Especial Dia da Mulher: por que nossas conexões são tão importantes?
Coletivos, grupos e redes de apoio são fundamentais para as conquistas femininas e, na pandemia, se tornam ainda mais críticos para as mulheres
A união faz o poder. Os coletivos de mulheres e as redes de apoio foram e são fundamentais para as nossas lutas e conquistas. A coletividade e o senso de pertencimento devolvem o empoderamento que, por muito tempo, nos foi retirado. “Coletivamente, conseguimos recuperar os nossos contornos individuais”, diz a psicanalista Manoela Xavier.
Por isso, hoje, Dia Internacional da Mulher, e ao longo desta semana, a equipe de CLAUDIA se debruça sobre os mais diversos grupos, coletivos e redes de apoio formados por e para mulheres.
Decidimos focar nesse tema porque ele nos pertence há milênios. Grupos e redes femininas resgatam a lógica de transmissão de saber matricêntrica, anterior ao patriarcado, essa instituição que desprezou e nos retirou a autoridade de mulheres sobre conhecimentos ligados a ciência, medicina, o parto, educação e a criação dos filhos, por exemplo.
Além do empoderamento, as conexões entre as mulheres trazem reconhecimento e acolhimento. “Faz com que a gente não se sinta sozinha e que consigamos dar suporte e apoio umas às outras, assim nos sentimos capazes e entendemos que não somos inimigas entre nós, o que permite um mapeamento poderoso do sistema”, explica Manoela.
Com cerca de 80 mil mulheres conectadas, o grupo Mulheres do Brasil, que tem na diversidade uma de suas principais bandeiras, é um exemplo claro da potência de impacto das organizações femininas na sociedade.
Além de alavancar a carreira, empoderar mulheres a assumir cargos de alto comando e conectá-las a executivas que já estão em posições de poder, o grupo tem um trabalho amplo e expressivo de fomento ao empreendedorismo feminino em núcleos espalhados por mais de 140 localidades do Brasil.
“A gente precisa desse trabalho localizado, tem questões suscetíveis que são diferentes, uma região não é igual a outra”, diz Marisa Cesar, CEO do Mulheres do Brasil. Apesar de a formação inicial ter partido de um grupo de executivas, lideradas por Luiza Helena Trajano, presidente do conselho de administração do Magazine Luiza, o Mulheres do Brasil há muito tempo extrapolou os limites do mundo corporativo e hoje abraça mulheres em todos os níveis e estágios profissionais.
“As mulheres aqui se conectam não porque têm crachá. Aqui o que importa é a pessoa física, esse é o nosso diferencial”, diz Marisa, que cita a importância do trabalho que também tem sido feito para qualificar e empoderar mulheres microempreendedoras de 42 comunidades brasileiras.
As microempreendedoras se tornaram um dos grupos mais afetados pela crise sanitária e econômica que se instalou no Brasil com a pandemia – e a importância da rede de apoio ficou ainda mais explícita. “Tivemos que mudar nossa tática e passamos por um momento de assistencialismo, buscando empresas e fazendo doações de cestas básicas”, explicou Marisa.
Na opinião, de Manoela Xavier, a pandemia, mais do que agravar as desigualdades sociais e de gênero, deflagrou o isolamento em que muitas mulheres sempre viveram. “Mães solo, donas de casa sempre viveram isoladas. Quem pôde, só agora, se descobrir vivendo esse isolamento, tem algum privilégio”, diz a psicanalista.
A explosão nos casos de violência doméstica também escancarou que o perigo está dentro de casa. E, nesse contexto, se faz ainda mais crítica a ajuda e proteção vinda por meios de grupos e conexões. A boa notícia é o crescimento exponencial da coletividade feminina. “Houve sim mais poder nesse tipo de conexão, tudo foi ficando virtual. Quantos coletivos e quantas redes, grupos de Whatsapp começaram a aparecer”, diz Manoela.
O próprio Mulheres do Brasil dobrou de tamanho. “Éramos 38 mil mulheres e agora somos 80 mil”, diz a CEO. Ao longo desse período, temáticas como saúde mental e apoio emocional foram alguns dos trabalhos mais relevantes desenvolvidos pelas mulheres do grupo. E não para por aí.
Nas últimas semanas, o Mulheres do Brasil também se prontificou a usar sua rede de influência e trazer a iniciativa privada para a linha de frente do combate ao coronavírus, auxiliando e acelerando a imunização da população brasileira, por meio do Movimento Unidos Pela Vacina. Definitivamente, a união faz a força.
Durante essa semana, CLAUDIA vai abordar a importância dos grupos de apoio em diferentes searas da vida feminina. Desde o acolhimento em redes de mães ao estímulo e apoio nos coletivos de trabalho, passando pela liberdade dos grupos que discutem sexo. Veja todas as matérias aqui.