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Cresce busca por significado de racismo estrutural no Google

Segundo a plataforma, o nome George teve um aumento de mais de 3.600% em maio, mês que Floyd foi assassinado

Por Ana Carolina Pinheiro Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 16 out 2020, 17h32 - Publicado em 9 out 2020, 20h36

A violência policial na pandemia, seja nos Estados Unidos com o assassinato de George Floyd e Breonna Taylor, ou no Brasil, com o fim precoce de crianças como João Pedro, acendeu um debate em torno das questões raciais. O movimento de tomada de consciência aconteceu principalmente entre pessoas brancas, que já eram convocadas por movimentos e ativistas negros para enfrentar o racismo estrutural há décadas.

Os sete minutos e quarenta e seis segundos, em que George Floyd foi asfixiado pelo joelho do policial Derek Chauvin, foram alguns dos elementos que comprovaram a existência e crueldade da violência policial, principalmente contra negros.

Segundo o Google, o nome George teve uma alta de mais de 3.600% em buscas no mês de maio, quando o crime ocorreu. O mesmo aconteceu com o termo violência policial, que, entre maio e junho, bateu o recorde de buscas da última década. As pesquisas foram motivadas pelo assassinato do jovem negro João Pedro Mattos Pinto, 14 anos, que foi alvejado dentro de casa durante operação policial no Complexo do Salgueiro, no Rio de Janeiro.

Outro assunto recente que impactou na pesquisa de temas voltados às pautas identitárias foi o programa de trainee da Magazine Luiza, no qual só pessoas pretas e pardas podem se candidatar. A ação afirmativa, garantida no artigo 39 da Lei 1888, de 2010, do Estatuto de Igualdade Racial, colocou em debate o privilégio branco, que também bateu recorde de pesquisas na plataforma.

Para o escritor e apresentador do podcast Infiltrados no Cast, Alê Santos, essas buscas refletem não só uma mudança no comportamento da branquitude, como a precariedade do ensino de pautas identitárias nas escolas. “A população deveria ter acesso ao conhecimento histórico sobre a cultura afro-brasileira, que é garantido pela Lei 11.645, de 2008, mas que não teve uma aplicação ampla nesses 12 anos”, diz.

Sobre o debate na internet, Alê lembra que muitos ainda estão de fora da conversa. “O YouTube, por exemplo, que conta com a produção de conteúdos relevantes feitos por criadores negros, só comporta 90 milhões de brasileiros, sendo que somos 220 milhões. Então, a realidade e a consciência de ser negro não estão na mesma sintonia para todos”, pontua.

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Da mesma forma que a internet é uma ferramenta importante para levar informação, enfrentando o racismo, na outra ponta há a polarização e distanciamento dos algorismos. “Sabemos que as redes sociais favorecem o extremismo e criam bolhas. Recentemente, foi revelado que no Twitter fotos com pessoas brancas são favorecidas na entrega da publicação em relação aos posts com pretos e pardos. É uma reprodução de comportamento da própria base de usuários, que nem a rede social sabe solucionar”, afirma Alê.

Racismo estrutural

Em junho deste ano, o Google registrou o recorde de 100 pontos de pesquisas pelo termo racismo estrutural. Seja o internauta que desconhecia totalmente o tema ou o que já possuía alguma noção, a busca mostra que a presença constante de uma opressão pode dar uma falsa sensação de naturalidade. Como resultado, há o distanciamento, que aparentemente vem sendo quebrado com a ascensão do tema.

Em seu livro O que é Racismo Estrutural (Pólen), o advogado e filósofo Silvio Almeida defende que o racismo estrutural não é um tipo de opressão, mas sim uma condição presente em todas as organizações políticas e econômicas da sociedade. Nessa lógica, algumas raças gozam de privilégios em detrimento de outras, como acontece entre brancos em relação aos negros e indígenas. Segundo Silvio, o termo estrutural não é sinônimo de falta de solução, mas sim de atos discriminatórios praticados sistematicamente do início do processo de escravização de negros escravizados até os dias de hoje.

