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6 quadrinhos nacionais feitos por mulheres para aprender sobre temas sensíveis

Conheça obras escritas por artistas que dialogam com feminismo, depressão, desigualdade, entre outros tabus sociais

Por Beatriz Lourenço
16 out 2024, 16h28
 (Divulgação/Divulgação)
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Saúde mental, feminismo, história, política. Os quadrinhos, mais do que simples entretenimento, podem ser uma poderosa lente para examinar assuntos relevantes do mundo. Nos últimos anos, as mulheres vêm emergindo como protagonistas na produção de HQs socialmente relevantes – embora ainda lutem por reconhecimento e inclusão na área.

“Esses temas estão muito presentes na nossa realidade. Mesmo quando criamos ficções científicas ousadas ou histórias de super-heróis, é essencial abordar questões sociais. Se não falarmos sobre aborto, por exemplo, ninguém vai falar”, afirma Helô D’Angelo, quadrinista que, desde 2019, já publicou mais de cinco livros – inclusive em birmanês, idioma oficial de Myanmar.

Para ela, a linguagem das tirinhas é especialmente eficaz, pois os desenhos facilitam a compreensão de narrativas complexas. “Você pode adicionar personagens e diversos outros elementos para se conectar com o público”, explica.

Embora os temas abordados sejam abrangentes, o panorama das publicações nacionais, no entanto, é dominado por editoras pequenas e livros independentes. No geral, a internet é um dos principais mecanismos de divulgação. “Utilizamos as redes sociais para alcançar nossos leitores e outros autores. Contudo, elas estão mudando a forma como produzimos. Com o algoritmo privilegiando vídeos, tenho criado animações para atingir meu público”, comenta Helô.

A seguir, apresentamos seis obras brasileiras que, com cuidado e profundidade, provam o poder transformador das histórias ilustradas:

Parque das Luzes, por Cecília Marins – Tangerina Books, R$ 45

Parque das Luzes, por Cecília Marins
(Divulgação/Divulgação)

Para seu TCC da faculdade de jornalismo, Cecília acompanhou por um ano o dia a dia das mulheres em situação de prostituição no Parque da Luz, em São Paulo. O resultado é uma reportagem em quadrinhos de 60 páginas que, além de desafiar um dos maiores tabus sociais, aborda temas como saúde, violência, religião, mídia, entre outros.

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Com linguagem fácil e fluida, o livro conta com os relatos de cinco mulheres: Mariana, Lourdes, Kika, Fernanda e Camila — além da Cleone, uma das fundadoras da ONG Mulheres da Luz. “Quando entrei em contato com o trabalho da quadrinista Helô D’Angelo, entendi que poderia falar sobre um assunto sério por meio da ilustração. Essa é uma ferramenta que permite mostrar situações muito delicadas de uma forma pouco explícita”, analisa Cecília. “O desenho, por si só, transmite ao leitor as sensações que quero que ele sinta.”

A jornalista ganhou o Troféu Angelo Agostini em 2024, um dos mais notórios da cena dos quadrinhos, com o livro “Amarras”, que aborda a temática BDSM. Neste ano, ela foi convidada a participar de uma residência artística em Angoulême, na França, onde vai finalizar uma nova publicação.

Inteiro pesa mais que metade, por Carol Ito – nVersos Editora, R$ 65

Inteiro pesa mais que metade, por Carol Ito
(Divulgação/Divulgação)

Para Carol, o quadrinho foi uma ferramenta terapêutica para superar a depressão. Neste título complexo e introspectivo, ela nos apresenta sua experiência pessoal e explica de forma sensível que a doença é uma resposta a contextos que nos cobram cada vez mais por produtividade, sucesso e felicidade plena. “O público se viu na história e isso fez com que o livro chegasse a consultórios médicos e escritórios”, diz. As tirinhas têm um tom de ironia e de humor, o que ajuda na geração de empatia. A jornada da protagonista, por sua vez, conduz o leitor por reflexões que o fazem entender a si mesmo e o mundo ao seu redor.

Carol trabalha com cartuns, tiras de humor e jornalismo em quadrinhos desde 2014. Vencedora do prêmio Vladimir Herzog de Anistia e Direitos Humanos de 2022 na categoria “Arte”, foi a primeira mulher a desenhar charges ao vivo no programa Roda Viva, da TV Cultura, em março de 2023. “A arte tem a função de provocar, incomodar e refletir sobre o mundo. Meu trabalho apresenta causas que considero urgentes – se não for tabu, nem desenho”, brinca.

Arlindo, por Ilustralu – Editora Seguinte, R$ 79,90

Arlindo, por Ilustralu
(Divulgação/Divulgação)

O livro, que começou como uma webcomic, segue a história de Arlindo, um adolescente que vive em uma pequena cidade do Nordeste brasileiro e está lidando com o processo de autodescoberta, especialmente em relação à sua sexualidade.

