ONU alerta para crise de saúde mental após pandemia de Covid-19
As mulheres têm ainda mais riscos de serem afetadas psicologicamente pela situação que todo o mundo enfrenta atualmente
A pandemia do novo coronavírus “tem as sementes de uma grande crise de saúde mental”, alertou a Organização das Nações Unidas (ONU) nesta semana. Devora Kestel, diretora do Departamento de Saúde Mental e Uso de Substâncias da Organização Mundial da Saúde (OMS) afirmou, em comunicado, que o isolamento, o medo, a incerteza e a turbulência econômica podem causar “sofrimento psicológico”.
Kestel ainda acrescentou que investimentos para manter o equilíbrio mental e o bem-estar da população, que “foram severamente afetados por esta crise”, são prioridade e devem ser tratados com urgência.
Além disso, a diretora também afirmou, a partir de um relatório da ONU, divulgado na quinta-feira (18), que certas parcelas da população, entre elas, profissionais da saúde e mulheres, estão mostrando “alto graus de sofrimento psicológico relacionado à Covid-19”.
O relatório também mostra que, por conta da pandemia, muitas pessoas que antes lidavam bem com estresse, agora estão enfrentando dificuldades para manter um equilíbrio mental. Além disso, quem já sofria com depressão e ansiedade anteriormente está observando um “agravamento em suas condições.”
Como base para afirmação, a ONU usou como referência um estudo feito na Etiópia em abril deste ano, que estima que 33% das pessoas que sofriam com a depressão antes da pandemia, estão sentindo os sintomas três vezes mais intensos do que antes da crise.
Inclusive, em maio, um estudo do Instituto de Comunicação e Informação em Saúde (Icict) e da Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz), em parceria com a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), já havia indicado que estamos mais ansiosos, depressivos e consumindo mais cigarros e bebidas alcoólicas desde o isolamento social por conta da pandemia do novo coronavírus.
Pouco investimento na área
A ONU ainda afirma que, embora tenham sido implementadas formas inovadoras de fornecer apoio à saúde mental, não foi suficiente para lidar com as necessidades da grande maioria, devido a um subinvestimento histórico nesta área.
Apesar de a depressão afetar cerca de 322 milhões de pessoas no mundo, segundo a OMS, investimentos contra a doença e contra a ansiedade custam à economia global mais de US$ 1 trilhão por ano antes da pandemia de coronavírus e que, globalmente, há menos de um profissional de saúde mental para cada 10.000 pessoas, de acordo com a ONU.
Ainda segundo a entidade, os países gastam apenas 2% do seu orçamento em saúde mental. Portanto, Kestel recomenda que as nações desenvolvam e financiem planos para o equilíbrio mental, garantindo cobertura de saúde mental em planos de saúde e desenvolvendo assistência social de qualidade nas comunidades.
Mulheres estão mais propensas a desenvolverem distúrbios mentais
Ainda de acordo com o relatório da ONU, as mulheres correm ainda um risco particular de apresentar sofrimento psicológico relacionado à Covid-19, “particularmente aquelas que estão fazendo malabarismos com a educação em casa e trabalhando em tarefas domésticas.”
Um estudo anterior da ONU, intitulado “Women and Mental Health (Mulheres e Saúde Mental)”, assinado por Mary-Jo Del Vecchio Good, já afirmava que as mulheres têm mais tendência de sofrerem distúrbios da saúde mental e sofrimento psicossocial. Além disso, a pesquisa mostra que, com base em uma análise comparativa de estudos empíricos de transtornos mentais, sintomas de depressão e ansiedade são mais prevalentes entre as mulheres – os transtornos depressivos representam cerca de 30% entre mulheres, mas apenas 12,6% entre os homens.