Síndrome do Fim do Ano: o que é e por que a ansiedade aumenta
Conversamos com especialistas para compreender as emoções esquisitas que podem tomar conta de nós na época das festas
O fim do ano chegou e, com ele, as expectativas de planos, reuniões de família e aquele clima de pessoas alegres celebrando a vida. Mas, após dois anos de pandemia, o período pode ter um gosto diferente para centenas de milhares de pessoas. A Covid-19 já matou mais de 615 mil pessoas no Brasil e a morte se aproximou de nós de alguma forma.
Se a época parece feliz para uns, para outros o sentimento é de tristeza, melancolia e frustração, levando até a casos de depressão e ansiedade. Esse fenômeno é conhecido como Síndrome do Final de Ano ou Depressão Sazonal, ou seja, o aumento ou desenvolvimento de quadros ansiosos e depressivos entre novembro e o fim de dezembro.
De acordo com uma pesquisa realizada pela International Stress Management Association, 80% das pessoas são atingidas pelo estresse, que está ligado diretamente ao aumento e acúmulo de tarefas, sobrecarga de pensamentos, ritmo frenético no trabalho e férias escolares, além das expectativas para o ano que vem.
A psicóloga Alessandra Cieri explica: “Essa sensação aumenta por vários motivos, por exemplo, o estresse de fatores associados a cobranças de tudo que a gente tem que fazer até o final do ano”.
A expectativa dos novos planos para o ano que está por vir se mistura à frustração dos planos não concretizados. O fim do ano é um momento simbólico de mudança de ciclos, que também representa o início de um novo ciclo repleto de possibilidades.
“Quando começa o ano é natural que a gente tenha inúmeras expectativas em relação aos relacionamentos, vida pessoal e profissional. Então, existem expectativas que, muitas vezes, são frustradas, ainda mais quando existe um contexto como o da pandemia. E as expectativas frustradas também carregam esses sintomas de ansiedade, depressão”, aponta.
Para ela, todos os âmbitos da vida estão ligados e influenciam na forma como nos sentimos nessa época do ano. “No plano emocional afetivo também, muitas vezes é um momento onde a carência aparece porque justamente muitas pessoas não cuidam disso ao longo do ano”, explica.
Desse modo, cuidar dos sentimentos ao longo do ano se torna essencial para evitar que as emoções venham em enxurrada no final do ciclo. Estabelecer uma rotina, tentar focar nos aspectos positivos da vida, respiração, atividade física e escrever os pensamentos que vem, são algumas dicas sugeridas por Alessandra para incluir no dia a dia.
Luto
“Durante a pandemia a gente não conseguiu viver o luto. A gente perdeu pessoas e não pode cumprir os rituais de passagem, sem elaborar e viver o luto ao não ir até eventos como velório”, aponta a psicóloga.
Nesse sentido, o grupo Clínica da Cidade, formado por psicanalistas, criou o “Luto a distância”, um espaço aberto para que as pessoas possam ter com quem falar em momentos de perda.
“A gente foi muito afetada pelas imagens dos caminhões na Itália carregando milhares de corpos e pela quantidade de morte que vai acontecendo ao nosso redor. Sem poder zelar, sem poder encerrar, sem poder fazer os ritos de luto, que são os ritos mais antigos da sociedades humanas”, conta Camila Kfouri, psicanalista do grupo.
“A gente resolveu criar o grupo pra que as pessoas possam falar dos seus votos, falar das suas dores e fazer companhia umas para as outras, serem escutadas, porque ninguém quer escutar sobre a morte, é um assunto tabu”, aponta.
O “Luto a distância” é ambiente aberto e acolhedor neste momento pandêmico, onde as pessoas podem falar sobre perdas. “Perda de planos de futuro, de ilusões de controle, do seu humor, de um projeto de país, de pessoas, de convivências, de um estilo de vida, enfim, lutos diversos”, explica Camila.