Xingamento, exclusão e ameaças são rotina para mulheres na política
Pesquisa mostra que 51% das mulheres ouvidas já sofreram algum tipo de violência política e 41% delas já foram alvo do manterrupting
Ao menos 51% das mulheres já sofreram algum tipo de violência política. O dado, divulgado nesta quinta-feira (25), considerado o Dia Internacional da Eliminação da Violência contra a Mulher, integra o resultado parcial da pesquisa Políticas de Saia, realizada pelo Instituto Justiça de Saia e pelo projeto Justiceiras, que mapeia a violência política no país.
O levantamento realizado de forma inédita ainda evidenciou o grande desafio que é a inserção de mulheres na política.
Das mais de 1.200 mulheres que participaram da pesquisa, menos de 20% já se candidataram a algum cargo e mais de 80% delas não foram eleitas. Além disso, elas também apontam a falta de apoio dentro dos partidos políticos para que elas possam participar do processo eleitoral.
De acordo com a promotora de justiça e presidente do Instituto Justiça de Saia, Gabriela Manssur, os dados revelados só refletem o que já é de conhecimento geral, porém, são importantes para que cobranças de políticas públicas sejam feitas a fim de mudar o cenário atual.
“Esses resultados já eram esperados, eu só queria colocar no papel”, alegou Gabriela em fala ao Correio Braziliense. “Quando você fala e não apresenta dados você não consegue o impacto necessário. Esses dados são necessários para que nós possamos pleitear a quem nós temos que bater nas portas: sem dúvida nenhuma, os líderes de partidos que precisam se comprometer.”
De acordo com a pesquisa, mais da metade das mulheres envolvidas no ambiente político já foram vítimas de preconceito ou discriminação. Entre as violências mais relatadas estão ofensas morais, xingamentos, exclusão de algum espaço público, ameaça, ataque sexual, fake news, agressão física e invasão de redes sociais.
Além das violências, 41% das participantes relataram que já foram alvos do manterrupting (interrupção desnecessária em sua fala).
Atualmente, somente cerca de 14% dos parlamentares são mulheres. Dentre os 26 estados brasileiros e o Distrito Federal, há apenas uma governadora. Em 2020, pelo menos 900 municípios não elegeram nenhuma vereadora. Prestes ao início de um ano eleitoral, há apenas uma pré-candidatura feminina anunciada para a Presidência da República, a da senadora Simone Tebet., pelo MDB
De acordo como os dados divulgados recentemente pela União Interparlamentar (UIP), o Brasil ocupa a 142° colocação do ranking de participação de mulheres na política nacional.
A pesquisa Políticas de Saia continuará aberta até outubro de 2022 para o recolhimento de mais dados, que devem ter um aumento significativo com a chegada do ano eleitoral.