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Kika Gama Lobo

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Focada na maturidade como plataforma pessoal, a jornalista Kika Gama Lobo escreve sobre as sensações e barreiras que as mulheres 50+ vivenciam
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Como eu e CLAUDIA crescemos e amadurecemos

Para os próximos 59 anos, quero mais ousadia, mais liberdade, mais representatividade. Menos muros e mais abraços!

Por Kika Gama Lobo Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
24 out 2020, 12h00
 (Jerome Tisne/Getty Images)
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Quando eu era menina, eu queria ser homem. Esse sentimento me acompanhou até uns 30 e blau. Aquela liberdade imensa. Sem camisa. Sentar de perna aberta. Até deixar de tomar banho parecia aceitável. Terra de Marlboro.

E eu, cheia de mimimi, regras limitantes e um estilo Socila (escola de etiqueta carioca) de caminhar, falar, vestir. Venho do mundo branco, hétero, capitalista onde meninas andavam de rosa. Lá em casa foi tudo pensado para agradar, para causar.

Eu, meio Diadorim (personagem de Grande Sertão Veredas) inventei uma masculinidade que virou marca registrada. Metia o pé na porta. Espancava para depois explicar. Suavizei não tem muito tempo. Fui crescendo e, aos poucos, criando um blend entre não precisar ser esse homem para reconhecer a minha voz. E meu volume foi aumentando.

Hoje, liberta de mil neuras, estou melhor dentro do meu próprio corpo. Corpo esse castigado por cicatrizes de um câncer violento, duas lindas cesáreas, estrias e celulites que teimam em serem tatuagens.

Posso dizer, do alto dos meus 56 anos, que publicações como CLAUDIA, focadas na mulher madura, sobretudo aquela que não é rica nem pobre, não é porra-louca nem reaça, que valoriza a diferente, a estranha, a preta, a gorda, a gay, ajudaram na minha auto construção. Sou do tempo que folhear revistas era o máximo.

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A gente comprava todo mês, na banca do bairro, nossa publicação de predileção, numa espera como álbum de figurinha prestes a ser completado. CLAUDIA estava neste rol. Capas deslumbrantes. Receitas fáceis. Moda possível. Claro que houveram exageros da contemporaneidade. Demoramos em ter as esquisitas mais representadas, porém essa falta foi corrigida.

E aqui estamos comemorando os 59 anos da revista. Que orgulho. Num Brasil tão volátil em planos monetários, disparidade social abissal, governos apequenados, populistas e corruptos, não é fácil manter um título de pé por quase seis décadas, incansável, firme, altivo no meio dessa turbulência toda.

O que esperar para os próximos anos? Muito. Sou zero econômica em meus desejos. Quero babado, porrada e bomba. Quero mais ousadia, mais liberdade, mais representatividade. Menos muros e mais abraços. Se as próximas gerações de meninas não tiverem desejos da liberdade do homem e se CLAUDIA, hoje fortíssima também no online, puder contribuir ainda mais para essa explosão de amarras, estarei vingada. Parabéns!

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