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Entenda o caso do jovem torturado após suposta tentativa de furto

Adolescente foi torturado por dois homens que, além de tatuarem o rosto dele, filmaram toda a ação e divulgaram nas redes sociais

Por Da Redação
Atualizado em 12 jun 2017, 18h52 - Publicado em 12 jun 2017, 16h36
 (Reprodução/Reprodução)
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No último final de semana, o caso do adolescente torturado e tatuado sem consentimento por dois homens, em São Bernardo do Campo (SP), ganhou repercussão nacional.

Os agressores alegaram que era uma retaliação a uma suposta tentativa de furto de uma bicicleta. Ouvido, o jovem afirmou que apenas esbarrou no objeto. Já o dono não estava lá e não presenciou a cena. Entenda passo a passo do caso:

O desaparecimento

O adolescente de 17 anos estava desaparecido desde o dia 31 de maio até que sua família o reconheceu em um vídeo que viralizou nas redes sociais. Ele aparecia sendo torturado por dois homens.

Nas imagens, um deles obriga o menino a “pedir” uma tatuagem com a palavra “ladrão”. O parceiro, que filmava, grita: “vai doer, vai doer”. Em outro momento, aos risos, os responsáveis perguntam se ele gostou.

Com o conteúdo em mãos, a família do adolescente foi até o 3º DP de São Bernardo do Campo para tentar descobrir seu paradeiro. Após recolher informações dos parentes, uma equipe de investigadores seguiu até a Rua Jurubatuba, no Centro da cidade, onde localizaram um dos rapazes da imagem.

A tortura

O tatuador Maycon Wesley Carvalho dos Reis, 27 anos, e o vizinho Ronildo Moreira de Araújo, 29 anos, foram presos em flagrante na sexta-feira (9). Já no sábado, a juíza Inês Del Cid, da Vara Criminal de São Bernardo do Campo, decretou a prisão preventiva dos dois.

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Na delegacia, eles disseram que ficaram revoltados, pois o adolescente teria tentado furtar uma bicicleta de um deficiente. Então, “resolveram tatuá-lo como forma de punição”.  A suspeita é que o garoto também tenha sido amarrado pelas mãos e pelos pés.

A ação foi gravada com o celular de Maycon, compartilhada no Whatsapp e viralizou rapidamente. Para o advogado Ariel de Castro Alves, coordenador da Comissão da Criança e do Adolescente do Condepe (Conselho Estadual dos Direitos da Pessoa Humana de São Paulo), que vai acompanhar o caso, o ato foi “gravíssimo”. “A polícia agiu corretamente. Submeter alguém a intenso sofrimento físico e psicológico configura tortura. Se ele estava tentando furtar ou roubar, eles deveriam chamar a polícia e não torturar“, disse ao G1.

Quem é o adolescente torturado por tatuadores

O garoto, que não pode ter o nome divulgado pela questão etária, já chegou a passar por acompanhamento psicológico de conselheiros tutelares em atendimento no Centro de Apoio Psicossocial (Caps). Segundo a família informou à polícia, ele era usuário de drogas e sofre de problemas mentais.

Ao G1, ele afirmou que começou a chorar e “teve vontade de morrer” quando se olhou no espelho e viu a frase “Sou ladrão e vacilão” marcada em seu rosto. Na ocasião, também negou que tenha roubado a bicicleta. “Eu estava bêbado, esbarrei na bicicleta e ela caiu”, afirmou.

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A auxiliar de limpeza Vania Rocha, mãe da vítima, disse que o filho foi tratado com crueldade pelos tatuadores. “Meu filho não é boi, não é animal. Ele não é bicho”, disse. “A gente precisa tirar isso do rosto dele porque ele não é bicho. Muita gente está julgando ele, mas ninguém conhece a história dele. A única coisa que a gente quer é Justiça”, continuou.

A senhora também revelou que não conseguiu assistir ao vídeo em que o filho é tatuado até agora. “Infelizmente, eles vão pagar pelo erro deles. Só tenho pena da família deles. Quando eu recebi o vídeo eu não consegui assistir. Eu vi a foto e isso acabou comigo, acabou com a família“.

Agora, ela espera conseguir ajudá-lo a tratar da dependência. “Ele precisa de ajuda, de tratamento. A gente não tem condições de pagar, a gente é pobre. Eu sou auxiliar de limpeza e estou desempregada. Eu estou acabada, ele pode ser o que for, mas o ser humano não tem direito de fazer isso. Ele é uma criança, ele é doente. Não precisa de críticas, precisa de ajuda, de tratamento”, desabafou ao G1.

Vaquinha para apagar a tatuagem

Solidários com a situação, o grupo de ativistas Afroguerrilha iniciou um financiamento coletivo para a remoção da tatuagem. Durante o domingo, a meta de 15 mil reais foi batida — ao todo, quase 19 mil foram arrecadados.

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Em nota oficial, o coletivo afirmou que alguns estúdios de tatuagem se prontificaram a fazer o procedimento sem cobrar por isso. O dinheiro será destinado para parte dos custos com o processo judicial, ao tratamento psicológico do adolescente e para a avó do garoto, que é responsável por ele e vive situação de extrema pobreza. Na tarde de domingo, com a visita do Conselho Tutelar à casa da família, os parentes chegaram a demonstrar aflição por não ter comida para o almoço.

A prestação de contas da “vaquinha” será pública. Os organizadores estão à procura do dono da bicicleta, que também receberá ajuda finaceira, caso deseje e precise.

O dono da bicicleta

O ambulante Ademilson de Oliveira, 31 anos, dono da bicicleta, condenou o ato de tortura. “Não consegui dormir pensando nisso. Fui dormir com medo, meu coração apertado, chorei nessa noite“,  lamentou. Ele contou que não estava no local, mas, caso estivesse, teria impedido o linchamento: “Não precisava fazer uma barbaridade dessas”.

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Ele relatou que, além de tudo, o objeto está quebrado. “Se pegarem o moleque com isso escrito na cabeça matam o moleque. E a mãe dele, como é que fica?”, questionou em entrevista.

Próximos passos

“Até agora, a possível tentativa de furto por parte do adolescente não está confirmada. O próprio dono da bicicleta não estava lá e não presenciou nada”, disse Castro Alves à revista VEJA.

a tortura é considerada crime hediondo e inafiançável, que pode levar de dois a oito anos de prisão. “Dependendo do tempo pelo qual o jovem permaneceu com os pés e mãos amarrados, eles também podem responder por cárcere privado, além de outros crimes por submeterem um menor de idade a constrangimento e humilhação”, afirma ainda o advogado.

O representante legal da família, Leonardo Rodrigues, disse ao G1 que estão organizando quais medidas jurídicas serão tomadas nos próximos dias. “Vamos avaliar. Primeiro vamos cuidar dele, ele foi medicado, está assustado com o que passou”.

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