Quem você mandaria para o espaço?
A colunista Kika Gama Lobo reflete sobre mágoas de um jeito muito franco e honesto consigo mesma
O cara foi. Levou uns chapas. Gostei de ter uma madura entre eles. Oitentinha com gosto por aventuras. Também foi um rapaz, menor de 20 anos. E eu aqui na terra, olhando a maluquice estratosférica, pensei: vontade de mandar pro espaço um monte de gente e situações.
Na maturidade, zunir sentimentos é quase uma limpeza roto rooter. Precisamos esvaziar a caixa preta do dia a dia, ou melhor dos anos a fio que meteram dejetos em nossa caixola.
Eu tenho uma lista de gente que quero ver em Plutão. Gente má, mesquinha, diminuta, invejosa e pouco gregária. E olha que não é aquela vizinha, aquela colega de trabalho, aquele antigo namorado ou sócio. É gente de perto, gente raiz. Gente que habitou meu coração e depois injetou gelo petrificando mágoas.
Eu achava que havia superado, mas ando em círculos quando o assunto é o vazio. Pensei que o tempo seria uma rolha poderosa mas vi que existem furinhos minúsculos nessa dor e ela, vez por outra, dá defeito.
E que bom que ela não está curada assim tenho a possibilidade de limpar a ferida e tentar estancar sangue pisado deste machucado feio. E talvez a nave espacial em que estamos vivendo, esse mundo pandêmico, nos leve a pensar em rearrumar os planetas dentro da gente.
Eu estou dando ombros para a minha antiga Kika e hoje, chegando perto da segunda dose, aviso que vou mudar a casca. Quero renovação total. Pro espaço com velhas normas. Agora serei foguete. Apertem os cintos. O piloto sou eu!