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A mãe que sequestrou um avião para salvar seus dois filhos na ditadura

Regime militar completa 60 anos neste domingo; conheça a história da mulher que mudava o local em que dormia com os filhos todos os dias para se proteger

Por Lorraine Moreira
30 mar 2024, 15h00

Era 1970, quando a brasileira Marília Guimarães chegou ao Aeroporto Internacional de Carrasco, em Montevidéu, com uma clara missão: sequestrar o avião Caravelle, rumo ao Rio de Janeiro, para fugir da Ditadura Civil Militar (1964-1985) junto de seus filhos.

A professora levava fraldas, mamadeiras e brinquedos para os pequenos Marcelo e Eduardo, então com 3 e 2 anos, respectivamente. Mas não só: escondia seis revólveres por baixo do vestido.

Militante da Vanguarda Popular Revolucionária (VPR), Marília estava na clandestinidade há um ano. Ela precisava mudar o local em que dormia todos os dias com as crianças para não ser capturada pelos militares.

Acontece que a professora era dona de uma escola em que aconteciam reuniões clandestinas da VPR e fazia cópias de panfletos políticos. Quando o mimeógrafo foi levado para a casa de um companheiro, porém, os militares o prenderam.

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Pouco tempo depois, eles descobriram o envolvimento de Marília. Ela foi presa por apenas 72 horas, mas corria o risco de voltar à prisão a qualquer momento. 

Foi então que o plano de sequestrar o avião surgiu. Numa equipe de seis guerrilheiros, concordou em levar a aeronave para Cuba, lugar em que ela e seus filhos poderiam viver livremente, sem a ameaça de morte ou tortura.

Antes do sequestro, eles se reuniram em Porto Alegre e foram de carro até o Uruguai, onde ajustaram os últimos detalhes do plano. 

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Não havia detector de metais no terminal de Montevidéu na época, o que possibilitou o embarque dela e dos militantes Cláudio Galeno de Magalhães Linhares, James Allen da Luz, Athos Magno Costa e Silva, Isolde Sommer e Luiz Alberto da Silva.

No avião, ela distribuiu as armas aos companheiros, que anunciaram o sequestro assim que o voo começou. James era o comandante, portanto o responsável por dizer o local para onde iriam e ler um manifesto político explicando suas motivações.

O problema é que a turbina da aeronave estava defeituosa e o veículo possuía autonomia de combustível para apenas duas horas de voo, o que forçou um pouso em Buenos Aires, na Argentina, para o reabastecimento e acabou chamando atenção da imprensa internacional, que informou o sequestro.

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A notícia de que havia uma guerrilheira com duas crianças se espalhou rapidamente, e foi o que salvou suas vidas. O avião parou novamente no Chile para fazer seu segundo reabastecimento. Salvador Allende governava o país, o que foi favorável aos militantes.

Em Lima, no Peru, o cenário foi bastante diferente. O avião foi cercado por militares peruanos. O presidente esperava negociar a rendição, autorizando o reabastecimento, mas ofereceram asilo político à professora e seus filhos em troca dos reféns serem liberados.

O avião também estava com problemas técnicos, precisando de baterias novas, que foram enviadas do Chile depois de negociações.

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No Panamá, um coronel brasileiro tentou convencer um tripulante que havia descido para abastecer a nave de atirar em algum dos guerrilheiros. O caos possibilitaria invadir a aeronave. O tripulante, entretanto, não aceitou.

Os problemas da turbina direita exigiram novas baterias e um lubrificante para turbinas, e este estava em falta no país. Após algumas horas, conseguiram partir para Havana. O avião quase sofreu uma pane, mas acabou por pousar em segurança.

Marília viveu 10 anos em Cuba com os filhos, voltando ao Brasil em 1980, depois da Lei de Anistia

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A história completa de Marília Guimarães está no livro Habitando o tempo. Clandestinidade, sequestro e exílio.

Habitando o Tempo. Clandestinidade, Sequestro e Exílio

Habitando o Tempo. Clandestinidade, Sequestro e Exílio

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