Burnout parental: o esgotamento emocional que atinge mães e pais
Síndrome de exaustão extrema relacionada ao cuidado de crianças e adolescentes é sentida por mais da metade dos pais
“Penso em abandonar tudo sempre que deito na cama. Amo meus filhos, mas estou exausta, completamente cansada de precisar ser mãe 24 horas por dia, sem direito à feriado, folga ou férias”, conta Luana*, mãe de três crianças, que preferiu não se identificar.
Sua história, reflexo de uma rotina excessiva, falta de apoio e muita cobrança, é compartilhada por outras tantas pessoas ‒ 66% dos pais, para ser mais exata, têm burnout parental, uma espécie de esgotamento avassalador associado à criação de pessoas de até 18 anos. A doença afeta principalmente mulheres: 68% dos que sofrem são do sexo feminino.
“Burnout parental é uma condição psicológica com reflexos diretos na saúde física e mental que acontece graças ao imenso acúmulo de funções e responsabilidades”, explica Priscilla Montes, pós-graduanda em neurociência e desenvolvimento infantil pela PUC-RS. A exaustão emocional constante, além de problemas de memória e sentimentos de frustração, incapacidade, culpa, vergonha com o seu desempenho materno ou paterno e vontade de isolamento, são sinais de que a pessoa possui a síndrome. Além deles, o distanciamento emocional dos filhos também pode acontecer.
Sem rede de apoio, muitos cuidadores tornam-se alvos fáceis para o burnout, ainda mais quando falamos sobre mães solo. “Ter com quem contar é um dos pontos chaves para o bem-estar psicológico dos responsáveis. Não só pela possibilidade de desabafar e ter ajuda com as crianças, mas também por conseguir ter uma vida além dos pequenos”, diz Priscilla.
Ela completa: “pedir ajuda não é fácil, mas é preciso. Caso não haja nenhum familiar ou amigo a quem recorrer, a creche e a escolinha se tornam uma opção fundamental de auxílio neste momento”. A falta de vagas nesses espaços, no entanto, é uma realidade do Brasil que dificulta ainda mais o problema – só em São Paulo, 2,6 mil crianças não tiveram acesso ao ensino em 2021, segundo dados da Prefeitura de São Paulo.
As crianças também sentem
O burnout, infelizmente, também é sentido pelos filhos, afinal: “não é possível cuidar do outro sem antes cuidar de si, sem estar bem”, como lembra a educadora parental Bruna Garrossino. “As crianças precisam de pessoas que estejam atentas às suas necessidades, inclusive as sentimentais, o que só é possível quando estas possuem uma boa saúde mental”, afirma, e completa: “o adulto é quem tem o cérebro desenvolvido e maduro, capaz de ajudar as crianças no que elas precisam. Quando eles possuem problemas psicológicos sem o devido tratamento, podem negligenciar os mais novos”.
Como prevenir?
Aprender a traçar limites, para si e para os outros, dizendo não, por exemplo, é importante para evitar a síndrome, segundo Priscilla. Aceitar que você não precisa ser perfeito para seu filho é outro fator que faz total diferença na jornada parental. Cuidar da alimentação, fazer terapia, praticar alguma atividade física e criar hobbies são outras indicações da profissional, por ajudar na liberação de hormônios do prazer e bem estar.
Tratamento
Assim como outros distúrbios, existe tratamento para o burnout parental. Depois do diagnóstico, feito por avaliação de um psicólogo ou psiquiatra, há o tratamento, apontado conforme as necessidades do paciente, abrangendo desde terapia, em quadros mais leves, até medicamentos, estes em casos mais graves.