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Dira Paes: “A palavra da mulher aos 50 anos é liberdade”

Prestes a completar 40 anos de carreira, a atriz estreia na direção e participa de festivais internacionais; confira a entrevista

Por Beatriz Lourenço
26 set 2024, 08h00
Prestes a completar 40 anos de carreira, a atriz Dira Paes estreia na direção e participa de festivais internacionais
 (@peterwery/Divulgação)
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Dira Paes está vivendo seu melhor momento. Estreia nesta quinta (26) nos cinemas “Pasárgada”, filme que lança a atriz na direção. Ele conta a história de Irene, uma bióloga de 50 anos que está fazendo uma pesquisa de mapeamento de pássaros. A produção surgiu com a ideia de refletir a conexão entre a humanidade e a natureza, além de reforçar o poder feminino na maturidade

A narrativa foi exibida pela primeira vez no Festival de Gramado, onde foi premiada como Melhor Desenho de Som. Por ter sido gravada durante a pandemia, a equipe se isolou entre as montanhas do Arraial do Sana (Rio de Janeiro), onde o longa foi rodado. Rica em biodiversidade, a região abrange parte da Mata Atlântica e é uma das áreas mais procuradas por pesquisadores de aves no mundo. 

A identificação do espectador é vivenciar as nuances daquele mundo de sons naturais. “Sentir o que a personagem sente é, em grande parte, ouvir o que ela ouve”, conta. 

Em setembro, a estrela também passou pelo Festival de Veneza com “Manas”, dirigido por Marianna Brennand, no qual ela interpreta uma advogada que luta contra a exploração sexual na Ilha de Marajó. A obra levou o GdA Director’s Award, prêmio máximo da Giornate degli Autori (Jornadas dos Autores), principal mostra paralela do evento.

“Estou radiante. Esses momentos coincidiram com meus 40 anos de carreira, que comemoro ano que vem”, revelou a atriz para CLAUDIA. “Estou revisitando minha trajetória – de vez em quando surge uma memória boa e sei que vem mais 40 por aí.” Abaixo, confira a entrevista exclusiva com Dira Paes:

CLAUDIA: O filme “Pasárgada” é sua estreia na direção. O que te fez querer estar do outro lado da câmera?

Dira Paes: A pandemia fez com que nós tivéssemos tempo para revalidar valores, desejos e propósitos. Naquele momento, fiz uma conexão comigo mesma, que veio junto com a maturidade. E, ao lado de Pablo [Baião, seu marido], tive o desejo de criar um projeto que nos unisse ainda mais. Até porque, também estávamos fazendo 15 anos de casados. A ideia surgiu quase como uma comemoração de vida e de companheirismo.

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Como foi o processo de pesquisa, criação de roteiro e gravação do filme?

Eu participei de tudo, parecia que estava fazendo um vestibularzão ou uma tese de final de curso. Também sentia a necessidade de ter a experiência do fazer cinematográfico. Nesse sentido, dirigir e atuar ficou natural – era uma maneira de não pular uma etapa. Queria estar na frente das câmeras porque sabia quem é essa Irene que precisava contar. Como filmamos em dezembro de 2020, nos refugiamos em uma fazenda para poder nos blindar da Covid-19. Foi uma audácia, foi ousado e me sinto muito orgulhosa de onde chegamos.

O filme aposta no sensorial e nós vivemos um momento em que estamos poucos conectados com os sentimentos. Como você percebe essa dicotomia?

Ele é um convite para adentrar na mata. E é uma mata que é feminina. Irene é uma mulher madura que está fazendo o mapeamento de pássaros na região do Usana, no Rio de Janeiro. Ela tem uma profissão solitária e silenciosa porque precisa ouvir os pássaros para conseguir vê-los e mapeá-los. O roteiro foi construído em cima de alguém que está na fase onde os encantamentos somem porque já viveu e experimentou muito. 

