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Bloco de Notas, por Lorena Portela

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Autora do sucesso "Primeiro Eu Tive que Morrer", Lorena Portela é cearense, escritora e jornalista. Vive em Londres, mas a cabeça mora aqui, no Brasil.

Homens, custa falar?

A partir da polêmica envolvendo Gabriel Fop e Bruna Griphao, uma reflexão sobre a falta de responsabilidade afetiva dos homens nas relações

Por Lorena Portela
26 jan 2023, 08h15
Homens, custa falar?
Obra "Laurence Sterne, alias Tristram Shandy: 'And When Death Himself Knocked at My Door'" (1769), de Thomas Patch. (The MET/Domínio Público/Divulgação)
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Custa, eu sei. É engenhoso, às vezes. Exige uma dose de franqueza e outra de cuidado, equilibrar ambos não é troço simples. Por vezes, ter conversas desconfortáveis é tipo um labirinto, a gente fica rodando, desnorteado, tentando se colocar no rumo, mirando o alívio do desengodo. Bate uma ansiedadezinha, uma fadiga, até. Mas é preciso conversar, faz parte da vida adulta e está no manual “Como Ser Uma Pessoa”. 

Em sua primeira semana, a 23a edição do Big Brother Brasil expôs uma situação que é nossa velha conhecida, inimiga de longa data: a indiferença que acomete subitamente o homem que já conseguiu o que queria. O cara que vai se chegando, elogia, paquera, é atencioso (super atencioso, aliás), carinhoso, empenhado em conquistar. Aí te beija, ou transa, ou fica, ou namora um pouquinho. E chega. A chave vira, o caldo entorna, o cara some, não atende ligação, ignora as mensagens, finge que não te vê no rolê. Acontece que no BBB não tem como mandar um ghosting. Aí o jeito é o rapaz partir para a tática dois: desprezar a mulher. Fazer piadas grosseiras, tratar mal, evitar estar perto, tudo isso enquanto alimenta a confusão com um beijinho aqui, outro ali ou um aceno de afeto

Não vou dizer que bagunça emocional se resolve magicamente com uma conversa clara, mas que é o caminho mais curto e mais sensato, não há dúvidas. No caso de Gabriel Fop e Bruna Griphao, me parece uma situação que se dissiparia com um básico “rolou, foi massa, mas não quero ficar de casal, vamos seguir o jogo”. Até DR é dispensável aí. Geralmente, para as mulheres isso basta e é mais responsável do que cozinhar a moça e mantê-la ali por puro narcisismo. 

Outro caso bem familiar é o do rapaz que leva o relacionamento ao limite do insuportável para fazer com que a mulher desista o chamado quiet quitting. Já vivi isso e, meses depois de eu finalmente ter terminado, meu ex assumiu que jamais teria coragem de romper comigo. Finalizou a conversa em que achou estar arrasando com seu lampejo de consciência, me agradecendo por ter “tomado a iniciativa” e por “tomar a iniciativa” entendam que eu estava no limite da minha exaustão emocional, tentando entender por que o namoro estava tão ruim enquanto ele dizia que me amava. E depois ficava sem me atender. E depois atendia dizendo que estava com saudade. E depois de novo. 

Pensar sobre este aspecto tão preciso das nossas raízes machistas fica ainda mais confuso quando lembramos que conceito de hombridade, de honra, de força, caráter, compõe o masculino. Mas o que é mais covarde do que evitar uma conversa que precisa acontecer? O que é mais fraco do que desistir de um relacionamento e não assumir a decisão? O que é tão mau caráter e tão pouco nobre quanto um ghosting? Que honra é essa que esmorece para evitar o desconforto? Por que os homens são sistematicamente moldados para não falar sobre o que sentem?

Então falem, homens, falem. Chega de cozinhar, chega de sumir, chega de truque, de jogo, de artimanha. Chega de covardia. Se comuniquem com clareza sobre o que querem, o que sentem e, parem de mandar sinais e verbalizem. E, se não for pedir muito, nos tratem com algum respeito.

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