Black Friday: Assine a partir de 1,49/semana
Continua após publicidade

Como “O Diabo Veste Prada” dialoga com a atual indústria da moda

Com o anúncio do lançamento da segunda parte de O Diabo Veste Prada, é hora de refletir sobre as principais mudanças que a moda enfrentou nos últimos 18 anos

Por Renata Brosina
22 set 2024, 07h00
Continuação de "O Diabo Veste Prada" promete evidenciar dilemas da indústria atual.  (Catarina Moura/Divulgação)
Continua após publicidade

“Milhares de garotas matariam para estar no seu lugar.” Em 2006, essa frase do filme O Diabo Veste Prada ressoava na minha cabeça. Na época, eu estava me aventurando a fazer vestibular de Moda (e me tornar a alienígena nos almoços de domingo, com tantos advogados na minha família) e achava tentador entrar nesse mercado tão competitivo.

No caso de Andy Sachs, personagem de Anne Hathaway no longa, o RH tinha sagacidade para entrevistá-la. Na vida real, não era bem assim, não apenas no mercado editorial, mas em toda a indústria da moda.

Todo sistema era completamente diferente do que vemos hoje — podemos apelidar de “vintage” o passado não tão distante? Veremos, inclusive, na sequência que teve sua produção anunciada nas últimas semanas. Há sinais relacionados à nova narrativa que acompanha ipsis litteris o que vem acontecendo nos últimos quinze anos. Se Miranda Priestly antes estava no poder, hoje parece que ela depende de sua ex-assistente, Emily Charlton, que agora trabalha em uma marca de luxo, para manter sua posição.

Na primeira década dos anos 2000, o mercado fashion que me atraía era outro. Das revistas de moda também. Se olharmos com distanciamento, não apenas de tempo, o movimento da época exaltava tudo o que questionamos hoje, seja pela efemeridade das coleções, assassinadas a cada seis meses pelas próprias marcas, ou pelo excesso de consumo sem pensar na responsabilidade social ou ambiental.

John Galliano, durante a sua passagem pela maison Dior, era responsável por desenvolver mais de dezesseis coleções por ano, incluindo as preciosas peças de Alta-Costura, Prêt-à-Porter e acessórios, além dos espetáculos construídos para cada show da grife.

Karl Lagerfeld, que dividia sua agenda criativa entre a italiana Fendi e a francesa Chanel, também disputava o pódio de desfiles e criações mais marcantes da estação. Esse sistema se replicava em outras labels, ainda que segmentadas, para acompanhar o espírito caótico do momento.

Continua após a publicidade

A cereja do bolo foi o momento da logomania, em que as principais marcas estampavam suas iniciais da cabeça aos pés — porque, não bastava a estética glam e pop viralizar nas passarelas das principais capitais da moda, era preciso enfatizar os logos de Dior Oblique ou o monograma da Louis Vuitton.

Como consequência desse distanciamento de valores de tradição e savoir faire, algumas grifes flertaram com o descartável, deixando seu diferencial de valor de lado. Hoje, o movimento é de resgate das raízes para mostrar ao consumidor o que há por trás de um produto caro, o que inclui as horas de trabalho manual especializado e o material de excelente qualidade usado nas produções.

No entanto, o comportamento de duas décadas atrás acabou reforçando o título de “fútil” para um mercado que, como sabemos, carrega uma importância vital à sociedade. Afinal, a essência da moda, além da proteção física, é a comunicação e o que o indivíduo quer expressar sobre a sua personalidade e seus interesses.

Foi assim, aliás, que o termo “fashion victim” se popularizou. Afinal, estar na moda estava diretamente ligado à tendência do momento — independentemente do seu gosto pessoal.

Continua após a publicidade

Usar cintura alta enquanto o cós despencava cada vez mais? Careta, ultrapassado e desinteressante. Entretanto, alguns nomes, entre eles Giorgio Armani e Valentino, mantiveram seus olhares avessos a seguir a ditadura semestral que todos deveriam usar.

Colagem de fotos de momentos marcantes na moda e no filme
Colagem com momentos marcantes no filme e na moda (Catarina Moura/Divulgação)

Apesar de boas cenas de lucidez da personagem de Meryl Streep, principalmente, quando responde à expressão de desprezo de sua assistente, Andy Sachs, em relação à moda, Miranda Priestly também é uma imagem caricata do que representava uma editora-chefe de uma revista de moda.

Afinal, com todas as transformações relacionadas à comunicação de moda, seja pela digitalização das revistas, pelo poder das redes sociais e independência das marcas para se comunicarem diretamente com o seu público, a decisão sobre qual seria o azul ou a silhueta da temporada não é mais tomada na sua sala.

Continua após a publicidade

Há mais vozes e criações de conteúdo de qualidade que se disseminam com mais rapidez do que a edição que levava meses para publicar os destaques do que foi visto numa fashion week.

A representação de Miranda Priestly, na revista fictícia Runway, é inspirada em Anna Wintour, uma das figuras mais emblemáticas da história da moda, que comanda há décadas a Vogue norte-americana.

Apesar do corte de cabelo da personagem de Meryl Streep ser diferente do de Anna, a aura poderosa e temida está ali, incluindo uma postura que, nos dias de hoje, não é apenas demodê, mas transcende o aceitável em relação às suas assistentes.

Mas nem todas as figuras que ocupavam esse cargo na vida real seguiam esse mesmo script. Do outro lado do oceano, o comportamento discreto, elegante e sempre sorridente da comandante da edição italiana da Vogue, Franca Sozzani, representava um tom mais amigável para a moda — e também vestia Prada. Entre as duas, sempre fui team Franca. Antes e depois da moda.

Continua após a publicidade

Assine a newsletter de CLAUDIA

Receba seleções especiais de receitas, além das melhores dicas de amor & sexo. E o melhor: sem pagar nada. Inscreva-se abaixo para receber as nossas newsletters:

Acompanhe o nosso Whatsapp

Quer receber as últimas notícias, receitas e matérias incríveis de CLAUDIA direto no seu celular? É só se inscrever aqui, no nosso canal no WhatsApp

Continua após a publicidade

Acesse as notícias através de nosso app 

Com o aplicativo de CLAUDIA, disponível para iOS e Android, você confere as edições impressas na íntegra, e ainda ganha acesso ilimitado ao conteúdo dos apps de todos os títulos Abril, como Veja e Superinteressante. 

 

Publicidade

Essa é uma matéria fechada para assinantes.
Se você já é assinante clique aqui para ter acesso a esse e outros conteúdos de jornalismo de qualidade.

Black Friday

A melhor notícia da Black Friday

Impressa + Digital no App
Impressa + Digital
Impressa + Digital no App

Moda, beleza, autoconhecimento, mais de 11 mil receitas testadas e aprovadas, previsões diárias, semanais e mensais de astrologia!

Receba mensalmente Claudia impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições
digitais e acervos nos aplicativos de Veja, Veja SP, Veja Rio, Veja Saúde, Claudia, Superinteressante, Quatro Rodas, Você SA e Você RH.

a partir de 10,99/mês

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.