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Renato Góes: “estou aqui para investir em algo que acredito”

O ator cursa faculdade de história e não perde as missas na igreja perto de sua casa

Por Texto: Elizabete Antunes | Styling: Anderson Vescah
Atualizado em 27 jan 2019, 19h31 - Publicado em 27 jan 2019, 19h30
 (Jorge Bispo/CLAUDIA)
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Depois de pedir apenas um refrigerante, Renato Góes não resiste aos apelos da confeitaria, no Jardim Botânico, no Rio de Janeiro, onde conversou com a equipe de CLAUDIA, e devora um milk-shake de Nutella também. “Sou uma formiguinha”, entrega, sem se preocupar com as calorias extras. “Deixo meu corpo à mercê do meu trabalho. Não emagreço ou fico mais forte por vontade própria. Sempre é em função de um personagem. Se dependesse de mim, nunca faria dieta. Eu gosto de coisas saborosas, e o meu paladar prefere açúcar, gordura, fritura. Tento mudar e substituir um doce por uma fruta, por exemplo, mas só sou disciplinado quando estou me preparando para um papel.” E ele prova sua determinação. No filme Legalize Já – Amizade Nunca Morre, o ator pernambucano, que completou 32 anos em dezembro, precisou emagrecer mais de 10 quilos em um mês para interpretar o rapper Marcelo D2. Saiu de 81 quilos (seu peso atual) para 69. “Sofri muito”, confessa. “Tinha uma dieta de 500 calorias por dia. Não comia nada. Depois acabei engordando um pouco porque comecei a me sentir sem energia.” O longa, que entrou em cartaz em outubro de 2018, sob direção de Johnny Araújo e Gustavo Bonafé, foi um dos maiores desafios de sua carreira. “Sinto muito orgulho desse projeto. Eu me dediquei totalmente. Cheguei a trabalhar como camelô no Largo do Machado (zona sul carioca)”, conta ele, referindo-se ao antigo emprego do personagem, o vocalista da banda Planet Hemp, criada na década de 1990.

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Renato usa: Jaqueta e camiseta, Ellus; Jeans, Reserva (Jorge Bispo/CLAUDIA)

Na TV, a dedicação é a mesma. Renato, que a partir de março viverá o libanês Jammil, protagonista de Órfãos da Terra, novela das 6 da Globo, começou a estudar árabe por conta própria três meses antes do início da produção. “Peguei livros, filmes e vídeos. Mas a língua foi a primeira coisa que eu procurei entender. Como Jammil é muçulmano, também li um pouco do Alcorão (livro sagrado do Islã)”, relata o ator, que, com seu forte sotaque nordestino, tem aulas para acertar a pronúncia durante as gravações.

Thelma Guedes e Duca Rachid assinam a trama em que ele se apaixonará por Laila, refugiada vivida por Julia Dalavia. Mexendo no bigode, que deverá manter (“Entra no nariz e faz cosquinha”), Renato destaca que, mais uma vez, fará algo que deve ir além do entretenimento. É o que mais o motiva a seguir na profissão. Órfãos da Terra abordará o drama dos sírios. “Em Velho Chico (em 2016, fez o papel principal na primeira fase, de 30 capítulos), levantamos a bandeira dos povos ribeirinhos. Em Os Dias Eram Assim (também protagonizado por ele, em 2017), falamos da época da ditadura. É muito bom interpretar personagens que tenham uma causa, uma voz. Não é uma novela ou uma série qualquer, transmite uma mensagem. Os meus trabalhos têm sido assim, e eu prezo isso demais.” Renato contracenará com o refugiado sírio Kaysar Dadour, ex-participante do Big Brother Brasil 2018. Ele garante que a experiência está sendo enriquecedora, sem nenhum olhar torto em relação à escalação de um ex-BBB. “Acho que ele viveu uma história de superação muito grande antes de entrar para o reality. É um cara carismático e disposto. Se souber levar o empenho e a alegria dele para o personagem, a gente só tem a ganhar.”

