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ENTREVISTA: Maria Helena Válio, fundadora da Women Invest

Ela criou um grupo que soma hoje mais de 4 mil investidoras interessadas em saber mais sobre dinheiro

Por Paola Carvalho
14 out 2023, 10h23

A paulista Maria Helena Válio, 58 anos, tem quase 40 de experiência no mercado financeiro, com passagens por grandes bancos no Brasil, Estados Unidos e Reino Unido, como WestLB, Indosuez, Banco Matrix e ABN AMRO. Filha de professora de matemática que não a deixou seguir essa carreira, Lena optou pelo curso de Administração de Empresas na FGV. Ao longo de toda sua carreira, ganhou a confiança de clientes, principalmente das mulheres, despertando o interesse em entender e tomar as rédeas sobre as decisões financeiras, o que fez a executiva se tornar uma referência. 

Em 2019, ela criou o Women Invest, espaço em que conecta as interessadas em desenvolver seu conhecimento sobre investimentos com os diversos participantes do mercado financeiro. Passados quatro anos, a rede conta com mais de 4 mil associadas, que marcam presença em cursos, palestras, workshops e summits.

Mais de três quartos do grupo são mulheres com mais de 45 anos de idade, representando uma geração que conseguiu construir patrimônio e adquirir independência financeira, que quer aprender no dia a dia a cuidar cada vez melhor do seu dinheiro. Cuidar da saúde financeira é como cuidar da saúde física: se não tiver dedicação, terá problemas no futuro. Portanto, o nosso objetivo é capacitar mulheres para que se tornem protagonistas na gestão de seus investimentos”, afirma. 

Confira abaixo a entrevista com a Maria Helena Válio para a CLAUDIA

CLAUDIA: Como surgiu a ideia da Women Invest?
Maria Helena Válio: Como tenho muitos anos de experiência no mercado financeiro, além de ter trabalhado em importantes centros financeiros fora do Brasil, uma amiga recomendou meu nome num grupo onde algumas mulheres queriam aprender o básico do mundo dos investimentos. Resolvi montar algo um pouco mais estruturado e, depois de fazer uma relação dos temas muito importante para as mulheres aprenderem, entrei em contato com instituições financeiras para oferecer esta ponte entre elas e o mundo dos investimentos. Iniciamos com encontros nos escritórios de bancos e gestoras, onde profissionais falavam com nossas mulheres. Com o tempo, fui me tornando uma espécie de intérprete para essas mulheres que desejavam entender mais. Assim a Women Invest surgiu com o objetivo de ser uma plataforma de educação em investimentos exclusivamente voltada para mulheres. 

CLAUDIA: O que aconteceu nesse período?
De um grupo no Facebook com 30 mulheres, em 2019, nos tornamos uma comunidade com mais de 4 mil associadas. O grupo começou no formato de indicação e era necessário receber um convite para poder se tornar uma associada. No início, debatíamos exclusivamente sobre investimentos: o que é renda fixa, como avaliar um fundo de investimentos, o que são as letrinhas do mundo financeiro como CDB, IPCA, LCI, ações, participantes do mercado, sucessão, diferença entre plataforma, banco tradicional e digital, corretora etc. Quando começou a pandemia, passamos a fazer lives para nos manter conectadas e aprofundar nos temas, além de intensificarmos nossa comunicação nos grupos de Whatsapp. Criamos também um grupo onde compartilhamos dicas de temas que não fazem parte do mundo dos investimentos. No ano passado, para atingir mais mulheres, realizamos a primeira edição do Women Invest Summit, que reuniu cerca de 1,7 mil mulheres. Foi a partir daí que passamos a conversar com especialistas em outros temas de interesse da mulher. 

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CLAUDIA: Conta mais sobre o Women Invest Summit?
A segunda edição aconteceu no mês passado (setembro) e reuniu em torno de 2 mil mulheres. O Women Invest Summit é um congresso de educação em investimentos para mulheres, o maior evento do tipo no Brasil. Se tornou o grande ponto de encontro entre os principais atores do mercado financeiro e as mulheres que precisam conhecer o mundo dos investimentos. A programação deste ano foi construída para mulheres que precisam aprimorar seus conhecimentos sobre como cuidar do próprio patrimônio, não importa qual nível de conhecimento sobre o mercado ela tenha. Assim como no ano passado, buscamos sediar o evento em um espaço que pudesse comportar todas as convidadas e disponibilizar nossos palestrantes em conversas simultâneas, assim atendendo os interesses das presente, que puderam acompanhar workshops, rodas de conversa e palestras sobre empreendedorismo, longevidade, saúde, sucessão, investimentos no exterior, planejamento patrimonial, tomada de decisões, entre outros. Foram mais de 12 horas de conversas, no Palácio Tangará (SP), com a presença de quase 2 mil mulheres. Além disso, também contamos com a Arena de Investidores, espaço em que empresas do mercado financeiro puderam apresentar suas soluções e falar diretamente com a mulher investidora. 