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Ele é um jovem doce, apaixonado por música e novelas, que encontra refúgio em suas amizades e no carinho que recebe da família – mesmo que nem sempre as coisas saiam como o esperado. Com traços suaves e uma paleta de cores delicada, a HQ mistura momentos de humor e tristeza, enquanto explora o impacto da homofobia, os dilemas de se tornar adulto, e a importância da rede de apoio no processo de amadurecimento.

O trabalho de Ilustralu, nome artístico de Luiza de Souza, foi amplamente elogiado pela sensibilidade com que aborda temas difíceis. Ela ganhou notoriedade, principalmente nas redes sociais, por seu estilo delicado e representatividade LGBTQIA+. Formada em publicidade pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte, ela ganhou prêmios de roteiro, melhor publicação juvenil e novo talento, em 2022. “Arlindo” venceu a categoria de “Melhor Quadrinho Nacional” na CCXP Awards do mesmo ano.

Squad, por Ing Lee e Aline Souza – Editora Edebê

Squad, por Ing Lee e Aline Souza
(Divulgação/Divulgação)

O livro é uma biografia em quadrinhos sobre as congressistas estadunidenses Alexandria Ocasio-Cortez, Ilhan Omar, Ayanna Pressley e Rashida Tlaib. Ele integra a coleção “Biography” de livros do ensino médio da editora Edebê. Ing, que desenhou a HQ, usou fotografias como base para criar ilustrações que se assemelham às personagens. Já o roteiro, escrito por Aline Souza, exalta a participação feminina na política, relembra o momento em que as mulheres conquistaram o poder do voto e conta como ele pode transformar a vida de milhares de pessoas.

A quadrinista coreano-brasileira já desenhou capas de livros para diversas editoras, como Penguin UK, Rocco e Fósforo. Seus traços coloridos e vibrantes também formaram a identidade visual do Festival Internacional de Quadrinhos BH 2024.

“Essa profissão é um grande desafio porque temos poucos editais de publicação. E quando a cena como um todo é precarizada, fica mais difícil para os grupos minoritários”, conta Ing. “Nossas obras ainda são consideradas de nicho, apesar de abordarem temas universais e diversos.” Atualmente, a artista está focada na produção de webcomics, disponíveis no seu site oficial.

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Boy Dodói: histórias reais e ilustradas sobre masculinidade tóxica, por Bebel Abreu, Carol Ito e Helô D’Angelo – Bebel Books, R$ 70

Boy Dodói: histórias reais e ilustradas sobre masculinidade tóxica, por Bebel Abreu, Carol Ito e Helô D’Angelo
(Divulgação/Divulgação)

Já imaginou se aquele relacionamento tóxico se transformasse em uma história ilustrada? Foi a partir de lembranças de episódios machistas que o trio de quadrinistas decidiu criar este livro.

Ao todo, 307 mulheres e pessoas não binárias compartilharam suas experiências com “boys dodóis”, das quais 11 foram selecionadas para a publicação. Entre narrativas engraçadas e revoltantes, aprendemos a identificar os movimentos do patriarcado e entendemos como a masculinidade tóxica ainda está presente nas relações.

“A ideia não é apontar nenhum carrasco. Sabemos que existem nuances – ninguém é só mal ou só bom. O que queremos é refletir sobre comportamentos endêmicos que atingem as mulheres”, conta Bebe, editora e fundadora do selo Bebel Books.

Em 2023, ao vencer o Troféu HQMix, o discurso de Helô refletiu sobre a falta de mulheres artistas na competição. “Não podemos achar que isso é normal. Precisamos ser vigilantes o tempo todo porque, se pararmos de lutar, perdemos tudo o que conquistamos até agora”, afirma.

Confinada, por Triscila Oliveira e Leandro Assis – Todavia, R$ 109,90

Confinada, por Triscila Oliveira e Leandro Assis
(Divulgação/Divulgação)

Produzida em tempo real durante a pandemia, a história retratou a desigualdade brasileira vivida naquele período. Enquanto as pessoas das classes mais altas puderam permanecer em casa, as trabalhadoras domésticas enfrentavam riscos diários para garantir seu salário.

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A narrativa conta a vida de Fran, uma influencer digital com milhões de seguidores nas redes sociais que compartilha a rotina de exercícios físicos e fatura com recebidos e publis. Em sua casa, também vive Ju, a única doméstica que aceitou permanecer trabalhando durante o isolamento social. Para a patroa, é melhor ficar em quarentena na zona sul carioca do que na favela, ela diz. Já para a funcionária, é difícil viver longe da mãe e da filha pequena.

As tirinhas foram publicadas primeiro no Instagram e, posteriormente, compiladas em um livro. “A economia do cuidado tem gênero e cor”, afirma Triscila, criadora do roteiro.

“Quando a obra foi lançada, muitas mulheres sentiram que não estavam sozinhas na luta contra a invisibilidade e desvalorização do trabalho. Além disso, elas passaram a compreender que esse é um problema estrutural que vem desde o período colonial.”

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