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Corpo, fala

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Carol Teixeira (@carolteixeira_) é filósofa, sacerdotisa tântrica e escritora

Saber recomeçar

Por comodismo ou falta de perspectiva, nos apegamos à nossa visão passada que nos impede de seguir em frente

Por Carol Teixeira
1 jan 2023, 08h13
Sobre saber renascer e recomeçar
 (Alle Manzano/Divulgação)
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Toda mulher precisa saber morrer. E morrer para renascer, para poder abrir espaço e se reinventar. Sem culpa, sem medo. Morrer.

Deveria ser natural para nós, considerando que durante grande parte da vida sangramos todos os meses, lidamos com fases solares e lunares, estamos sempre encerrando e abrindo ciclos internos, temos o direito divino à poesia selvagem de gerar uma vida. Mas, para a maioria das mulheres, não é fácil. O motivo? Vivemos em uma sociedade que minou a nossa relação instintiva com essa primordial natureza que envolve o processo de vida-morte-vida.

Então, seguimos por aí medrosas, sofrendo mais que o necessário, relutando em mudar de fase mesmo quando o nosso coração pulsa por transmutações radicais, sustentando, por vezes, relações que já estão há muito tempo estéreis; se contentando com migalhas para se segurar desesperada no conhecido, na zona de conforto. Tudo por medo de aceitar a troca de pele e de ousar ouvir o próprio grito do coração.

Vejo muitas mulheres incríveis presas a estruturas que não querem mais estar, sendo quem já não mais são, sem coragem para dar o passo (o choro, o grito, o gozo?) que as libertaria e as faria evoluir, como um animal que não consegue sair de uma jaula mesmo a porta estando aberta.

Gosto de trazer o arquétipo de Kali, deusa hindu da morte (e do renascimento). Na visão tântrica, temos em nós todas as faces do divino, todas as deusas: Parvati, a deusa do amor, Saraswati, a deusa das artes e da poesia, Lakshmi, a deusa da abundância, e, entre tantas outras, Kali, essa face irada aparentemente aterrorizante, a que mata com sua espada para abrir espaço. Falo sobre ela por eu sentir que é exatamente essa face de nós mesmas que temos mais medo de trazer à tona. Porque aprendemos a ser “a bonitinha”, “a que não incomoda”, “a que não sabe dizer não”, “a que acha que depende do olhar alheio e certos vínculos para legitimar o tempo todo seu valor”.

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É comum que a prisão em que você se encontra seja estar parada em certa crença limitante, alguma ideia fixa sobre sua relação com o corpo, sexo e prazer. Achar que só gosta de transar de um determinado jeito, que só tem orgasmo com uma prática sexual específica, que demora para gozar ou que não consegue ter orgasmo de jeito nenhum. Ou pode ter a ver com sua expressão, ter medo de falar o que gosta por achar que vai incomodar, ter medo de sugerir um vibrador porque não vai ser bem vista etc.

Muitas vezes, isso se aplicava à mulher que você era lá atrás na sua história. E, mesmo de lá para cá, você já tendo travado contato com pessoas que estavam dispostas a mostrar faces bem diferentes da mulher que você é ou situações terem provado que você mudou, você ainda insiste em se ver do jeito antigo. Você se recusa a morrer e renascer.

Por isso, deixo a reflexão: o que em você precisa morrer para que você floresça renascendo?

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