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O relato de noivas que adiaram o casamento devido à pandemia de Covid-19

Elas contam como estão lidando com a frustração de ter que atrasar um dia tão especial

Por Colaborou: Maria Clara Serpa
Atualizado em 8 dez 2020, 16h33 - Publicado em 22 mar 2020, 14h00
 (Westend61/Getty Images)
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Faltava pouco mais de um mês para o grande dia de Paloma Conde, que contaria com celebração na igreja e festa para 200 pessoas em Brasília. Até a semana passada, a jornalista e seu noivo acreditavam que a situação da pandemia do Covid-19 se estabilizaria até a data do casamento, marcado para o feriado de 1º de maio. Porém, na última terça-feira (17), decidiram que a melhor decisão seria, de fato, adiar a cerimônia.

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“Estávamos esperando para ver se a situação melhorava, mas essa semana tivemos certeza de que não daria para manter a data porque os casos aumentaram muito, inclusive aqui no DF. Temos convidados de outros estados e até dos EUA e da Alemanha e isso contou muito na hora da decisão, mas não havia como manter o casamento ainda em maio”, relatou em entrevista a CLAUDIA.

A situação enfrentada por Paloma se tornou realidade para várias noivas do Brasil nos últimos dias. No sábado (21), o governador de São Paulo, João Doria, decretou quarentena de 15 dias em todo o estado por conta do novo coronavírus. A medida que determina o fechamento do comércio e de serviços não essenciais começa a valer a partir de terça-feira (24) e vai até o dia 7 de abril. Com isso, festas e casamentos no estado não podem mais ser realizados até que seja determinado o contrário.

A recomendação das autoridades é de que se evite eventos com aglomerações e isso está fazendo diversos casais resolverem adiar os casamentos (poucos são os casos de cancelamento, já que, em geral, com essa proximidade ao evento, boa parte do valor já está pago) para o segundo semestre. A medida está causando conflitos de datas nos buffets e espaços para eventos.

Larissa Coelho, gerente do espaço de eventos Lugar 166 conta que já teve de adiar mais de dez eventos, sendo que alguns deles seguem com datas em aberto, já que não há finais de semana disponíveis suficientes até o fim do ano. “Quando a situação piorou, nós mesmos sugerimos o adiamento para nossos clientes. Tentamos encaixar os eventos adiados para o mais próximo possível da data original, mas como não sabemos ainda quando a quarentena deve acabar, fica difícil conseguir fechar as datas. Não há sábados suficientes até dezembro para que consigamos remarcar todas as festas, casamentos e aniversários”, explica.

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(Pinterest/Reprodução)

O mesmo ocorreu com Aline Gevezier, de São Paulo, que se casaria no dia 10 de abril. “Estávamos programando o casamento há mais ou menos 10 meses. No início da pandemia, o espaço do eventos nos disse que ninguém havia os procurado para cancelar ou adiar e que não havia motivos, mas resolvemos que seria o melhor a se fazer pelo bem-estar dos convidados, apesar de serem apenas 105 pessoas. Não faria sentido um evento em que a gente não pudesse se abraçar ou tivesse que usar máscaras”, contou. Ao buscar uma nova data no mesmo local, o casal só conseguiu o dia 26 de dezembro, logo após o Natal.

“Como temos parentes de fora, nosso casamento seria no feriado da Sexta-Feira Santa, além de ser mais barato por ser uma sexta e não em um sábado. Quando fomos remarcar, só havia domingos disponíveis e eu não queria. Essa data foi a única que consegui, mas está longe de ser a que nós queríamos”, lamenta Aline.

As empresas podem cobrar taxas?

Em situações normais, as empresas podem sim cobrar uma taxa por cancelamento ou adiamento de eventos para arcar com quaisquer gastos que já possam ter feito para o dia da celebração. Na atual situação ainda não há consenso se as multas podem ou não ser cobradas, mas como se trata de um momento em que o próprio governo instrui para que não haja aglomerações, os buffets, em geral, não estão cobrando a taxa. Para casos em que os espaços se recusem a adiar ou cancelar, o contratante pode entrar com um processo alegando que um decreto estadual ou municipal impossibilita a realização do evento.

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O mesmo está ocorrendo com companhias aéreas. Em todo o país, viajantes estão conseguindo remarcar suas passagens que seriam utilizadas em datas durante a pandemia de Covid-19 sem maiores problemas. Empresas do segmento de todo o mundo estão flexibilizando suas condutas de remarcação e cancelamento.

Paloma, que teria uma irmã vinda dos Estados Unidos, disse que ela ainda não remarcou a passagem, mas que tudo indica que não terá problemas para realizar a troca. Aline também conta que remarcar passagens não foi um problema para convidados que viriam do Paraná para São Paulo.

A situação das empresas de eventos

O momento é difícil para os noivos, mas também para o segmento de eventos, que deve ter uma queda drástica nos lucros nos próximos meses. As empresas da área movimentam milhões anualmente e geram muitos empregos. “As empresas que não têm um caixa, um bom planejamento e capital de giro terão meses ainda mais difíceis. Nós perderemos mais ou menos 13 finais de semanas em que estaríamos faturando devido a epidemia”, conta a gerente Larissa.

Buscando tornar a situação um pouco menos dolorida, empresas de eventos e turismo de várias cidades do país criaram a campanha “não cancele, remarque”, para estimular o público a apenas adiar os planos para quando a situação estiver menos caótica. Assim, as empresas e o próprio contratante perdem menos dinheiro. “Outro problema é o fato de que, no segundo semestre, há um reajuste natural no valor de bebidas e comidas, o que faria com que os casais tivessem que pagar a mais. Estamos estudando uma maneira de evitar isso e encontrar uma saída que seja aceitável para ambos os lados, fazendo parcerias com os fornecedores. É um momento de muita frustração, devemos lidar de forma mais humana e menos corporativa”, finaliza.

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Lua de mel também foi cancelada

Apesar da situação alarmante e dos riscos à saúde, é inevitável que os casais fiquem frustrados e tristes com a necessidade de remarcar o casamento. Aline conta que o sentimento se intensificou ainda mais devido ao estresse de tentar conseguir uma nova data e ter que adiar também a viagem de lua de mel. “O espaço foi compreensivo, mas, ao mesmo tempo, não nos deram prioridade na escolha de datas, apesar da proximidade do nosso casamento. Foi muito estressante ficar pensando nisso por dias, a sorte é que tínhamos uma assessoria para entrar em contato com todos os fornecedores e os convidados. Outro lado ruim foi remarcar a nossa viagem para as Maldivas. Agora vamos no Ano Novo e o preço é bem mais alto devido à procura”, conta.

Paloma já estava programando a festa há mais tempo. Ela e o noivo namoraram por 8 anos e já estavam noivos há 1 ano e 7 meses, planejando o dia. “Chorei bastante quando tomamos a decisão, mas foi inevitável. O civil também foi adiado. É frustrante sim, mas só adiamos um sonho, é algo que ainda vai acontecer. O lado bom foi que já nos mudamos e agora estamos morando juntos no nosso apartamento, antes mesmo de casar.”

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