Manu Cunhas, a ilustradora que usa NFTs para ajudar ONGs de mulheres
Artista retratou 21 mulheres que marcaram a história da humanidade para o leilão filantrópico "Impact Women NFT"
A artista catarinense Manu Cunhas, de 34 anos, sempre gostou de desenhar, uma paixão que motivou-a a ingressar na faculdade de Design Gráfico em 2006. Apesar de começar a trabalhar em projetos para empresas, sempre teve “projetos paralelos” de ilustração e voltados para o mercado editorial. Em todos eles, temáticas como feminismo, políticas sociais e defesa dos direitos animais sempre estiveram presentes. “No final, comecei a ser mais conhecida por essas produções paralelas, que chamavam a atenção nas redes sociais e que eu fazia para arrecadar dinheiro para ONGs. Sempre acreditei que, até pelo fato de ter estudado em uma faculdade pública, meu trabalho deveria ter um retorno social“, diz ela a CLAUDIA. Com o tempo, empresas com viés social e outras organizações começaram a procurá-la. Em março, a Doare, fintech especialista em doações online com soluções de captação de recursos para organizações filantrópicas, convidou Manu para ilustrar 21 mulheres que marcaram a história para o Impact Women NFT, leilão filantrópico de tokens não-fungíveis que destinará o valor arrecadado para ONGs que lutam pelos direitos da mulher.
Manu, que ganhou o Prêmio Jabuti de ilustração em 2017, com o livro Outras Meninas, ilustrou a vereadora Marielle Franco, a cantora Elza Soares, a pintora Tarsila do Amaral, a pilota Amelia Earhart, a revolucionária Anita Garibaldi, além de Frida Kahlo, Joana D’Arc, Lélia Gonzales, Razia Sultana (primeira mulher Sultanato da Índia), Charlotte von Mahlsdorf (pioneira travesti e ativista alemã), a rainha Tereza de Benguela, Rainha Nzinga, Maria de Nazaré, a bailarina Josephine Baker, Laudelina de Campos Melo (pioneira na luta por direitos de trabalhadores domésticos no Brasil), Leymah Gbowee (ativista pela paz), Lozen (guerreira e profeta dos Apaches), Marsha P. Johnson (mulher trans e pioneira da luta pelos direitos LGBTQIA+), a escritora Nísia Floresta e a revolucionária chinesa Qiu Jin.
“Foi bem difícil me limitar a esses nomes, porque, uma vez inserida na pesquisa histórica, você vê que tem muitas mulheres incríveis ao longo da humanidade. Tentamos ter uma amplitude de representatividade racial, geográfica e de atuação dessas figuras e homenagear pessoas que já são mais conhecidas do público com outras personalidades que foram igualmente importantes, mas cuja história é pouco contada e retratada”, diz Manu.
As primeiras NFTs vendidas foram de Marielle Franco, a vereadora assassinada em 2018, e da cantora Elza Soares, que faleceu no início deste ano. Outras obras —que têm conteúdo exclusivo e que só pode ser acessado por computador —ainda estão à venda e cada uma custa 0,05 ETH na criptomoeda (ou aproximadamente 150 dólares, limitada a 50 unidades). As peças em leilão partem de 0,15 ETH (cerca de 420 dólares) na plataforma Impact Woman NFT. O valor arrecadado beneficiará organizações como a Associação Fala Mulher, Casa 1, Mães da Favela (projeto da CUFA), Instituto Marielle Franco, Mulheres do Bairro (projeto do Bairro da Juventude), entre outros.
“A ideia de trazer um uma função social para NFTs é ótima e fiquei feliz de produzir dentro de um tema que me é tão querido: a história de lutas e conquistas femininas. Eu já trabalho com temas sociais há mais de 10 anos, então é sempre legal ver algo bem estruturado que consegue causar um impacto positivo tanto de maneira prática, financiando projetos e ONGs, como informativo, ao trazer luz às histórias de tantas mulheres que mudaram o mundo no seu tempo”, comenta Manu. A artista conta que essa foi sua primeira experiência com NFT e entende a confusão das pessoas com o assunto, mas explica que “a comercialização de produtos digitais não é algo novo”, a diferença é que o NFT é uma forma de legitimar uma obra de arte digital e garantir os direitos de imagem e autorais do artista.
Encantada pela ilustração infantil e infanto-juvenil, com as quais também trabalha, Manu usa sua arte para educar sobre temas espinhosos (como machismo e outras violências) da forma mais leve possível. “Gosto de despertar o lúdico das pessoas, é uma forma de transmitir a mensagem sem ser tão direta ao ponto.” E ela faz isso com maestria.