Como traduzir as tendências das Semanas de Moda Primavera/Verão 24
Conversamos com Renata Brosina e Ana Vaz para desvendar como adaptar as coleções à vida real
No último mês, vimos as produções magníficas que passaram pelas passarelas das quatro maiores semanas da moda no mundo – Nova Iorque, Paris, Londres e Milão – e ficamos atentas às maiores tendências da temporada Primavera/Verão 24. Mas, afinal, existe maneira de traduzir o que foi desfilado para a vida real?
Os impressionantes vestidos drapeados da Givenchy e a JW Anderson, os metalizados atemporais de Coperni, as peças absurdamente volumosas e o retorno dos minis foram algumas das grandes apostas das maiores grifes do mercado da moda.
Diversas das peças que vemos nas semanas de moda formam parte de coleções haute couture, uma moda feita sob medida para clientes exclusivos, se mostrando muitas vezes inacessível. Então, como trazer isso de maneira realista? Conversamos com Renata Brosina, jornalista fundadora da Portrait Fashion Magazine e colunista da Claudia, e Ana Vaz, consultora de estilo e diretora da Butique de Cursos, para democratizar as apostas . Veja só:
Principais tendências da temporada
Antes de entender como adaptar o que vimos nesta última temporada, precisamos analisar o que teremos que incorporar em nossas rotinas a partir dos desfiles das maiores maisons do mercado.
“Eu acredito que tem dois movimentos muito grandes que dá para notar dos últimos desfiles. O primeiro deles é o comprimento super curto, que varia entre as calcinhas e os micro shorts, com destaque para as calcinhas bordadas da Miu Miu. Acho que, aqui no Brasil, vai ser adaptado de outra maneira, não acredito que vai ser ipsis litteris ao que a Miu Miu fez, mas eles têm toda essa força e devem pegar”, reflete Renata.
A jornalista também destaca o retorno dos flats – também conhecidos como as famosas rasteirinhas – , especialmente no desfile da Chanel. Por ser uma temporada de verão, a profissional acredita que a simplicidade vista os pés durante a temporada.
“O que a gente vê, em relação às silhuetas, são aquelas mais próximas do corpo, mais alongadas – com aquela cara dos anos 1990 e, inclusive, dos anos 197’”, aponta Ana. Isso não significa que a gente não tenha, ainda, as silhuetas oversized, principalmente quando afalamos de alfaiataria, que é algo que continua firme e forte na moda – sendo uma técnica de construção, costura e modelagem.
Durante as últimas semanas de moda – as chamadas big four – observamos o retorno de peças atemporais, que Ana atribui aos tempos de crise mundial que passamos, assim como vimos nas temporadas de 2008.
Com isso, temos o uso em abundância de tons neutros e looks monocromáticos, acentuando a diminuição do uso de cores vivas e, também, do uso exagerado de estampas. Tal fenômeno fashion foi visto, por exemplo, no desfile da Versace na Semana de Moda de Milão, no qual a maison apresentou ao mundo uma coleção adepta ao quiet luxury, com peças simplificadas e com uma estamparia clássica e delicada de xadrez.
“E o artesanal, muitas vezes, vai ser utilizado em substituição aos elementos visuais mais chamativos e fáceis de produzir, como cores intensas e marcantes. O artesanal é uma maneira das marcas que trabalham com um formato mais slow garantirem a originalidade e a autenticidade dos seus itens”, agrega a consultora de estilo.
Ademais, elas ressaltam o retorno da saia lápis, como as vistas nas modelos da Versace.
Prêt-à-porter X Haute Couture
Peças magníficas e extravagantes que jamais poderiam ser usadas para o nosso dia a dia, o clássico haute couture, é o que mais surge no imaginário quando pensamos em semanas de moda.
Porém, algumas casas de moda produzem coleções prêt-à-porter, isto é, prontas para o uso, que podem ser adaptadas com maior facilidade, apesar de ainda serem destinadas para os maiores nomes da moda.
