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Renata Brosina é jornalista, host de podcast e editora de moda com foco em luxo e sustentabilidade. Com 15 anos de carreira e alguns títulos internacionais no currículo, ela é curiosa, gosta de entrevistar e vestir pessoas, e analisar as transformações que vêm acontecendo no mercado.
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Magreza na moda: de quem é a responsabilidade?

Da micro saia de Miuccia Prada até a magreza excessiva de Kim Kardashian, uma elaboração sobre estética e real representatividade de corpos

Por Renata Brosina
23 out 2022, 09h57

Há tempos que a magreza nas passarelas é uma pauta que gera polêmica. Afinal, são anos em que a indústria se manifesta contra os corpos esqueléticos nos holofotes, mas, no fim do dia, quase nada muda. Digo isso porque, quando entrei no mercado de moda em meados de 2007, o assunto já existia faz tempo que essa prática se mostra muito mais distante do que a ideia de seguí-la. Na época, para quem precisava lidar com tendências pop, como a cintura baixa, era ainda mais difícil ignorar estruturas tão magras e que limitavam outros tipos de corpos a vestirem tal hit.

Recentemente, para a temporada de Verão 2022, Miuccia Prada surfou na onda do comeback dos 00’s e apresentou uma versão de microssaia com cós baixíssimo para a Miu Miu. A peça virou assunto, entre críticas e análises que compreendem a linha de pensamento da Sra. Prada. A estilista, que não dá ponto sem nó, fez a roupa viralizar e estampar capas de diferentes revistas com personagens fora do shape PP usando o look — seja com a modelo plus size Paloma Elsesser na edição de Verão 2022 da i-D ou com Nicole Kidman, no auge dos seus 55 anos, para a Vanity Fair. A ideia de explorar, com certa ironia, um item tão exclusivo do passado é uma forma de destacar que a moda está muito mais relacionada ao conforto da peça na hora de vestir (e seu bem-estar) do que à obsessão para fazer caber em uma modelagem tão restrita. 

No mesmo ritmo, outras grifes já entenderam que não basta se conectar com as novas gerações apenas com a estética das peças, mas é preciso de um movimento de inclusão verdadeiro. Além das tradicionais, que já apostavam neste caminho, como Jean-Paul Gaultier, há nomes que vêm dando cada vez mais visibilidade nas suas apresentações. A sensualidade da mulher de Gianni Versace, da era das top models dos anos 90, hoje é traduzida em corpos diversos por Donatella Versace e já teve Lourdes Maria, filha de Madonna, no seu Verão 2022.

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Assim como a Chanel de Virginie Viard, que também elegeu a modelo Jill Kortleve no seu time de preferidas de campanhas e desfiles. A jovem, inclusive, é parte dos castings de Nova York a Paris na temporada internacional de moda. Na Valentino, Pierpaolo Piccioli trouxe sua couture com grande visibilidade para o plus size durante o Verão 2022. Há ainda bons exemplos, mas a discussão vai além: até que ponto a magreza é fruto apenas do impulso dos diretores criativos, e não o contrário?

Magreza na moda
A modelo Jill Kortleve nos últimos desfiles da Chanel. (Chanel/Divulgação)

Faço essa pergunta pela simples questão: algumas personalidades ganharam fama por justamente “quebrar” padrões estéticos ditados pela indústria. Ou seja, o público começou a sentir uma identificação com a realidade, com as curvas e com a forma do caimento de roupas, até então, mostradas em corpos magros. Até aí, estamos falando de um movimento válido. Mas, na minha opinião, o que faz a situação voltar dez casas no jogo é quando a celebridade resolve ficar excessivamente magra para entrar em uma roupa.

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O nome em questão, você já deve imaginar, é a própria Kim Kardashian que resolveu diminuir bons tamanhos do manequim do jeans e tornar a magreza “moda novamente”. A pessoa, que impulsionou a aceitação das curvas e sabe o alcance que tem em nível de influência, emagreceu 16 quilos antes do evento do Met Gala para se espremer no Jean Louis, vestido histórico que Marilyn Monroe usou para cantar “Happy Birthday, Mr. President” para John F. Kennedy, em Nova York, há 60 anos. A ironia não está na socialite norte-americana decidir emagrecer como consequência natural dos seus hábitos ou até mesmo pelo seu bem-estar. O problema está em algumas das suas declarações, dando razão absoluta da sua magreza para entrar no vestido de Marilyn que, após o uso de Kim, teve algumas partes danificadas (uma vez que a peça foi feita exclusivamente para o corpo da atriz).

O espanto (e cansaço, em bom português) é como invalidamos avanços de mentalidade de um sistema que demorou décadas para entender sobre aceitação. Enquanto há estilistas investindo em maneiras de trazer ainda mais inclusão para a moda e fazer a representatividade ser real , o público segue aplaudindo (de pé) quem caiu de paraquedas, sem a mínima informação ou cuidado, em um meio que a mensagem que chega nas pessoas é a mais pura influência. Kim, que é a escolhida pelas principais marcas para estampar campanhas, fazer parte do casting dos desfiles e ainda criar collabs, mostra que a vibe “magreza é ok, vamos nessa” está tudo certo novamente. E que, até ela, se rendeu a isso.

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