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(Jorge Bispo/CLAUDIA)

Para entender melhor a história, ele visitou centros de acolhimento para refugiados, em São Paulo, onde a novela se passará, e ouviu depoimentos fortes e encorajadores. Mas o galã faz sua crítica. “Apesar de São Paulo recebê–los muito bem, na minha opinião, o restante do Brasil não faz por onde, não se abre, não tem projeto. Claro que o nosso país nem é o pior, a gente vê o que acontece na Europa, mas eu acho que faltam campanhas grandes para as pessoas entenderem tudo que está acontecendo. Dizer que eles são a escória do mundo e tratá-los dessa maneira é um absurdo”, discursa.

Entrevistado que olha nos olhos do seu interlocutor e pede licença para ver as mensagens no celular, Renato faz questão de se posicionar sobre qualquer assunto. “Se houvesse um plebiscito pela legalização da maconha, eu votaria sim. Antes de fazer o Legalize Já, apesar de o filme não tratar disso, de não ser um ‘filme de maconheiro’, como tem muita gente desinformada falando, eu já tinha mais ou menos uma opinião formada. O que tem que ter é uma quebra de tabus, é a informação. Antes de querer um plebiscito, é preciso informar as pessoas. A mesma coisa com o aborto. As pessoas acham que é basicamente tirar a vida de um bebê, quando, na verdade, toda mulher que quer fazer vai lá e faz. A diferença é que as ricas têm dinheiro para pagar uma clínica cara, e as pobres não; muitas vezes morrem fazendo procedimentos ilegais. Então, sou a favor da informação.”

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(Jorge Bispo/CLAUDIA)

No início de 2018, Renato viveria o protagonista no folhetim Deus Salve o Rei. Mas ele e o diretor, Fabrício Mamberti, não se entenderam no set. “Não houve briga, nunca discutimos, mas não batemos muito um com o outro. O tipo de trabalho dele e o modo de condução não me interessaram. Provavelmente a minha entrega também não lhe agradou. E meu cansaço pesou. Era o terceiro herói protagonista seguido que eu ia fazer. Os dois perderam a vontade”, diz ele, que não se considera um galã. “Não alimento isso. E atribuo o termo ao figurino, ao cabelo que os personagens usam… Não acho que eu tenha um rosto bonito, desenhado. A barba não é perfeita, não tenho olhos claros nem nariz afilado. É tudo padrão.” Quando desfilava com seu rosto padrão em Recife, com 15 para 16 anos, tinha de esconder com uma pomada as marcas do vitiligo da perna esquerda. “Já me falaram para cobrir com uma tatuagem, mas nunca tive vontade. É só nessa parte do corpo. Fiz terapia dos 13 aos 18 anos porque o médico me disse que era algo emocional. E, realmente, teve a morte do meu avô, a separação dos meus pais (Regina e José) quando eu tinha 6 anos, muita coisa aconteceu.” O que Renato gostaria de esconder (ou apagar) é a tatuagem que fez no braço direito, aos 14 anos, às escondidas dos pais. “Era para ser a palavra felicidade em chinês, mas está escrito de maneira errada. Abri o álbum do tatuador e escolhi na hora, sem checar nada”, conta, rindo.

Descontraído, de jeans e tênis branco, ele mostra, a pedido da repórter, o cordão que esconde por debaixo da camiseta, com um pingente com a frase “Te amo”. O acessório foi um presente da atriz Thaila Ayala, 32 anos, no Dia dos Namorados. Juntos há um ano, falam em se casar. “Estou louco para que a gente comece uma família. Tenho vontade de casar na igreja e também de fazer uma cerimônia diferente, na praia. Mas, antes, tem que ter o noivado, tudo direitinho. Quem sabe em 2019?”, pergunta, com um leve sorriso no rosto. “Estou doido para ter filhos.”

