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Solteira e feliz? Psicanalistas falam sobre felicidade sem relacionamento

Mesmo com inúmeras possibilidades de reinvenção e desconstrução na maneira de amar, uma questão permanece: a intensa insegurança em estar “só”

Por Kalel Adolfo
9 dez 2022, 09h25

Acabamos de chegar a oito bilhões (!!!) de pessoas no mundo e o que dizem por aí é que, com tanta gente, finalmente teremos a chance de encontrar a nossa “alma gêmea”. Sim, sair da solteirice segue sendo o sonho de muitos — a título de curiosidade, só no Brasil, segundo pesquisa recente do IBGE, há 81 milhões de indivíduos sem algum tipo de relacionamento amoroso. Estariam eles idealizando sobre um encontro com um desconhecido charmoso na livraria e, de uma hora para outra, como nos clássicos hollywoodianos, o incidente atrapalhado acabaria se transformando num felizes para sempre?

Se o devaneio é verdade ou não, não podemos dizer. Mas o fato é que boa parte da população ainda sofre com um ideal de relacionamento amoroso como única possibilidade de felicidade. E isso não é culpa nossa. A psicanalista Ana Suy, autora do livro “A Gente Mira no Amor e Acerta na Solidão” (Editora Paidós), defende que os primeiros fatores estão atrelados à reprodução e à economia.

“Faz pouquíssimo tempo que separamos a maternidade da feminilidade. Agora, as mulheres podem ter sexo para se divertir, e não apenas procriar. Mesmo assim, essa necessidade do relacionamento em prol da reprodução ainda marca a maioria de nós, graças aos ideais familiares que nos atravessam diariamente.”

Para ela, as raízes econômicas vêm logo em seguida, já que, historicamente, o casamento não surgiu para sermos felizes e, sim, como uma negociação entre famílias. “Nunca foi sobre estar satisfeito. Essa ideia delirante da relação como fonte exclusiva de felicidade é bem moderna. É nela que juntamos as nossas expectativas e depositamos no outro. Queremos que o próximo seja parceiro, conselheiro, acolhedor, verdadeiro, nos dê filhos, divida as contas. E por mais que seja inalcançável, continuamos a insistir na ideia.”

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O excesso de expectativas em cima do próximo nos faz experimentar uma constante frustração em relacionamentos.
O excesso de expectativas em cima do próximo nos faz experimentar uma constante frustração em relacionamentos. (Getty/Reprodução)

Regina Navarro Lins, psicanalista e escritora que acaba de lançar o livro “Sexo na Vitrine” (Editora BestSeller), acrescenta mais um agravante: o nosso anseio infreável de tentar recuperar a sensação de harmonia que tínhamos antes do nascimento. “O útero da mãe é o único lugar do mundo em que podemos obter a satisfação imediata. Lá, desconhecemos a fome, a sede e a falta de aconchego. Depois que nascemos, precisamos respirar com nossos próprios pulmões, reclamar da fralda molhada e nos desesperar com a cólica. Isso traz um profundo sentimento de falta e desamparo, que nos acompanhará constantemente”, explica.

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Segundo a especialista, é nesse desespero por completude que esquecemos que, na verdade, ninguém completa ninguém. As dificuldades e limitações que sentimos não podem ser resolvidas através do outro e, sim, atenuadas dentro de nós mesmos.

Solteira e feliz?

Influências sociopolíticas, culturais, psíquicas e até mesmo biológicas fomentam os nossos anseios por ter alguém ao nosso lado, nos deixando praticamente de mãos atadas. Dá para nadar contra essa maré de contratempos e encontrar felicidade na ausência de um vínculo amoroso?

Para a psicóloga e psicanalista Raquel Baldo, a resposta é positiva. “As pessoas se questionam muito sobre ser saudável ou não passar uma vida inteira sem um relacionamento. Mas, sinceramente, o quão saudável é passar uma vida buscando uma relação? Que tal experimentar a vida saboreando quem se é? Minimizar uma existência à ideia de estar com alguém é adoecedor”, aponta.

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Claro, tanto refletir quanto materializar esses pensamentos no dia a dia não é uma tarefa rápida — e muito menos fácil. “Tenho que ser sincera: é pouco provável que uma pessoa consiga ser plena na solteirice sem passar por um grande processo de desconstrução. Mas, quando já estamos abertos a nos autoconhecer, fica mais fácil. Mergulhar em quem somos nos faz questionar o mundo à nossa volta, possibilitando que entendamos quais escolhas tomamos por vontade própria e quais são apenas repetições culturais”, reitera Raquel.

Que fique bem claro: não estamos falando sobre não beijar, transar ou ter experiências românticas num geral. É sobre entender que a vida vai além de ser ou não um casal. “Não precisamos romper com todos os moldes para nos desconstruir. Podemos apenas ressignificar as coisas para um formato mais pessoal”, aconselha ela.

Transcendo as cobranças

Ser compreendido, nos encontrar no olhar do outro, sentir-se restaurado por um abraço… É impossível dizer que não precisamos desses detalhes para nos entendermos como seres humanos. Mas essas alegrias não precisam (ou devem) vir de um romance. “Claro, há privilégios em ter um par, pois isso nos possibilita dividir a vida. Podemos planejar com maior facilidade se teremos filhos, em qual lugar do mundo iremos morar, como organizar as despesas. Contudo, há outras formas de amar que não passam por aí, e são tão dignas e válidas quanto.” Aqui, Raquel Baldo refere-se às amizades e aos familiares, como bons exemplos.

Todas as coisas estão se abalando. Então, o que você deseja fazer com o seu tempo? No fundo, é disso que se trata

Ana Suy, psicanalista e escritora

“Tem gente que adoece amando, que não pode se relacionar porque faz mais mal do que bem. Nada na vida é para todo mundo”, pontua. Como aceitar isso? Se questionando a respeito de algo maior.

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“Pergunte a si mesma: ‘Para que serve a vida?’. ‘Por que estou aqui?’. Ficamos nessa busca desesperada pelo objeto amoroso para evitar uma crise existencialista, quando, de fato, precisamos dela. Estamos vivendo num momento em que todas as coisas estão se abalando. Então, o que você deseja fazer com o seu tempo? No fundo, é disso que verdadeiramente se trata”, afirma Ana Suy.

Em paralelo às reflexões densas, a psicanalista e escritora recomenda dar um passo para trás, respirar e aceitar calmamente que não somos tão especiais assim.

“Atribuímos uma importância muito grande às nossas escolhas e ao que os outros dizem. Porém, somos apenas um indivíduo dentro de um mundo com oito bilhões de pessoas. Daqui alguns anos, ninguém saberá nem o nosso nome. Mal sabemos o de nossas bisavós. Dentro do universo, não somos tão relevantes assim… E isso nos dá uma baita liberdade para viver do jeitinho que quisermos, com ou sem relacionamento”, conclui Ana.

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E você, está pronta para viver na sua verdade e encontrar a felicidade, independente de qualquer status ou pessoa?

 

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