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Como impor limites na dependência criada com a empresa e o trabalho

Nossa colunista fala sobre a dependência criada com a empresa na qual se trabalha e como aprender a se desvencilhar dela quando é preciso seguir outro caminho.

Por Cynthia de Almeida
Atualizado em 31 out 2016, 11h31 - Publicado em 3 nov 2014, 22h00
Depois de anos trabalhando na mesma empresa, costumamos adotar o nome dela como um prolongamento do nosso. É como um casamento corporativo: passamos a nos chamar Fulana de Tal de Onde – como Cynthia de Almeida da Abril. O segundo sobrenome pode ser mais poderoso que o primeiro e significar mais do que uma referência ao lugar onde atuamos. Cola na nossa identidade e nos transforma em um personagem por meio do qual nos relacionamos com os colegas internamente e nos apresentamos ao mundo lá fora.

Convivemos com nosso “duplo eu” de forma tão natural como penduramos no pescoço um crachá ou carregamos na bolsa um cartão de visitas. Mas, em algum momento, deixamos essa empresa (ou ela nos deixa). Não importa se fomos demitidas, aposentadas ou simplesmente decidimos seguir carreira-solo e reinventar nossa trajetória. Quando descolamos desse personagem, nos deparamos com nossa verdadeira identidade. Se a saída não foi só como trocar de marido e não se ganhou logo uma nova “certidão de casamento”, a estranheza de encarar o mundo no papel de si mesma, de lugar nenhum – ou de um lugar em construção, desenvolvido como empreendedora ou autônoma -, é, de fato, “um novo desafio!”, como dizem, repetindo o jargão corporativo, os comunicados internos de desligamento.

Conversei com algumas pessoas que passaram pela experiência, acompanho a história de muitas outras e vi que o descolamento do ser corporativo, mesmo quando é voluntário, pode se revelar complexo e doloroso. Uma colega comparou o processo às cinco fases do luto: negação, raiva, negociação, depressão e aceitação. Uma das profissionais que viveram a transição de executiva para empreendedora descreve quatro percalços comumente enfrentados nesse “divórcio”:

1. Ter de abrir mão do conjunto de facilidades que a estrutura de uma empresa oferece, como secretárias, equipamentos e proteção do RH.

2. A perda do endereço de trabalho e dos rituais familiares que a ida diária a um espaço determinado representa.

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3. A reconstrução da nossa relação com o tempo – se antes ele não nos pertencia, paradoxalmente isso nos livrava da angústia de termos de  administrá-lo sozinhas.

4. A separação dos colegas de trabalho, que, até então, eram mais presentes na nossa vida do que a família.

Principalmente para mulheres em postos executivos, a adaptação ao maravilhoso mundo fora dos aquários de vidro exige autoconhecimento, autoestima em dia e uma boa dose de coragem para encarar o novo. Sentirão falta do reconhecimento imediato, da bajulação e das portas que se abriam à simples menção do cargo. A mulher acusa mais o golpe pela mesmíssima razão que dificulta sua reestreia no mercado despida do sobrenome organizacional: menor habilidade (ou a ausência dela) para construir networking e uma imagem descolada da moldura de uma grande companhia.

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Quanto mais entendermos que nossa relação com qualquer organização é mais efêmera que a relação com nós mesmas, mais poderemos crescer com a empresa, em vez de só crescer na empresa. Sair da rede de proteção que uma corporação oferece significa perder, mas também ganhar em outras dimensões: mobilidade, independência, reapropriação do tempo e reencontro com os próprios valores e suas vontades. Integrantes da geração Y, mais leves e individualistas, são mais aptos a deixar claros os limites entre quem são e onde trabalham. Devemos aprender com eles: lidar com o divórcio corporativo pode ser tão difícil quanto libertador.

 

 

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