“Barbie”: como a identidade visual do filme foi construída
Conversamos com a designer de produção e a head de maquiagem do filme, que contam detalhes dos bastidores para criar a estética apaixonante
Parecia surreal demais, um filme sobre a Barbie, em 2023, dirigido por Greta Gerwig (Lady Bird e Adoráveis Mulheres). A conta não fechava. Foram divulgados os protagonistas, Margot Robbie (claro!) e Ryan Gosling (claro também), afinal, não tinha dupla melhor para incorporar a boneca mais querida do mundo e o seu fiel… Hm, só Ken. Fotos de paparazzi da produção viralizaram nas redes sociais, um teaser fazendo alusão ao clássico 2001, de Stanley Kubrick, trouxe mais mistério, e a divulgação do elenco completo, que vai de Issa Rae (Insecure) até Emma Mackey e Ncuti Gatwa (ambos de Sex Education), confirmou: Barbie é o filme mais aguardado do ano.
A história no trailer, meses depois, colocou o nosso pé no chão, e o da protagonista também. Sentindo uma falha na vida perfeita de Barbie Land, ela decide viajar para o mundo real e entender o que se passa por lá para, então, voltar amadurecida e na pontinha do pé — será que ela consegue? Isso fica para a experiência nos cinemas, no dia 20 deste mês.
O que fomos investigar, parte também do alvoroço em torno do longa-metragem, é o visual. Quem brincou de Barbie na infância sabe a riqueza de detalhes dos brinquedos, da quantidade de roupinhas disponíveis, dos sapatinhos que encaixavam perfeitamente… Um universo tão vasto e complexo, com 70 anos de história, mudanças estéticas e inclusão social: prato cheio para a equipe de arte do filme, comandada pela designer de produção Sarah Greenwood.
Ela, que é especialista em filmes de época e foi indicada ao Oscar quatro vezes, incluindo pelo trabalho em Orgulho e Preconceito (2005), não hesitou em aceitar a proposta após ler o roteiro, escrito por Greta ao lado do cineasta-companheiro, Noah Baumbach.
“Me aproximei da história por meio de Jacqueline Durran, figurinista que trabalha comigo há muito tempo. Ela fez Adoráveis Mulheres e estava escalada para este projeto. Fiquei instigada com a ideia. Quando li o roteiro, pensei: ‘isso é incrível!’”, comenta ela em entrevista exclusiva à CLAUDIA. “Digo, é engraçado, obscuro e maluco, mas igualmente encantador. E também um trabalho muito feminista e atual, sem perder a magia de uma homenagem à Barbie. É brilhante.”
Como uma idealizadora e construtora de mundos, a designer de produção não tinha outra escolha a não ser topar o desafio. As conversas iniciais com a diretora, a figurinista, a decoradora de cenário (Katie Spencer) e a maquiadora (Ivana Primorac) foram intensas. “Tivemos longas trocas filosóficas sobre a Barbie, de onde ela veio, como ela evoluiu ao longo do tempo, quem é essa figura hoje. Mas a ideia nunca foi fazer disso um estudo antropológico da icônica boneca ou recriar a Mattel, era sobre uma simplificação desse contexto para fazer sentido com a proposta de roteiro”, pontua.
Com isso em vista, Sarah Greenwood explica alguns pontos interessantes para prestar atenção. Lembra quando você brincava de boneca e ela saía de um lugar para o outro? Muito difícil o trajeto ser feito degrau por degrau, ela simplesmente desce do último andar da casa para o térreo. No filme, a mesma coisa — tem uma cena assim no trailer, inclusive.
“Compramos o último modelo da Dreamhouse, e quando colocamos as bonecas dentro, elas encostam no teto, não cabem direito no carro. Traduzimos nos cenários e objetos, considerando, claro, que os atores são humanos, portanto, precisam de certo conforto para gravar as cenas”, conta. Por isso, os tamanhos foram reduzidos em 23%, para dar essa sensação (demais, né?).
O minucioso resultado veio de um longo trajeto de pesquisa, que envolveu desde acesso aos acervos até a leitura imersiva de livros a respeito da boneca. De novo, não com o intuito de copiar nada, mas localizar a narrativa. “É Malibu, mas não a que a gente conhece. Tem cinema, cafés, praias e ruas arborizadas supervibrantes. Em contraste com Los Angeles [vida real], mais cinzenta e suja (risos).”
Para tanto, Sarah e sua equipe precisaram descobrir as texturas e as cores ideais. “Hoje, você encontra uma grama falsa, que de tão falsa, parece real. Não queríamos isso, queríamos algo realmente falso, com aspecto de brinquedo”, diz. Tudo, então, foi pintado e construído, existem pouquíssimas imagens geradas por computador (CGI): até as paisagens, que remetem aos fundos das caixas dos bonecos e acessórios, e as ondas do mar foram desenvolvidas em grande escala para garantir a atmosfera de plasticidade (como mostram as fotos desta reportagem).
A maquiagem de Barbie
Quem está ansiosa para ver Barbie deve ter reparado alguns easter eggs que brincam com a nossa memória afetiva. Um deles foi o rabisco colorido e os cabelos cortados de qualquer jeito da personagem de Kate McKinnon (na foto acima). “Essa foi a parte mais divertida do trabalho, testar os diferentes visuais”, conta a head do departamento de maquiagem do filme, Ivana Primorac, também em entrevista exclusiva. “O processo de design foi bastante desafiador, mas agradável. Com um roteiro lúdico, pude prototipar inúmeras versões até chegarmos nos visuais usados em cena”, compartilha.
A tríade formada por ela, Sarah e Jacqueline garantiu sucesso no resultado. “Discutimos todos os detalhes, da paleta de cores ao comprimento dos cabelos; cada look de cada Barbie e cada Ken.” A de Margot, por exemplo, foi a mais complicada, pela quantidade de mudança de figurinos e, consequentemente, de beleza. Não só: “Como cada um tinha a sua individualidade, e a quantidade de personagens é enorme, foi trabalhoso continuar inventando visuais para cada um”.
Outro ponto-chave para a equipe de maquiagem e cabelo envolvia a diferenciação entre a Barbie Land e o mundo real. “O objetivo era encontrar coisas que causassem um pouco de estranheza, com uma vibe de ‘outro mundo’. Contudo, como atualmente temos uma moda mais criativa e diversificada, demorei para encontrar o visual certo para esse momento específico. Acredito que conseguimos!” Impossível não se encantar.