Psicodermatologia: a saúde mental tem impactos na saúde da sua pele
Especialistas adotam tratamentos globais de pele e mente para resolver problemas
Pele e mente. De um lado, o maior órgão do corpo humano, que nos protege contra bactérias, vírus e até da poluição. Do outro, a parte responsável por interpretar o mundo, entender sentimentos e refletir sobre o que nos cerca. Que o bom funcionamento de ambos é necessário para uma vida saudável provavelmente você já sabia, mas e que eles estão conectados? Que a saúde mental tem impactos na saúde da pele? Um ramo da medicina, a psicodermatologia, defende justamente isso.
A visão integrativa da saúde se popularizou graças à medicina ayurvédica, que enxerga o ser humano como um único organismo ao indicar tratamentos. Mas, nesse caso, a ideia é pautada em recursos da medicina alopática, da psicoterapia e de outras variedades. Ao entender a pele como uma parte integrante do corpo, há a visão de que é um órgão de expressão, que dá sinais do mau funcionamento de outras regiões do organismo.
“O sistema nervoso e a pele se originam no mesmo folheto embrionário, o ectoderma. Assim, a pele é inundada de terminações nervosas, altamente sensíveis às alterações emocionais que sofremos”, explica Jéssica Schimitt, psicóloga especialista no assunto. O sistema endócrino e imunológico também atuam nessa ligação.
Doenças crônicas de pele são imunomediadas, ou seja, sofrem a influência do sistema imunológico. Este, por sua vez, possui estreita relação com os outros dois sistemas, o nervoso e o endócrino, declara a profissional. “Ao detectar uma ameaça, externa ou interna, o nosso corpo desencadeia a ordem de secreção de hormônios de estresse, cortisol e adrenalina, que provocam a imunossupressão, gerando respostas nocivas desde o sistema imune ao organismo e à pele”, continua.
Não seria diferente com o estresse prolongado e intenso, que pode agravar doenças inflamatórias da pele por liberar esses compostos. A ansiedade, por outro lado, pode piorar dermatites, que são doenças de pele multifatoriais, ou seja, que sofrem a influência de um conjunto de motivos, como a predisposição genética e fatores ambientais e sociais.
O diagnóstico de uma psicodermatose, vale lembrar, sempre é de exclusão. Assim, é preciso identificar a causa do quadro dermatológico, mas não se pode deixar de lado a questão emocional, de acordo com Gabriela Tranquilini, que é médica e uma das autoras de Pele, psicossomática, psicanálise: uma visão integrativa das psicodermatoses.
Outra que sofre impactos da saúde mental é a psoríase, que é uma doença multifatorial e inflamatória. “Ela apresenta componentes genéticos e está associada a várias alterações ambientais. Muitos estudos, inclusive, mostram que pacientes com psoríase apresentam altas taxas de depressão e ansiedade, quando comparados à população sem a doença de pele”, indica a médica. Dessa forma, é possível que os sintomas dermatológicos da psoríase se intensifiquem na presença de um contexto de saúde mental instável. “O estresse compreendido como a quebra da homeostase do organismo é um dos fatores de agravamento de doenças de pele crônicas”, completa a psicológa.
O abando da saúde mental não necessariamente vai aparecer por meio de psicodermatoses. As reações podem ir desde dores de cabeça e estômago até doenças inflamatórias, segundo Gabriela. O próprio ditado popular “vermelho de raiva” demonstra isso.
Como resolver isso tudo? Cuidando da saúde mental, sem deixar de ir a um dermatologista para receber as indicações necessárias. “Quando cuidamos da nossa saúde mental de modo a reconhecer os fatores de estresse presentes no nosso cotidiano e buscar estratégias de enfrentamento saudáveis, estamos preservando a nossa saúde física também, incluindo a pele”, indica Jéssica.