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Seria possível ter evitado a tragédia em Suzano?

Neuropsicóloga conversa com CLAUDIA e explica o que poderia ter sido feito para evitar o massacre

Por Gabriela Maraccini Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 18 fev 2020, 10h41 - Publicado em 15 mar 2019, 15h14
 (Ioannis Tsotras/Getty Images)
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Na manhã da última quarta-feira (13), o Brasil acordou com a trágica notícia que dois jovens encapuzados entraram em uma escola em Suzano e abriram fogo contra funcionários e alunos, matando, no total oito pessoas.

À medida que a investigação foi sendo realizada, as identidades dos assassinos foram identificadas, mais detalhes foram divulgados e, consequentemente, mais triste a história se tornou. Guilherme Taucci Monteiro, de 17 anos, e Luiz Henrique de Castro, de 25 anos, morreram no local do crime. O mais jovem atirou no comparsa e depois suicidou-se.

A motivação do massacre na Escola Estadual Raul Brasil ainda não foi descoberta, mas algumas evidências podem encaminhar para uma resposta.

No caderno de um dos atiradores foram encontradas palavras de ódio e referências a jogos violentos como Call of Duty e Free Fire, levantando, novamente, a discussão sobre a possibilidade desses videogames influenciarem no comportamento de crianças e jovens. A mãe de Guilherme afirmou à Band que o filho sofria bullying e por isso saiu da escola, em 2018.

E assim surge a seguinte questão: seria possível ter evitado a tragédia em Suzano? Para responder a pergunta, conversamos com Deborah Moss, neuropsicóloga mestre em Psicologia do Desenvolvimento Humano pela Universidade de São Paulo (USP). A especialista falou sobre essa relação e sobre outras influências externas que poderiam ter culminado na ação dos dois jovens.

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OS VIDEOGAMES PODEM TER INFLUENCIADO?

Na opinião da neuropsicóloga, o problema se encontra quando uma pessoa psicologicamente afetada tem acesso a esses jogos. “Quem está nesse estado, tudo pode influenciar. Desde um videogame bem elaborado até a cena de um filme”, defende.

Entretanto, afirma: “Eu acho muito simplista essa relação direta entre jogos violentos e atos dessa magnitude”, opina. Para ela, jogos não incitam pessoas saudáveis a cometer atos de atrocidade como aconteceu em Suzano, já que se trata de algo lúdico, de um “faz de conta”. “Uma pessoa sã consegue separar a realidade de ficção, do certo e do errado. Ela tem esse discernimento.”

Leia também: Jovem suspeito de participar de massacre em Suzano se apresenta à Justiça

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A especialista também alerta que os pais precisam ficar atentos. A preocupação deve acontecer quando os pais percebem que seus filhos só estão voltados a isso, quando estão em uma compulsão por jogos violentos ou por atitudes violentas, filmes violentos. Tudo tem que ser com moderação.”

MASSACRE EM COLUMBINE 

Com o acontecimento, muitas pessoas relembraram o caso de vinte anos atrás em Columbine, em que dois adolescentes invadiram uma escola em Colorado (EUA) e abriram fogo contra as pessoas que estavam lá, deixando 12 mortos.

Columbine e Suzano
Guilherme, o atirador de Suzano, e o assassino de Columbine (Facebook/Getty/Reprodução)

Comparações foram feitas devido às semelhanças entre os dois casos. Um amigo próximo de um dos atiradores afirmou que o rapaz era um admirador do caso Columbine. Para Moss, a romantização de casos como esse, com a divulgação excessiva na mídia, criação de filmes e séries com a temática, podem ter influenciado os passos dos garotos. 

“Uma vez que repercute isso na mídia, há um alcance enorme e pode atingir pessoas que estão descompensadas e que buscam ideias para cometer loucuras”, explica. Segundo a neuropsicóloga, detalhes sórdidos de casos como esse, que são explicitados pela mídia, são desnecessários e servem como gatilho para essas pessoas.

O PAPEL DA FAMÍLIA E DA ESCOLA

As famílias dos garotos podem ter sido fatores de motivação do crime, principalmente no caso de Guilherme. Seu avô afirmou que o garoto morou com ele e com a avó durante toda a vida, pois os pais eram dependentes químicos. “Isso é um fator: uma estrutura familiar complicada, em que os pais, que deveriam ter condições de cuidar, também estão em uma situação de vulnerabilidade”, explica Moss.

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Guilherme publicou fotos em seu Facebook com máscara e armas (Reprodução/Facebook)

A neuropsicóloga cita ainda um provérbio africano para embasar seu argumento: “É preciso de uma tribo inteira para educar uma criança. Isso significa que uma criança é responsabilidade de um todo”. 

Leia também: Suzano: merendeira que salvou 50 alunos recebe homenagens

A escola também exerce papel importantíssimo no comportamento de um aluno. Para evitar uma tragédia como essa, deve ser observado se ele está sofrendo e se as atitudes dele são ou não adequadas. “Ele [Guilherme] sofria bullying e saiu da escola em 2018. O que foi feito sobre isso? De 2018 até agora o que esse menino ficou fazendo sem estudo?”, questiona Moss.

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“Então é preciso que a escola tenha capacidade de perceber, dentro do ambiente escolar, o comportamento daquele jovem e a partir desse olhar mais reflexivo entrar em contato com a família, entrar em contato com as autoridades, se for o caso, e buscar uma rede de saúde de apoio. Mas isso é pensando em um mundo ideal, nós sabemos de todos os problemas que temos nosso país”. 

É POSSÍVEL EVITAR TRAGÉDIAS COMO A DE SUZANO?

Para a especialista, sim: “Eu acredito que, infelizmente, quando casos como esse acontecem nós precisamos tirar alguma lição deles”. Em sua opinião, é necessário que se faça um rastreio de todos os movimentos dos garotos, quais eram os sinais que eles deixavam, quais eram as patologias e os transtornos que eles poderiam ter. 

“É necessário ter um olhar mais profundo em relação ao sofrimento humano. É claro, está todo mundo com raiva, eles acabaram se tornando dois assassinos e isso a gente não questiona. Mas que sofrimento tinha esses dois jovens a ponto de ter tanto ódio?”, disse.

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