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Por que o câncer de mama se tornou a forma mais comum da doença no mundo

Neste Dia Mundial do Câncer (4), a OMS alerta para a importância de fazer exames e consultas mesmo durante a pandemia

Por Gabriela Teixeira (colaboradora)
Atualizado em 8 fev 2021, 16h31 - Publicado em 4 fev 2021, 19h00
Ilustração com quatro mulheres de diferentes etnias e o laço símbolo do câncer de mama
 (Ponomariova_Maria/Getty Images)
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Ultrapassando os casos de câncer de pulmão, o câncer de mama se tornou a forma mais comum da doença em todo mundo, de acordo com informações divulgadas pela Organização Mundial da Saúde (OMS) nesta semana.

Somente no Brasil, as mais recentes estimativas do Instituto Nacional do Câncer (INCA) apontam o surgimento de mais de 66 mil novos casos da enfermidade por ano até 2022. Mas o que está por trás desse aumento?

Líder do centro de tumores de mama do A.C.Camargo Cancer Center, a Dr. Fabiana Makdissi explica que são três os principais fatores que podem ter contribuído para isso. A começar, o aumento da expectativa de vida da população.

“O câncer de mama é uma doença degenerativa, ou seja, conforme envelhecemos, aumentam os riscos de tê-la. Por isso costumo falar para minhas pacientes que nossos dois maiores fatores de risco são o fato de termos nascido mulher e de estar envelhecendo todos os dias”, diz a médica.

E se por muito tempo o tabaco foi o grande vilão, hoje é a obesidade que está relacionada a uma série de tumores – não apenas nas mamas –, pois, enquanto órgão vivo, a gordura acumulada produz uma série de substâncias que também influenciam no surgimento da doença.

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Por fim, e caminhando de mãos dadas com a obesidade, está o sedentarismo, que se intensificou com a pandemia. “Além de uma limitação da atividade física, a reclusão também causou muitas crises de ansiedade, levando as pessoas a aumentar a ingestão de comida”, aponta Fabiana.

A própria pandemia também tem influenciado de maneira negativa, uma vez que o medo de contrair o coronavírus afastou as pessoas dos médicos, impedindo a realização de diagnósticos que, quanto mais cedo são feitos, mais fundamentais para o sucesso do tratamento. No caso do câncer de mama, por exemplo, a descoberta precoce representa 90% de chance de cura.

“Quanto mais rápido for diagnosticada e tratada a doença, maiores são as chances de cura, com tratamentos menos invasivos para a paciente e com investimento menor e mais eficiente para a gestão pública”, explica a Dra. Maira Caleffi, mastologista e presidente voluntária da FEMAMA.

Segundo levantamento feito pela Fundação do Câncer, em 2020, o número de mamografias realizadas pelo SUS caiu em 80% se comparado com o mesmo período do ano anterior. O exame é justamente um dos mais eficazes métodos de detecção da doença e deve ser realizado anualmente por todas as mulheres a partir dos 40 anos.

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“Há uma recomendação do governo de que o rastreamento se dê a partir dos 50 anos, quando há uma explosão no número de casos”, esclarece Fabiana. “Mas nós especialistas sugerimos antecipá-lo porque, para que o diagnóstico seja precoce, o ideal é que ele seja feito antes dessa explosão. Assim, conseguimos descobrir a doença em fase pré-maligna, ainda não evidente, que pode ser interrompida com uma operação.”

Como muitos médicos, ela demonstra preocupação com a baixa procura dos pacientes por exames e tratamentos. “Todos os dias alguém me pergunta se não pode esperar mais um pouquinho para se examinar. E eu falo que não é para ficar esperando, senão vamos pagar o preço disso!”

Em lugares como Manaus, onde a pandemia não consegue ser controlada, a médica diz que certamente irá levar muito mais tempo para que as mulheres retomem o acesso à saúde e consigam correr atrás dos prejuízos. “Quando se demora muito para fazer o diagnóstico, a doença que já está instalada, continua a crescer, então teremos cada vez mais mortalidade. Há ainda muito chão pela frente”, diz.

Prova disso, exemplifica Maira, é que o aumento de diagnósticos para tumores de mamas observado desde novembro é justamente daqueles que já são palpáveis e mais avançados. “A situação é bem crítica, pois o vírus continua contaminando e matando muitas pessoas, e agora temos uma epidemia de câncer em formas mais graves do que tínhamos e com estruturas de saúde lotadas.”

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Conhecer o próprio corpo

Antes dos 40 anos, as mulheres devem solicitar ao ginecologista ou ao mastologista a realização do exame clínico das mamas e fazer exames complementares, como a ultrassom, caso o médico os solicite”, orienta Maira.

Também é essencial se conhecer, ela aponta. “O autoconhecimento da mama é importante em todas as idades para que as mulheres conheçam bem seu corpo e possam perceber com facilidade qualquer alteração nas mamas. No entanto, ele não substitui o exame realizado pelo médico.”

A atenção deve ser redobrada para aquelas possuem um histórico familiar da doença, explica Fabiana. “Se você está em uma família onde há risco de uma síndrome hereditária e o câncer de mama é frequente, talvez seja melhor começar os exames antes, mas isso depende de cada caso.”

“Na grande maioria das vezes, o câncer é o que chamamos de esporádico”, ela continua. “Claro, o fator hereditário é importante, mas ele representa muito pouco dos casos gerais, algo em torno de 5% a 10%. Então a mulher não pode se sentir blindada só pelo fato de não ter câncer na família.”

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E quais são os sinais para os quais se deve ficar atento? “Nódulos palpáveis, retração do mamilo, saída de secreção – clara ou sanguinolenta – do mamilo, avermelhamento muito significativo da mama, principalmente se for de um lado só. Não são sintomas de câncer, mas sim de alerta para mostrar que é preciso ir ao médico e fazer uma avaliação detalhada.”

Fabiana ainda chama atenção para o caso dos homens, que, ainda que em uma escala muito menor, também podem ser acometidos pela doença. “Não existe exame de rastreamento para eles, então é importante que saibam que podem ter câncer de mama, ou do contrário não se importarão caso surja algum sintoma. Tendo esse conhecimento, um homem que sentir um caroço atrás da auréola, por exemplo, provavelmente vai procurar ajuda.”

Para este Dia Mundial do Câncer (4), a OMS lançou o slogan “Eu posso e eu vou”, que simboliza, entre outras coisas, atitudes que podem ser tomadas para diminuir o risco de ter a doença. Se alimentar de forma saudável, fazer exercícios regularmente, não fumar, reduzir o consumo de bebidas alcoólicas e, no caso específico do câncer de mama, amamentar são alguns exemplos.

Em ação semelhante, no último Outubro Rosa, a FEMAMA criou a campanha “3 perguntas que salvam“, para incentivar homens, mulheres e jovens a tomar uma atitude prática e fazer as seguintes questões para as mulheres que amam:

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  1. Você tem observado suas mamas?
  2. Você já marcou seus exames anuais?
  3. Você conhece seus fatores de risco?

“Ninguém tem culpa de ter câncer, mas temos escolhas que podem mudar a nossa história em relação a ele. Se sei que posso fazer essas coisas, por que não? Saúde não é apenas a ausência de doença, mas também ser e sentir saudável todos os dias”, lembra Fabiana.

E Maira reforça: “Cuidar de si mesmo e de quem se ama precisa ser um ato diário, o câncer não tem hora e nem dia marcado para acontecer.”

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