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(Jorge Bispo/CLAUDIA)

Católico, o ator costuma ir à missa perto de sua casa, na Barra da Tijuca, zona oeste do Rio, com a namorada, que, entre idas e vindas aos Estados Unidos a trabalho, voltou a morar no Recreio dos Bandeirantes. “Acho que a religião, seja qual for, serve para dar apoio, um norte, para fazer o bem pensando em você e no próximo. Às vezes, nos sentimos muito sós. Nessas horas, a única saída é acreditar em Deus, nessa força.” Em 2018, Renato foi às lágrimas ao viver Jesus na Paixão de Cristo em Nova Jerusalém (PE). De 2006 a 2010, fez o apóstolo João. “Eu chorei no ensaio, durante o espetáculo, depois que terminou. Foi uma emoção muito forte.”

Renato veio para o Rio, sozinho, há 13 anos. Depois de se formar na Escola Sesc de Teatro de Recife, pediu aos pais que o ajudassem a fazer um curso de interpretação de 20 dias na renomada Casa das Artes de Laranjeiras. Para não gastar dinheiro com hotel, foi morar com uma prima. Só que os testes foram começando a aparecer, um dinheirinho a mais caiu na conta, e ele só voltou para Recife para pegar suas coisas dez meses depois. “Os primeiros anos foram difíceis, mas eu tinha em mente que não estava aqui para sobreviver, e sim para investir naquilo em que acredito”, conta ele, que trabalhou como estagiário no programa Happy Hour (exibido de 2007 a 2008, no GNT) e produtor. “Mas sempre tinha gente me ajudando. Quando saí da casa da minha prima, fui morar em um condomínio, na Ilha da Gigoia (Barra da Tijuca), onde todo mundo era músico, ator, artista. A maioria encarava uma condição complicada, porém um apoiava o outro. Se não tinha água, o vizinho emprestava. O mesmo com passagem de ônibus, carros. Foi a salvação”, relembra.

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(Jorge Bispo/CLAUDIA)

A estreia na Globo foi em uma participação na novela Pé na Jaca, de 2006. “Mas a virada da minha carreira aconteceu em Velho Chico. As pessoas passaram a conhecer mais o meu trabalho”, avalia. E a abordá-lo nas ruas. Quando foi trabalhar de camelô para o Legalize Já, teve de driblar algumas fãs que queriam uma selfie com o Santo (papel vivido na segunda fase por Domingos Montagner, que faleceu em 2016) da novela das 9. “Quando alguém me reconhecia, eu pedia para não falar alto, para eu poder continuar o meu laboratório para o filme”, conta ele, que vendia pilhas, capa para celular, bateria. “O mais difícil era guardar o preço das mercadorias de cabeça. Eu me enrolava todo”, diz.

No cinema, começou fazendo participações em Tropa de Elite (2007), de José Padilha, e Polaroides Urbanas (2008), de Miguel Falabella. Em 2019, o ator estará também em O Riso de Ariano (ainda sem data de lançamento). O filme, dirigido por José Eduardo Belmonte, baseado nas aulas-espetáculo de Ariano Suassuna, nos “causos” que o escritor paraibano, falecido em 2014, contava nas aulas dele, será exibido na Globo em formato de série. Renato ainda participa do docudrama O Corpo É Nosso, de Theresa Jessouroun, sobre o feminismo, e Macabro, thriller de suspense policial, de Marcos Prado. “Faço um policial do Bope (Batalhão de Operações Especiais) e aprendi a atirar”, diz ele. Concluir a faculdade de história (ele cursa o quinto período) está em seus planos. “Em Recife, fiz jornalismo e publicidade, mas não terminei. Estudar me enriquece e eu tenho vontade de me formar, de ter um diploma”, afirma, com seu jeito tranquilão. “Sou assim mesmo. Nunca tive pressa para as coisas, não sou ganancioso. Não quero ter mais dinheiro, negócios ou bens do que ninguém. O que chega para mim, eu divido com os outros.”

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