Seria negra em todas as vidas, diz autora de guia antirracista
O e-book "Era uma vez negritude", da psicóloga Mariana Luz, traz o passo a passo para quem busca fazer a diferença no combate ao racismo
No consultório, paciente e psicólogo se encontram na etnia e, consequentemente, na confiança de expor e tratar feridas. A experiência com a psicologia tornou situações como essa algo frequente na rotina de Mariana Luz, que lança seu e-book Era uma vez negritude, um guia prático para pessoas que desejam contribuir com a luta antirracista no Brasil. As atitudes são apresentadas com realidade e embalo para ninguém se perder e assimilar o conteúdo facilmente.
A clínica serviu de bagagem durante a escrita do livro, entretanto a principal motivação foi sua vivência pessoal, como mulher negra. “Penso na minha responsabilidade com o lugar que ocupo e me motivo com os grupos e as pessoas que tratam sobre questões raciais. A ideia é mostrar que raça não é só tratar de negros e que falar de negritude também é contar a história do Brasil”, afirma a autora sobre o primeiro livro de uma série de três. “Ainda vamos lançar um abordando branquitude e outro sobre as relações raciais no Brasil”, diz a ativista política.
Os impactos práticos das recentes manifestações antirracismo, motivadas pela morte de George Floyd, nos EUA, e cascateadas pelo mundo, ainda são vistos com cautela por intelectuais negros. Porém, é possível afirmar que o movimento marcou um chamado antigo pela participação de brancos em discussões sobre branquitude, privilégios e reparação.
Fã de esportes, Mariana lembra que, em um passado recente, o protesto de atletas negros contra o racismo não era bem aceito, quem dirá pela população. “Hoje, há uma articulação no basquete, no tênis e em outras práticas, em que as próprias ligas e instituições brancas são obrigadas a endossarem o discurso. Já em 2016, Colin Kaepernick, jogador de futebol americano da NFL (Liga Nacional profissional de futebol Americano), ajoelhou-se durante a execução do hino nacional estadunidense em um jogo e disse: “Não vou me levantar e mostrar orgulho pela bandeira de um país que oprime o povo negro”. A sua atitude custou sua vaga na equipe.
Para a autora, o momento atual sensibiliza apenas pessoas brancas que estão genuinamente envolvidas com a causa antirracista. “É hora delas acelerarem um processo de questionamento”, afirma a ativista, que também fundou o movimento O que eu posso fazer. Com articuladores brancos, a iniciativa é um espaço de diálogo sobre branquitude, aprendizado e leitura, já que há um clube do livro com obras exclusivamente de autores negros.
“Se eu tivesse várias vidas, eu ainda seria uma mulher negra, não trocaria por nada. Apesar de todas as dificuldades, tenho muito orgulho de ser quem eu sou. Isso se deve a criação que recebi. Com isso, vejo a importância de fortalecer crianças negras e também ensinar as brancas sobre questões raciais, respeito e pertencimento”, finaliza Mariana.
Para comprar o e-book de Era uma vez negritude, que custa 6,90 reais, é só acessar este site.
Todas as mulheres podem (e devem) assumir postura antirracista