“Principalmente por conta do movimento do street style, de uma certa forma, os desfiles começaram a apresentar que a moda não é vista apenas pelo olhar da passarela. Antigamente, a moda era ditada pelas marcas e, muitas vezes, a gente demorava para assimilar o que era visto na passarela e o que de fato ia para a vida real. Eu achei muito interessante, porque isso acabou se tornando algo muito genuíno”, analisa Brosina sobre o crescimento do utilitarismo.
Marcas tradicionais do mercado da moda, como a Prada e a Dior, trazem muito deste olhar, fazendo parte do DNA da marca.
“Quando alguém me fala ‘utilitário’, eu não penso só na calça-cargo e nas peças militares, que muitas vezes a Prada faz. Eu penso muito no uniforme do nosso dia a dia. Para mim, jeans e camiseta são peças utilitárias”, completa a jornalista.
Mas, é claro, todos ficamos encantados pelos visuais extravagantes das passarelas, e ao mesmo tempo boquiabertos pela falta de praticidade na nossa rotina.
“Os desfiles sempre foram uma espetacularização do produto, ou pelo menos os desfiles modernos. Se trata da valorização desse produto de moda que é super industrial, mostrado como um produto único, elaborado, e de um luxo exclusivo. Mas a verdade é que ele não é exclusivo, e sim excludente”, aponta Ana. Portanto, ela destaca que, como consumidores, devemos olhar para os desfiles como um lugar de inspiração e de soluções criativas..
Aprendendo com a moda
“Quando a gente fala de moda, é difícil a gente falar sobre jeans e camiseta, mas eu acho que quando a gente fala sobre a vida real mesmo, acabamos trazendo muito desse olhar para o que a mulher deseja. Está muito mais relacionado a conectar a moda com a vida real, mas sem perder essa essência, que é a essência de fazer as pessoas sonharem e ficarem surpresas”, comenta a fundadora da Portrait Fashion Magazine.
Ela também destaca que, hoje em dia, não estamos mais presos ao famoso ‘grito da moda’, assim você pode ter o seu próprio estilo e usar o que você acredita.
“Para o consumidor, é importante que ele busque o que pode ser estéticamente relevante para ele, o que tem a ver com as memórias dele”, pensa Ana.
Inspirações para ousar
Uma das principais recomendações das profissionais é ficar atento às tendências fora das passarelas das semanas de moda, isto é, no street style que vimos durante esse período.
E, claro, busque inspirações que se adequem ao seu próprio estilo de vida – não é todo mundo que deve se sentir confortável com todas as peças.
Nas passarelas, a temporada foi de sobreposições! Por isso, ouse e deixe sua criatividade fluir. Vale, por exemplo, sobrepor saias mini e cvestidos longos.
E como nem tudo é sobre peças, estamos procurando também por cores, não é? As semanas de moda mostraram um crescimento do verde, que se tornou a cor aposta de 2024, além do azul, vermelho e rosa.
Mas se você não é fã das cores vibrantes e está procurando por cores neutras e calmas, a temporada também mostrou que nude e tonalidades pastel têm espaço.
Pensando em comprar peças com estampas? As passarelas mostraram diversas roupas florida. Isso não significa que você precisa incorporar aqueles designs com flores 3D ao longo da roupa toda – apenas encontre peças que se adequam ao seu gosto, podendo trazer desenhos maxi ou minimalistas.
E falando em tecidos, priorize peças acetinadas ou sedosas, que trazem um ar fresco e de verão. Uma das principais grifes a trazerem peças utilitárias durante a temporada Primavera/Verão 24 foi a Coperni, que demonstrou a permanência da alfaiataria dentro dos nossos armários e nossos corações – e a gente não reclama!
Se você quer um look mais descolado, eles também combinaram calças sociais com jaquetas de couro – bem rocker, né? Além disso, a maison ousou no uso de diversas peças jeans, de calças até blusas.
Pronta para a temporada?