantias quando se separa, assim como não havia garantias quando você se casou. Para uma conhecida que é casada e está envolvida com outro cara, meu conselho (ela pediu, ok?) foi: tenta separar as coisas na sua cabeça, na medida do possível. E só se separe se estiver ciente da falta de garantias do relacionamento novo. Se estiver mais ou menos aberta para a possibilidade da solidão.

… Encararem o final do casamento como um fracasso retumbante e ficarem se culpando. Se você não acha que tem o direito de se separar, se você acredita que o divórcio é uma vergonha, que a separação faz de você uma pessoa pior e que o correto é permanecer junto até que a morte os separem, melhor ficar na terapia por um tempo, meditar, talvez pedir balanços quinzenais para as amigas recém-separadas, antes de se permitir sair do casamento e viver sua vida.

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… Acreditarem que pai e mãe casados são a opção “certa” para os filhos. Prefiro pensar que o fato de os pais serem casados não é necessariamente bom para os filhos e que, apesar do estresse inicial, o fato de serem separados não é necessariamente ruim. Prefiro pensar que, se as crianças não passarem por essa adversidade, dá mais ou menos no mesmo, porque passarão por outras ao longo da vida. Prefiro pensar que eu sou mãe, mas também sou outras coisas; que estamos em 2016, né, pessoal; que os pais dela vão continuar se relacionando com respeito; que o amor por elas é o que importa e esse amor segue firme; que, afinal de contas, pais mais ou menos bons da cabeça são melhores pais e, às vezes, a gente precisa se separar para continuar mais ou menos bom da cabeça.

Liliane Prata é editora de CLAUDIA e escreve semanalmente aqui no site. Para falar com ela, mande um e-mail para liliane.prata@abril.com.br

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