“Vivemos em um momento em que a sensação de pertencer à natureza e não à tecnologia é nova para muita gente”

Dira Paes

O encontro dela com a Mata Atlântica passa a ser um encontro dela consigo mesma. O que a faz revalidar as suas escolhas. O filme é um chamado para a reflexão da harmonia do humano com a natureza – que é capaz de restabelecer vínculos vitais para você ser minimamente feliz. Vivemos em um momento em que a sensação de pertencer à natureza e não à tecnologia é nova para muita gente.

Prestes a completar 40 anos de carreira, a atriz Dira Paes estreia na direção e participa de festivais internacionais
(@peterwery/Divulgação)
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Ele chega em uma época de alerta para a crise climática. Como você se sente sobre isso?

O filme tem uma temática contemporânea porque reforça o sentimento de que a natureza é fundamental para que a gente se mantenha saudável. Precisamos entender que a palavra sustentabilidade é muito mais do que reciclar tampinhas – é sobre um comportamento responsável com o mundo.

Há um estudo que diz que quase 70% das mulheres depois dos 50 anos querem tentar uma nova profissão. E você fez esse movimento. A idade já virou só um número?

A palavra da mulher aos 50 anos é liberdade, enquanto a do homem é segurança. Isso mostra uma diferença entre nós. Quando sentimos que cumprimos uma caminhada, nos permitimos novos voos. No meu caso, tem esse paralelo com “Pasárgada”, que literalmente tem a ver com criar asas e ser dono da sua própria história. Estou orgulhosa de mim.

Você está no elenco do premiado “Manas”, que conta a história de meninas e mulheres que sofrem abuso sexual na Ilha de Marajó, no Pará. O que esse filme significa para você?

Esse filme mostra que a arte se conecta com a necessidade, com as demandas da vida e com as mazelas mundiais. Falamos sobre exploração sexual de menores de idade. É importante a gente ver que isso acontece no mundo inteiro e, geralmente, são pessoas próximas às vítimas que cometem esses crimes absurdos. A produção vem para não deixar esses crimes serem silenciados. Fico feliz por ter a função de falar sobre isso – o cinema é uma das maneiras mais velozes e eficazes de explicar um tema polêmico.

Sabemos que, há um tempo, esse tema foi rodeado por muitas fake news. Como o filme pode combater esses boatos e trazer luz ao problema, de fato?

Esse não é um crime que acontece somente no Marajó. Pode estar acontecendo no nosso prédio agora, infelizmente. Ele não escolhe classe social, região, raça… Isso é um fato. Outro fato é que nós temos um Brasil gigante. A ilha de Marajó é a maior ilha fluvial do mundo e o Estado tem mais dificuldade de chegar lá. 

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Ainda assim, há pessoas voluntárias ou ligadas ao terceiro setor que dão algum tipo de amparo a essas vítimas. Por isso, lançar luz, dar voz e visibilidade a essas causas salva vidas. Além disso, a região precisa ser compreendida como um lugar belo também, com pessoas fantásticas, uma culinária indescritível e costumes regionais paraenses. É muito importante a gente olhar para lá como um lugar muito precioso do Brasil. E um filme é capaz de fazer isso. 

Como você acha que nós, indivíduos, podemos barrar esses problemas?

Seja um ativista. Quem não é ativista, é passivo e a favor da morte. Hoje, com um clique, você consegue transformar vidas. Você pode escolher uma vertente no seu bairro, na cidade ou na comunidade. Ser ativista não quer dizer que você é militante. Mas um ativista não desperdiça água, não desperdiça comida, não deixa apodrecer comida na geladeira. São coisas simples que fazem a diferença.

Não estou falando para as pessoas irem para Brasília como eu vou. Durante as eleições, por exemplo, não tenho o menor constrangimento de me posicionar. Sempre coloquei a minha cara para que todos saibam quem eu sou. Me defino como ativista humanitária e luto porque isso faz parte da minha rotina. 

Dira Paes no filme Manas
Dira Paes no filme “Manas” (Divulgação/Divulgação)

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