Existe abstinência de vape? Entenda os sintomas de Yasmin Brunet no BBB24
Os vapes têm se tornado a mais nova tendência, mas você sabia que pode gerar abstinência?
Um aparelho eletrônico que vem sob as falsas promessas de trazer a diversão do cigarro com menores riscos – e ainda se esconde por trás de embalagens lúdicas e sabores frutais. Primeira tragada sabor pêssego… mais divertido do que o cigarro? Duas, três, quatro tragadas… Que mal pode fazer? Tem sabor de fruta! É aí que mora o perigo – e as dúvidas: afinal, vape vicia? É tão ruim quanto cigarro?
Que as jovens gerações vem adotando o “vape” – também conhecido como cigarro eletrônico – não é surpresa para ninguém, mas será que pode virar um verdadeiro vício?
A modelo Yasmin Brunet, confinada no BBB 24 desde dia 8 de janeiro, relatou que estava sofrendo de abstinência de seu vape, apontando estar sem dormir e cogitando pegar um cigarro dos outros participantes.
Dentre as preocupações dos sintomas de Brunet, o público e os participantes apontaram uma possível compulsão alimentar que, usualmente, ajuda a aliviar a sensação de necessidade de fumar.
“Eu estou sem dormir. Estou sem meu vape. Estou quase indo ali fumar um cigarro e f*da-se?… [indo] comer um pão”, disse em conversa com a cantora Wanessa Camargo.
O desabafo de Yasmin trouxe à tona a discussão ao redor dos perigos dos cigarros eletrônicos como o “vape” ou o “pod”, que muitos acreditam ser um mediador para conseguir desistir do hábito de fumar cigarros tradicionais.
“O vape é um produto diferente do cigarro, tem suas características próprias, mas ele não é inócuo. Cada vez mais, vemos problemas e riscos maiores com o uso, isto porque as pessoas usam de forma frequente – talvez pela ideia errônea de que a prática está isenta de riscos – e com isso se torna não somente um ato corriqueiro, mas de dependência”, explica Jaqueline Scholz, cardiologista e diretora do Programa de Tratamento do Tabagismo do InCor.
O que são os vapes?
Os DEFs (dispositivos eletrônicos para fumar) – também chamados de pods e vapes – possuem, de certa forma, o mesmo intuito do cigarro tradicional, marcando sua diferença pelo fato de que os cigarros eletrônicos podem conter saborizantes, como pêssego e algodão doce – sendo o grande apelo para jovens e adolescentes.
Dentre as substâncias por trás do aparelho está a nicotina, altamente viciante que alcança o cérebro e causa um aumento na liberação de dopamina, promovendo a sensação de prazer e tranquilidade.
Uma análise do Programa de Tratamento do Tabagismo do InCor detectou, em uma pesquisa realizada com 21 usuários de cigarro eletrônico, níveis elevados de nicotina e equivalente ao consumo de 20 cigarros tradicionais por dia – eis o grande erro de acreditar ser “melhor”.
Em números, os valores de cotina (metabólito da nicotina, ou seja, o produto gerado a cada tragada do cigarro) correspondiam a 600 ng/ml.
“O vape é considerado uma preocupação de saúde contemporânea devido a vários fatores, incluindo a facilidade do uso e aromas que mascaram o cheiro desconfortável da nicotina, facilitando aos usuários utilizarem em locais não permitidos para cigarros e charutos”, reflete Larissa Fonseca, psicóloga e terapeuta clínica.
A profissional ainda destaca que a ampla disponibilidade de sabores atraentes têm contribuído para a popularização do aparelho, associado ao cool.
Por trás das “tragadas”
Scholz explica que, dentre os efeitos colaterais do vape, o que mais preocupa os profissionais é o uso entre jovens e adolescentes, uma vez que altera a plasticidade cerebral – ou seja, a capacidade do cérebro de se adaptar com o ambiente – além de interferir com vários neurotransmissores cerebrais, como a dopamina e serotonina, assim perdendo o controle emocional.
“Em alguns casos, as pessoas chegam a desenvolver quadros de doenças respiratórias, como asma e pneumonia inflamatória, além de um grave risco cardiovascular. Isto porque a quantidade de nicotina nos vapes é muito elevada, podendo levar ao aumento da pressão arterial, aumento da frequência cardíaca e dano na parede dos vasos sanguíneos”, aponta a diretora do Programa de Tratamento do Tabagismo do InCor.
A análise do programa ainda destaca que, ao entrar em contato com a corrente sanguínea, a nicotina alcança diversos órgãos, entre eles o fígado.