CLAUDIA: Qual é a sua avaliação sobre a participação das mulheres hoje no total de investidores brasileiros?
Cada vez mais mulheres já se conscientizaram sobre a importância de investir, porém como ainda há muitas dúvidas, elas relegam as decisões sobre seus investimentos para outras pessoas. E isso pode ser um grande problema. Assim como no caso da saúde, precisamos cuidar diretamente também do nosso patrimônio. As mulheres da Women Invest não estão buscando entrar para o mercado financeiro e se tornar especialistas. Elas querem aprender sobre os principais conceitos e como isso irá afetar seus investimentos. 

CLAUDIA: Dados da B3 mostram que o número de mulheres na bolsa cresceu 10x no último ano, mas a participação se manteve em 25%. O que acontece?
A mulher tem um perfil de investimento diferente do homem. Nosso perfil é, na maioria dos casos, mais moderado, buscamos entender antes de tomar uma decisão. Além disso, nós buscamos mais que o retorno financeiro, desejamos ver um impacto positivo na sociedade e no meio ambiente e uma pesquisa do Bank of New York Mellon destacou isso, que a mulher investe pensando no legado. Essa mesma pesquisa aponta que se as mulheres investissem no mesmo ritmo que os homens, haveria cerca de US$ 3,2 bilhões a mais de capital para aportes globais. Desse valor, quase US$ 2 bilhões iriam para investimentos feitos de forma responsável. 

CLAUDIA: Quais são os tabus e outros entraves enfrentados pela mulher hoje quando o assunto é dinheiro?
Percebo que cada vez mais mulheres estão tomando as rédeas de seus investimentos, mas ainda há um longo caminho para que a porcentagem de investidoras aumente de verdade. Em muitos casos, a decisão ainda é tomada por homens próximos a elas dentro do conceito de que “eles entendem mais sobre o assunto”. Na medida em que elas aprendem mais sobre isto, tornam-se mais autoconfiantes. Mas também há aquelas que somente percebem a necessidade de cuidar do patrimônio quando alguma fatalidade acontece, como um divórcio ou a morte do companheiro. Por isso é importante que a mulher acompanhe as finanças da família e participe das tomadas de decisões. Eu gosto de fazer um paralelo com a nossa juventude, quando ainda morávamos com nossos pais. Quem nunca ouviu a frase “quando você tiver a sua casa você passa a mandar”? Nos investimentos é a mesma coisa, se você não cuida do seu patrimônio, alguém irá cuidar por você e aí terá que seguir as regras estabelecidas por outra pessoa. 

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CLAUDIA: A realidade brasileira tem alguma peculiaridade?
Claro que toda sociedade tem suas particularidades, mas conversando com conhecidas em outros países que atuam em áreas parecidas a minha, encontramos mais similaridades do que diferenças. 

CLAUDIA: Como a desigualdade de classe, raça e gênero atravessa essa questão?
Acredito que devemos olhar ao contrário: como a educação em investimentos para mulheres afeta a questão de classe, raça e gênero? Independência, sobretudo a financeira, é um caminho seguro para a inclusão social, racial e de gênero. Em relação à primeira, o papel da educação financeira e em investimentos é mais direto: aprender a potencializar e administrar suas finanças tem uma consequência direta na criação de riqueza e de patrimônio, de modo a elevar condições sociais. Quanto à raça, marginalizações perpetuam-se pela exclusão financeira de pessoas negras. Ao ensiná-las a administrar suas finanças e, eventualmente, administrar seus investimentos para também potencializar a criação de riqueza, esta exclusão perde força. E, finalmente, gênero: estamos dando poder e independência para mulheres de todas as áreas terem as rédeas de suas finanças e tomarem as decisões de maneira independente e pautada em conhecimento técnico, sem dependência de terceiros. 

CLAUDIA: Quais são os próximos passos da Women Invest?
Mais uma vez o nosso congresso nos içou para um patamar ainda mais alto. Estamos “digerindo” o impacto deste congresso na nossa estrutura, mas sabemos que as instituições financeiras estão mais e mais interessadas em nos apoiar nesta missão.

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