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“A roupa deve servir ao indivíduo, não o contrário”, diz Cecília Gromann

Conversamos com a fundadora e diretora criativa da Anacê, que retorna às passarelas com a coleção Córion neste mês

Por Lorraine Moreira
Atualizado em 5 jun 2024, 11h59 - Publicado em 5 jun 2024, 10h00
Cecília Gromann, diretora e fundadora da Anacê
Anacê encontra referências na teoria e na nostalgia do guarda-roupa da família (Tauana Sofia/Divulgação)
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Passado, presente e futuro se conectam na moda de Cecília Gromann. Aos 25 anos, a fundadora e diretora criativa à frente da Anacê aposta na tradição da alfaiataria e no olhar atento ao contemporâneo para pensar numa nova forma de consumo. A materialização desses aspectos chega ao público em 13 de junho, no primeiro desfile independente da marca, com a segunda coleção assinada unicamente por Cecília.

A mensagem por trás do desfile da Anacê

A linha traduz a relação humana com os objetos e como eles consumam nossa existência. Não à toa, recebeu o nome de “Córion”, membrana que envolve o embrião no útero, e referenciou obras como o livro O casaco de Marx, de Peter Stallybrass. “A roupa deve servir ao indivíduo, não o contrário”, reforça a designer em entrevista à CLAUDIA.

Essa nova empreitada é resultado de um trabalho que começa no final de 2023, depois de um ano sem desfiles para refletir sobre o formato e o produto da etiqueta, mas também dos sucessivos questionamentos que surgiram antes mesmo do projeto.

“O processo criativo não é linear, envolve referências diferentes que se unem no final. É uma construção imagética e de reflexão contínua, baseada no que vivemos e observamos no dia a dia”, aponta a diretora criativa.

Denim, tricô e modelagens revisitadas são destaques da coleção, que foca na durabilidade e no artesanal, e será apresentada na Herança Cultural, um galpão de design mobiliário nacional.

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Como a Anacê se diferencia no setor?

A base criativa da marca é a nostalgia do guarda-roupa de família, das questões de código de gênero e do respeito pelo ofício tradicional. “Minha vontade sempre foi revisitar a alfaiataria e mantê-la viva, porque os alfaiates estão envelhecendo e a nova geração de estudantes de moda não quer trabalhar com mão de obra artesanal.”

Cecília, que é pós-graduada em Cultura e Consumo pela USP, leva os aprendizados acadêmicos para suas criações. “A formação acadêmica impacta na reflexão da marca como pesquisa e no estudo sobre o objeto em si”, conta. 

Para promover uma moda mais igualitária, a Anacê desenvolveu modelagens próprias, que servem tanto para o público masculino quanto para o feminino, evitando a necessidade de dois segmentos de vestuário na marca.

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“A alfaiataria tem um lugar democrático em relação ao gênero e corpo”, esclarece Cecília.

Nada disso chega sem entraves: “O grande desafio é a falta de apoio de políticas públicas para a moda no Brasil. Temos que aprender a trabalhar com as ferramentas disponíveis e, frequentemente, a estrutura financeira, os impostos e, muitas vezes, a falta de regulamentação são questões complicadas para marcas independentes”, finaliza Cecília.

Ainda assim, a marca segue dando frutos que comprovam o talento do setor.

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