E para quem pensa que os efeitos do vape são vistos apenas a longo prazo, vale a pena pensar novamente, já que Scholz aponta que os efeitos de prazer duram, em média, até 60 minutos e, quando terminam, podem levar a sintomas de abstinência, irritabilidade e estresse.
“No aspecto psicológico, a nicotina presente no vape desencadeia ansiedade, sendo um risco para a saúde mental do indivíduo”, aponta Fonseca.
Existe dependência de vape!
Um estudo publicado na revista científica Addiction, no começo de 2023, comparou as percepções sobre o vício em vapes – realizada com 832 adultos que usam cigarros eletrônicos na Inglaterra.
De todos os participantes, 17% relataram sentir-se muito viciados em cigarros eletrônicos, enquanto 35% consideraram os cigarros eletrônicos tão viciantes quanto os cigarros de tabaco, e pouco menos de 6% acharam que os cigarros eletrônicos eram mais viciantes que os cigarros de tabaco.
A Addiction ainda mostrou que vários dos fatores ligados à dependência da nicotina estão relacionados ao sentimento de dependência de cigarros eletrônicos, como vape e o pod.
Em termos de padrões de vaporização, descobriu-se que o uso de cigarros eletrônicos todos os dias e o prazer extremo da vaporização também estão associados à sensação de vício alto.
“A exposição repetida à nicotina leva a alterações no cérebro, resultando em tolerância e necessidade crescente da substância para manter os efeitos desejados”, explica a terapeuta.
Então, podemos dizer que sim, existe a abstinência ao vape – ou, cigarro eletrônico – que vem acompanhado de um período de dependência.
“O caso da participante no BBB 24 destaca a realidade da dependência de nicotina associada ao uso do vape. Precisamos nos recordar que há uma dependência emocional para atenuar as emoções como cigarro, álcool, drogas, alimentos ricos em açúcares, entre outros”, reflete Fonseca sobre a realidade vivida por Brunet no reality.
O médico psiquiatra Bruno Pascale explica que a dependência surge a partir do momento em que o aparelho se torna necessário para o funcionamento do dia do usuário: “Ela não consegue parar por si só, isto porque o vape, ao liberar a dopamina, promove no cérebro um certo ‘sistema de recompensas’ – o cérebro entende isso para além de um hábito, sendo uma necessidade. É necessário de suporte psicológico e psiquiátrico”.
“Quando começa a usar, vai aos poucos, daqui a pouco já está comprando e o que durava um mês está durando duas semanas, o pod que durava duas semanas está durando uma, e até três dias”, explica Jacqueline.
Lidando com a abstinência de vape
O fenômeno vivido por Brunet é verdadeiro e pode assolar diversos dos usuários que desejam abandonar o uso do cigarro eletrônico. Dentre os sintomas mais comuns da abstinência, Scholz destaca a irritabilidade, falta de concentração, a fissura e o desejo incontrolável.
“Para amenizar esse ‘desejo’ pelo vape, tem gente que come demais – o que chamamos de compulsão alimentar – ou que param de comer. Também é comum ver Alteração do sono, de humor e, inclusive, tontura”, coloca.
A especialista, porém, ressalta que a gama de sintomas de abstinência é ampla, podendo perdurar até 12 semanas, tendo sintomas mais intensos durante as primeiras duas.
“As diferenças específicas na experiência de abstinência entre vape e cigarro podem depender da concentração de nicotina nos produtos e nas características individuais do usuário. Há possibilidade em desenvolver crises de ansiedade e acentuar outros quadros prévios como os transtornos alimentares, agressividade, alcoolismo dentre outras formas de compensar emocionalmente o vazio emocional”, relata Larissa.
Mas, é importante esclarecer que, de forma alguma, o processo de abstinência e de abandono do aparelho é uma jornada simples, sendo necessário contar com ajuda psicológica e de familiares e amigos para lidar com essa dependência fisiológica.
“A utilização da psicoterapia para buscar auxílio médico que pode complementar o tratamento com medicamentos como antidepressivos para auxiliar na ansiedade e agressividade pela abstinência da nicotina, além disso, a retirada pode ser gradual”, explica a terapeuta.
Nesse processo, a família e amigos desempenham um papel crucial, podendo estar sujeitos a recaídas e diversos sintomas, como os exemplificados pela modelo confinada no BBB.
“O apoio contínuo contribui para fortalecer a motivação e fornecer um suporte positivo durante o processo de recuperação”, finaliza Fonseca.