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Maya Gabeira: “Faz parte da minha personalidade não fugir de desafios”

Dois anos após quase morrer tentando pegar uma onda de cerca de 20 metros de altura, a surfista brasileira, uma das poucas atletas a encarar ondas gigantes, volta a Nazaré, em Portugal, onde tudo aconteceu, e enfrenta o mar novamente

Por Ana Paula Orlandi (colaboradora)
Atualizado em 28 out 2016, 11h29 - Publicado em 30 dez 2015, 07h00
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“Dá para contar nos dedos quantas mulheres big riders (que enfrentam ondas gigantes) existem hoje: sete. O surfe é ainda um meio muito masculino e já sofri preconceito. Alguns surfistas achavam que eu não teria força e coragem para encarar essas ondas. Mas, a cada desafio que supero, sinto que estou no caminho certo. Nos últimos meses, quando me perguntavam por que eu estava voltando a Portugal, minha resposta era: ‘Por que não?’ Compreendo o espanto. Afinal, foi lá que quase morri na tentativa de pegar uma onda equivalente a um prédio de seis andares.

Eu sempre quis surfar em Nazaré. É um dos lugares mais perigosos do mundo e um paraíso para quem enfrenta ondas grandes. Ali elas são descomunais, podem chegar a 35 metros de altura. Em 2013, viajei com a meta de bater meu recorde pessoal. No dia do acidente, notei que as ondas estavam incrivelmente altas em relação aos outros dias, mas resolvi arriscar. Peguei a primeira da série, caí e, quando subi até a superfície, fui atingida por uma maior, depois por outra e assim fui sendo atropelada pelo mar. Na queda, quebrei o tornozelo. Percebi que tinha perdido o colete salva-vidas e que talvez não conseguisse retornar à superfície outra vez. Tinha certeza de que iria morrer. Foi aí que o (surfista Carlos) Burle, meu amigo e mentor, me resgatou de jet ski. A primeira respiração de volta foi bem intensa; acho que parecida com a de um bebê que sai da barriga da mãe. Naquela hora, renasci, aos 26 anos de idade.

Após o acidente, passei por duas cirurgias na coluna e muita fisioterapia. Não conseguia andar direito. Tomei muito remédio e vivia no hospital. Demorou para eu me sentir bem e até hoje tenho dores no corpo. Voltei a surfar mais de um ano depois e nunca tirei Nazaré da cabeça. Faz parte da minha personalidade não fugir de desafios. Não costumo escolher o caminho mais fácil.

Como previsto, o reencontro foi tenso. Cheguei na primeira semana de outubro e, quando olhei para o mar, constatei que ainda sentia muito medo. Uma parte de mim dizia para eu desistir, enquanto outra me impulsionava. Mas a adrenalina falou mais alto e resolvi encarar. Deu certo: surfei uma onda de 12 metros e entrei na briga pelo título de maior onda surfada por uma mulher em 2015. Hoje vejo quanto o surfe me ensinou. A maior lição foi ter gratidão e estar presente. Aprendi que a vida é maravilhosa, mas pode ser muito frágil.”

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