“Feri pessoas, magoei, traí, fui galinha”, diz Marcius Melhem
Em entrevista ao UOL, o ex-diretor da Globo assumiu que cometeu erros, mas não reconheceu os relatos feitos por Dani Calabresa e outras vítimas
Acusado de assédio sexual e moral, Marcius Melhem falou sobre as denúncias, em que ele é apontado como responsável em entrevista ao colunista Mauricio Stycer e à jornalista Dolores Orosco ao UOL. “Fui um homem tóxico, um marido péssimo, uma pessoa que cometeu excessos em se relacionar com pessoas dentro de seu próprio ambiente de trabalho, coisa que eu não via problema, mas hoje entendo todas as nuances que isso pode ter. Entendo que eu, como homem, feri pessoas, magoei, traí, fui galinha, tudo isso foram erros meus e num mergulho muito profundo feito neste ano cada vez entendo mais”, disse o ex-diretor da Rede Globo, que teve seu contrato encerrado em agosto deste ano, sobre os casos relatados pela revista Piauí com vítimas anônimas e Dani Calabresa.
A matéria de João Batista Júnior descreveu a seguinte cena:“Com uma das mãos, ele imobilizou os braços da atriz. Com a outra, puxou a cabeça dela para forçar um beijo. Assustada, Calabresa cerrou os lábios e virou o pescoço, mas Melhem conseguiu lamber o rosto dela. Em seguida, tirou o pênis para fora da calça. Enquanto a atriz tentava soltar os braços e escapar da situação, acabou encostando mão e quadris no pênis de Melhem”.
Marcius confirma que cometeu erros, mas nega e questiona o que chama de “narrativa fantasiosa”. Além disso, ele considera que trechos da matéria como o que teria entrado no camarim de uma gravação externa do Zorra Total, onde Dani Calabresa estaria de maiô e roupão, não existiram. “Não existe camarim individual, é um ônibus camarim que fica todo mundo. Eu nunca estive nessa gravação, eu não estava lá. Eu nunca fui a uma externa do Zorra”, disse ao colunista.
Afirmando que foi um “homem tóxico” e “péssimo marido”, Melhem revelou que precisou de um tempo para entender o que tinha acontecido e que está interessado em resolver essa situação. “Em cima dos meus erros, e das coisas que efetivamente eu fiz, tem muita coisa sendo falada que é mentira e muita coisa sendo falada que, de forma alguma, eu fiz e isso eu preciso combater. Então estou aqui de peito aberto para assumir qualquer coisa que eu tenha feito, para pedir desculpas, reparar, se isso for possível, para entender, para aceitar críticas”, explicou.
O combate será feito, segundo ele, no âmbito jurídico. “Eu estou processando a advogada, doutora Mayra Cotta. Desde ontem [dia 3], entrei com um processo contra ela, para que ela prove o que diz sobre mim, sobre as condutas violentas que eu tive, e estou interpelando na segunda-feira (7), é uma pena eu ter que fazer isso, mas estou interpelando a Dani Calabresa para que ela confirme ou desminta o teor da matéria da Piauí, porque eu e ela sabemos que aquilo não aconteceu”, pontuou. “Não posso ser julgado pela opinião pública, exposto…passei de acusado a condenado sem ser julgado. Eu tenho o direito de ser julgado”.
Uma das argumentações feitas por Marcius foi a falta de reação, na opinião dele, das vítimas. A posição dele foi questionada por Dolores que ressaltou o fato de que, em uma situação de assédio, nem sempre a pessoa atingida se sentirá à vontade e segura para expor a situação e denunciar. Ainda assim, ele pontuou que “ir à imprensa não as livra da exposição, pelo contrário”.
A relação com Dani Calabresa e outras denunciantes
Sobre Dani Calabresa, Marcius relatou que era amigo da atriz, mas que o episódio da festa não aconteceu da maneira que foi contada na matéria de João Batista Júnior. Entretanto, ele não quis pontuar a sua versão. “O que posso dizer, por exemplo, é que se tivesse acontecido… porque na narrativa da “Piauí”, a partir dali ela teria ficado traumatizada comigo. Isso não aconteceu! Uma semana depois daquela festa, nós trocamos mensagens (…) A Dani me convida para ir à Disney, eu e minhas filhas (…) Uma pessoa que sofreu aquilo uma semana antes vai me mandar um áudio, uma semana depois, no privado, para dizer que queria ir para a Disney comigo e minhas filhas?”, comentou. Segundo Melhem, os dois cultivavam uma amizade, que teria sido abalada por um desentendimento profissional em 2019.
Outros profissionais desse grupo que articulou as denúncias foram apontados pelo ex-diretor como agentes de um processo de vingança. Marcius confessou que teve uma relação extraconjugal com uma autora, que passou a trabalhar na Globo depois do relacionamento e o levou a se separar da sua ex-esposa. “Ela não necessariamente estava sempre sob o meu guarda-chuva. Mas a gente tinha uma história de dois anos. Em determinado momento, uma pessoa da família dela interceptou uma mensagem minha. E ela, para se defender, disse que eu a estava assediando. Mas nós tínhamos um caso”, explicou. “Pessoas da família dela que trabalham na Globo, levaram isso até a direção da Globo e foi aí que nasceu o Marcius assediador”.
Ele também citou uma atriz que está no grupo de denunciantes, apontando que, quando era redator final, Melhem escrevia cenas só para beijá-la. Segundo Marcius, os dois ficaram na vida real em uma festa, onde a profissional já tinha sido desligada. “Em 2017, ela me mandou mensagem dizendo que eu estava muito bonito no Altas Horas. Em 2018, ela disse que sonhou comigo e estava com muita saudade, que tinha passado o dia pensando em mim, dizendo ‘Cacete, a gente ainda vai se cruzar. Que saudade de você'”, contou.
Em seguida, ele pontua que nem todas as pessoas denunciantes estão mentindo. “Com certeza tem gente que eu magoei, que se sentiu assediado, mas também tem gente querendo ganhar espaço e poder em uma empresa que está demitindo e tem gente entrando na onda. E eu virei um símbolo de alguma coisa que tem que morrer”, disse Melhem, que define o assédio como algo subjetivo.
Sobre o post feito por Dani Calabresa no Instagram nesta sexta-feira, dia que a entrevista foi gravada, Marcius comentou que:” Lamento muito que tenha chegado nesse ponto, mas é importante que nós dois vamos até a Justiça, para que lá tudo fique esclarecido e a responsabilidade seja devidamente colocada. É só o que eu posso dizer. Mas eu não tenho raiva nem dela, nem de ninguém. Trabalhei muito para não ter raiva de ninguém, porque eu não quero duvidar da dor de ninguém e não quero ficar nessa posição”, finalizou.
Mobilização nas redes sociais
Dani Calabresa recebeu uma série de posts nas redes sociais após a divulgação da matéria da revista Piauí com os relatos dela e de mais 42 pessoas entre vítimas e testemunhas dos episódios de assédio, em que Marcius é acusado. Anônimas, famosas e outras personalidades públicas usaram seus perfis para agradecer à atriz pela sua coragem em divulgar os episódios de opressão e desejar força também. Confira algumas dessas mensagens enviadas para a artista:
Ivete Sangalo
Maria Clara Gueiros
Taís Araújo
Fátima Bernardes
Xuxa
O que é mieloma múltiplo e como tratá-lo