Racismo

Seja de forma consciente ou não, o racismo é uma discriminação motivada pela raça. Definido como crime desde 5 de janeiro de 1989 com a Lei 7.716, o racismo gera desvantagens, humilhação e retirada de direitos para grupos oprimidos. Na outra ponta, grupos com poder do ponto de vista socioeconômico na sociedade controlam essas relações e usufruem de vantagens e privilégios, como ter menos chances de morrer de violência policial ou ocupar mais cadeiras em salas de aula do ensino básico ao superior. De acordo com o DataSUS, jovens negros têm 2,7 mais chances de serem assassinados que os brancos.

Racismo Institucional

Tanto nas instituições públicas, os poderes legislativo, executivo, judiciário, as universidades, como no âmbito privado, o racismo não só é atravessado como também é propagado por meio da estrutura e política dessas instituições. Ou seja, as decisões individuais de quem está no poder, normalmente homens brancos, dificultam direta ou indiretamente na inclusão de negros a esses espaços de forma integral. “Um exemplo de mudança institucional são as políticas de ação afirmativa, cujo objetivo é, grosso modo, aumentar a representatividade de minorias raciais e alterar a lógica discriminatória dos processos institucionais”, apontou Silvio em seu livro.

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A promotora Valdirene Assis, do Ministério Público do Trabalho, conta que o próprio MPT articula um Projeto Nacional de Inclusão de Jovens Negros e Negras Universitários, que visa inserir esse grupo em cargos de estágio, trainee e efetivos. “Em 2018, divulgamos a primeira nota técnica falando sobre a importância das ações afirmativas no combate ao racismo estrutural, baseado nos tratados internais, que o Brasil é signatário, na Constituição Federal e na Legislação. Pessoas que contrariam essas medidas, contrariam decisões do próprio Supremo Tribunal Federal e de outros expoentes do judiciário brasileiro”, afirma.

De 30 de setembro a 2 de outubro, o MPT e o Pacto Global reuniram parceiros e jovens negros para o evento virtual Afro Presença. Segundo Valdirene, esse trabalho de enfrentamento ao racismo institucional é feito sempre nesse movimento coletivo. “Nos aliamos aos movimentos sociais, aos sindicatos, às empresas, às entidades do direito públicas e aos estudantes. No evento, por exemplo, Os discutimos sobre equidade étnico-racial no mundo do trabalho e ainda oferecemos capacitação aos jovens e interlocução deles com as empresas, que também tinham oportunidades de vagas”, explica

Preconceito

O preconceito é uma prática que reduz indivíduos a ideias pré-estabelecidas e generalizadas de grupos. A distinção ou ofensa é feita sem fundamento crítico e lógico, reforçando estereótipos ligados principalmente à religião, raça, cultura, gênero, entre outros. Pela Lei 7.716, os crimes que envolvem preconceito chegam a ter pena de reclusão de 2 a 5 anos.

Combate ao racismo

“Não basta não ser racista, é preciso ser antirracista“. Essa frase da filósofa Angela Davis se tornou um lema do movimento antirracismo, que não possuí uma fórmula mágica. Porém, do ponto de vista institucional e estrutural, as ações afirmativas são uma das alternativas mais importantes para equiparar a presença de negros e brancos em universidades e mercado de trabalho, por exemplo. Vale lembrar que, mesmo com fim da escravidão na teoria, as medidas de reparação histórica a esses cidadão foram escassas, o que explica a desigualdade racial em que vivemos.

Do ponto de vista individual, acompanhar e consumir o trabalho de profissionais negros também são medidas importantes. Segundo o levantamento Mulheres negras – Saúde financeira e expectativas diante da Covid-19, do ID_BR – Instituto de Identidades do Brasil, Empodera, EmpregueAfro e Faculdade Zumbi dos Palmares, realizado entre março e abril deste ano, 79,4% das empreendedoras negras no país não tinham reserva financeira para sustentar o negócio durante a pandemia. Além disso, agir diante de um caso de racismo é deixar de ser conivente com o crime.

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