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‘Sentença’, série protagonizada por Camila Morgado, estreia no Prime Video

Drama jurídico fala de racismo, violência policial e problemas estruturais do país com ares de 'thriller' psicológico e personagens complexos e sensíveis

Por Joana Oliveira
Atualizado em 15 abr 2022, 13h03 - Publicado em 15 abr 2022, 12h49
Camila Morgado, Sentença, prime video
 (Prime Video/Reprodução)
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De um lado, uma mãe acusada de matar o assassino de seu filho, vítima da violência policial, amparada por uma advogada que acredita firmemente no poder da Justiça e no direito que todos têm a ela. Do outro, poderosos e poderosas que sustentam a teia de violência e outros problemas estruturais do Brasil. Entre todos eles, pessoas que amam, sofrem e lutam pela sobrevivência, em diferentes contextos socioeconômicos e emocionais. Assim é Sentença, nova série brasileira do Amazon Prime Video, que estreia nesta sexta-feira, 15 de abril. Feita majoritariamente por mulheres, o drama jurídico foi criado por Paula Knudsen, dirigido por Anahí Berneri e Marina Meliande e protagonizado por Camila Morgado. É ela quem interpreta Heloísa, a advogada criminalista que conhece profundamente o sistema prisional do país e que defende o caso de Dinorah, acusada de um crime brutal que ela alega ter sido apenas um ato em legítima defesa (própria e dos que ama). 

Atriz com carreira prolífica no cinema e na televisão, Camila Morgado está acostumada a interpretar personagens com forte carga dramática, como a militante comunista Olga Benário. Apesar disso, ela contou a CLAUDIA que interpretar Heloísa foi um desafio. “Ela me cansava. Eu chegava do set [de filmagem] com muita dor no corpo, porque ela é uma personagem muito reta, muito dura, que não tem muita chance de relaxar…” Ela acompanha o projeto desde seu gérmen, quando a criadora Paula Knudsen começou a escrevê-lo, há cinco anos, e imediatamente convidou-a para ser a protagonista. “Pude ler muito, vi muitas séries, trouxe muitas referências diversas que me fizeram chegar no universo daquela mulher. Tivemos o preparador de elenco Marcelo Boechat, e Beatriz Rizzo, advogada criminalista, me ajudou muito a entender esse lugar tão distante da minha realidade. Li muito sobre encarceramento em massa, desigualdade social e problemas estruturais que a gente enfrenta no país”, diz.

Além dos entremeios do sistema jurídico e penal brasileiro, a atriz também teve que mergulhar no “mundo emocional complexo” da personagem, que, enquanto trabalha no caso de Dinorá que envolve o líder da maior facção criminal do país e as pessoas misteriosas que querem morto a todo custo— desenterra traumas de infância relacionados com um segredo familiar doloroso. Esse é um dos elementos que dão à série um ar de thriller psicológico. “O único momento de afeto que Heloísa tem é quando está com o filho”, diz Camila. E a própria maternidade da personagem tem suas complicações, pois o menino, que é adotado, insiste em querer saber quem é sua mãe biológica. “Heloísa acha que tem muito controle, mas, na verdade, tem um grande descontrole emocional”, acrescenta a atriz.

Além dela, o elenco de Sentença conta com Fernando Alves Pinto, Victor Hugo Martins, Lena Roque, Rui Ricardo Diaz, Heloísa Jorge, Lourinelson Vladmir, Samya Pascotto, Pedro Caetano, Lucinha Lins, Arthur Kohl, Bárbara Colen, Clara Carvalho, Alexandre Apolinário, Marcos Alberto Filho, Eli Ferreira, Leandro Daniel e Sarah Roston. Todos eles foram escolhidos em castings virtuais, devido à pandemia de covid-19, que também obrigou que as gravações, que aconteceriam em São Paulo, ocorressem em Montevidéu, capital do Uruguai. 

Lena Roque, que interpreta Dinorá, celebra que, apesar disso, toda os atores contassem com uma “rede de proteção” na preparação da trama, principalmente com o apoio do preparador Marcelo Boechat. “É uma série sem cenas festivas, muito dramática. Tínhamos que estar muito presentes no aqui e agora, tornar reais aquelas situações limites”, conta a atriz de 36 anos de carreira no teatro, cinema e televisão. Para construir a personagem, ela se inspirou nas tragédias gregas de Antígona e Medeia.  “Eu não podia imprimir um coitadismo, fazer uma ‘pobre mulher preta’. Isso seria mais do mesmo, não era o que eu queria, nem o que o roteiro pedia”, explica. Apesar de ser uma atriz de longa trajetória, Lena admite uma certa insegurança, uma “fragilidade em acreditar” em seu próprio potencial. “Uma atriz negra no Brasil é uma atriz na sobrevivência. E Dinorá também está na lógica de sobrevivência, não necessariamente dela, mas de todas as pessoas que ela ama”, justifica.

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Desigualdades e violências

Em Sentença, os dramas pessoais são construídos a partir das tragédias coletivas de um país onde a desigualdade social e o racismo são estruturais. O pano de fundo da trama também exibe machismo e homofobia. No entanto, um dos grandes trunfos da obra é que esses problemas aparecem de forma orgânica na narrativa, e não panfletária. Para as atrizes, essa é uma prova de que, mais do que outra coisa, a série trata da densidade das relações humanas, em toda sua beleza e horror. “É a observação do ser humano em sua profundidade, sobre o que somos capazes de fazer em situações limites. São personagens lindos e tortos, que muitas vezes amam de jeitos tortos, mas são mais comuns do que a gente imagina”, comenta Heloísa Jorge, que interpreta Moira, advogada e mulher do líder da facção criminosa.

Ela argumenta que, infelizmente, as personagens da série estão no cotidiano de todas nós. “Existem muitas Dinorás, a gente sabe delas todos os dias, quando ligamos a TV, quando abrimos o Instagram… Vivemos essa guerra todos os dias, o problema é que naturalizamos ela e vamos nos acostumando com a morte e a dor.” Heloísa lamenta que “a morte de pessoas negras já não choca ninguém”, ainda que essas pessoas sejam as principais vítimas da violência policial. “Estamos falando da guerra na Ucrânia, mas eu vivo no Rio de Janeiro, e aqui acontece uma desgraça a cada segundo. Espero que a série desperte nas pessoas a capacidade de se indignar, porque é tanta tragédia todos os dias que a gente já não tem oportunidade de processar a dor, a morte, o luto”, acrescenta. Além de uma obra da qual é difícil se desligar, com a ansiedade do que vai acontecer no próximo capítulo, Sentença é uma ótima oportunidade de refletir sobre nossas mazelas e reacender nossa indignação.

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