‘O Começo da Vida 2’ nos faz refletir sobre a nossa relação com a natureza
O documentário aborda a importância da relação das crianças com o meio ambiente e gera reflexão sobre o futuro que queremos para as próximas gerações
Quem se apaixonou pela franquia O Começo da Vida, composta, além do longa-metragem emocionante, por uma série com oito episódios, vai se encantar por O Começo da Vida 2: Lá fora.
Dirigido por Renata Terra (conhecida por Piripkura, documentário pré-indicado ao Oscar 2019) e produzido pela Maria Farinha Filmes (responsável por Aruanas), a sequência aborda a importância da relação dos pequenos com o meio ambiente e nos faz refletir sobre o mundo que queremos para as novas gerações.
Com estreia prevista para o dia 12 de novembro, o filme chega à Netflix em um momento em que ainda vivemos em isolamento social devido à pandemia do novo coronavírus. Além disso, recentemente também nos deparamos com o recorde do desmatamento na Amazônia e das queimadas no Pantanal. Por isso, além de tratar dos benefícios do contato com a natureza na infância, O Começo da Vida 2: Lá fora também serve de alerta.
“A desatenção com o meio ambiente já vem de mais tempo, mas estamos vivendo um momento mais acirrado na discussão. O entendimento das pessoas é de que a natureza e o desenvolvimento estão separados e muitas pesquisas e ações já evidenciam que essa é uma concepção ultrapassada”, afirma Renata a CLAUDIA. “Eu acho que o filme vai poder contribuir um pouco para deslocar esse olhar do acirramento para uma compreensão de que queremos que as crianças cresçam saudáveis.”
A relação com a natureza na infância
Seguindo a mesma pegada do primeiro filme da franquia, o novo documentário mescla entrevistas com especialistas, cientistas e pesquisadores sobre a importância da natureza para o desenvolvimento infantil, com os relatos e histórias de personagens reais, não só do Brasil, mas também de outros países sul-americanos.
“A ideia do filme é ter esse cuidado de olhar para a América Latina, porque tem uma realidade socioeconômica parecida com a nossa. Nós queremos oferecer às pessoas possibilidades concretas”, revela Renata.
Logo no início da trama, nos deparamos com as diferenças entre a forma como a geração mais velha se relacionava com o mundo lá fora e como as novas gerações se relacionam hoje em dia – muito mudou por conta do processo de urbanização e, atualmente, é mais perigoso para uma criança brincar na rua, além de haver menos áreas verdes disponíveis nas grandes cidades para o contato com a natureza.
“Nós falamos sobre a importância, para a criança, do contato com a natureza e como é importante para a natureza o contato com a criança desde pequena. E o que há entre esses dois mundo é essa questão da relação e isso foi vindo cada vez mais à tona para mim”, comenta Renata. No filme descobrimos, por exemplo, que, entre as consequências da limitação do contato com o que é natural, estão doenças psicológicas (depressão e ansiedade), doenças relacionadas à alimentação (transtorno alimentar, obesidade e diabete) e problemas visuais (miopia).
Em seguida, podemos conhecer projetos pedagógicos e sociais que visam aprofundar essa relação da criança com a natureza, como, por exemplo, escolas com jardins naturais ou que promovem acampamentos ao ar livre. Eles são apresentados como possíveis soluções para a questão em grandes cidades.
“Quando visitamos esses projetos, pudemos conversar com as crianças que estavam participando. Pudemos ver, na nossa frente, a potência que os livros e as pesquisas mostram”, relembra Renata. “Tivemos essa preocupação de inserir no roteiro esses dois universos, o da pesquisa científica e o da vivência desses projetos e dessas famílias, porque queremos falar com um público além daquele que já está engajado na causa”, completa a diretora.
Reconstrução do imaginário
A sequência de O Começo da Vida começou a ser produzida em 2018 e foi finalizada no final de 2019, ou seja, antes da pandemia da Covid-19. No entanto, uma produção que toca em temas tão atuais e que, de certa forma, estão conectados com a situação em que vivemos, não poderia deixar de refletir sobre a necessidade de reconstrução do imaginário do que é viver o mundo lá fora de forma mais saudável e integrada com o planeta.
“A pandemia, em um primeiro momento, foi um grande susto, mas fez as pessoas darem uma parada devido ao isolamento mais rígido no início. Com isso, começamos a refletir sobre coisas que não pensávamos na correria do dia a dia”, pondera Renata. “A pandemia está conectada com desequilíbrio ambiental, então eu acho que é natural que nós comecemos a nos questionar um pouco mais em relação a isso. O filme soma essa necessidade de olhar para a relação das crianças com a natureza com a urgência de olhar para a pandemia”, completa.
E ainda há esperança. Entre os entrevistados do documentário, está a primatóloga Jane Goodall, que considera que dá tempo de mudar a realidade para melhor. Por meio das histórias das crianças e dos adolescentes apresentados no filme, também aprendemos isso.
“Essa pré-adolescência de agora não teve esse contato mais direto com a natureza do que gerações anteriores, mas teve um contato muito forte com esse olhar de que temos problemas e que eles vão refletir no futuro. Essas crianças entenderam isso melhor do que muitos adultos”, considera a diretora. “Nós precisamos da nossa parte de contribuição como adultos. Não podemos delegar à geração futura o ônus de ter que consertar os estragos de um modelo de desenvolvimento que é vigente até agora. Temos que ajudá-los a conquistarem o prazer de estar na natureza”, finaliza.