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Ana Claudia Paixão A jornalista Ana Claudia Paixão (@anaclaudia.paixao21) fala de filmes, séries e histórias de Hollywood
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Ligações Perigosas: amor, ódio e sobrevivência feminina na Corte Francesa

Série da LionsgatePlus resgata a origem da história da Marquesa de Merteiul, com olhar modernizado

Por Ana Claudia Paixão
18 nov 2022, 11h35
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  • No ano em que completaram 240 anos do lançamento do clássico da literatura francesa, Les Liaisons dangereuses ou Ligações Perigosas, de Pierre Choderlos de Laclos, ele chegou à plataforma Lionsgate Plus em formato de série. Mas calma, não é a mesma história! Nos apresentam o que chamam de prelúdio, ou seja, recontam como eram os jovens anti-heróis da trama: a Marquesa de Merteiul e o Visconde de Valmont. Espetacularmente, devo acrescentar. 

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    Além dos mais de dois séculos do livro, são quase outros 35 anos desde que o filme de 1988 fez sucesso e ganhou indicações ao Oscar.  Alguns diálogos – ousados para a época – são hoje incômodos. Há estupro de menores de idade, chantagem, violência, bullying e a clássica máxima do machismo de que mulheres só eram felizes fazendo os homens felizes. É, Ligações Perigosas poderia não sobreviver ao tempo se não fosse a série de oito episódios (a segunda temporada já foi confirmada!) que traz uma nova perspectiva sobre o clássico. Escrito por uma mulher (Harriet Warner), a produção se propõe a recontar a transformação da jovem Camille (Alice Englert) na Marquesa de Merteuil.

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    Para apreciar a atual, vale relembrar a história original. O livro foi lançado em quatro volumes, em março de 1782, ou seja, apenas sete anos antes da Revolução Francesa, e desde que chegou ao mercado foi considerado uma publicação sensação na França. Embora seja uma obra de ficção que falava de romances, traições e escândalos na corte francesa com apuro e detalhes, ressaltando a decadência e opulência que viria acabar violentamente menos de uma década depois.

    ligações perigosas - série
    Série atualiza a narrativa clássica, mas de forma primorosa. (Lionsgate Plus/Divulgação)

    A trama do livro é relativamente simples: um casal de ex-amantes faz uma aposta amoral de corromper boas pessoas, mas, na verdade, há uma vingança pessoal conduzindo a tragédia. O que é excepcional é a narrativa completamente original, porque é apresentado como coletânea de cartas. Entre elas se destacavam as correspondências trocadas entre o Visconde de Valmont e a Marquesa de Merteuil, cuja docilidade externa era apenas a fachada de dois narcisistas sem empatia por suas vítimas, usando sedução como arma para controlar e explorar socialmente os outros. O jogo de “quem poderiam ser os verdadeiros Valmont e Merteuil” movia Versailles, incluindo a Rainha Maria Antonieta como uma das mais apaixonadas por Ligações Perigosas

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    O autor, Laclos, circulava entre os aristocratas e era um oficial militar com ambições literárias. Queria “escrever uma obra que se afastasse do comum, que fizesse barulho e que permanecesse na terra após sua morte”. Tentou com poesias, libretos para óperas, sem sucesso até que, durante uma missão no exterior, em 1777, começou a trabalhar em Les Liaisons Dangereuses. Terminou o primeiro rascunho em seis meses e o sucesso foi tão absoluto que vendeu mais de mil cópias assim que foi lançado. É considerado até hoje uma das obras-primas da literatura do século 18.

    Eu li o livro por volta de 1989, depois de ter sido fortemente impactada com as brilhantes atuações de Glenn Close, John Malkovich e Michelle Pfeiffer no filme de Stephen Frears. É curioso que, mesmo com tanto sucesso e elogios, a primeira adaptação para o cinema só tenha surgido no final dos anos 1950. Em 1976, ele fez nova tentativa com Une Femme Fidèle. Precisou chegar aos anos 1980 para que o teatrólogo britânico Christopher Hampton escrevesse uma peça em cima do livro para que Ligações Perigosas finalmente fosse redescoberto internacionalmente.

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    A peça foi febre mundial (teve uma montagem brasileira em 1987, com Marieta Severo e Carlos Augusto Strazzer) e fez de Alan Rickman (décadas antes de ser Severus Snape em Harry Potter), o Valmont original, uma estrela. Pois é gente, Snape foi Valmont um dia! Mas, mesmo famoso, não foi escolhido para o filme. Milos Forman era o diretor original, mas entrou em conflito com o estúdio e Stephen Frears assumiu a produção de 1988, com Glenn Close, John Malkovich e Michelle Pfeiffer (além de Uma Thurman e Keanu Reeves novinhos). A versão de Forman veio no ano seguinte, com Colin Firth no papel de Valmont e Annete Bening como Merteiul, mas não foi tão bem sucedida e altera radicalmente o final. Dez anos depois, Cruel Intentions, com Sarah Michelle Gellar, Reese Witherspoon e Ryan Philippe, atualizou a trama para Nova York dos anos 2000, e há a versão teen, na Netflix. Com isso, a versão da Lionsgate Plus nos trás uma vantagem, a de estar efetivamente ligada à obra de Christopher Hampton, que é a nossa maior referência (e a mais perfeita). 

    Se no final de sua vida Merteuil usava sexo e sedução para se manter independente, ela ainda amava profundamente Valmont, trazendo infelicidade e tragédia para vida de ambos. Na série da Lionsgate Plus é um pouco diferente. Camille aprende a se defender com o apoio de outra mulher e combate a sociedade patriarcal ferozmente. Essa ótica é importante para manter a relevância da obra em tempos atuais. É uma das séries que recomendo, e muito, conferir. 

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