Esnobada em Kristen Stewart no SAG Awards: preconceito ou desgaste?
Protagonista de Spencer, filme sobre princesa Diana, atriz não conquistou o Globo de Ouro e foi excluída da seleta lista de melhores do ano no SAG Awards
Pior do que a polêmica da escolha de Nicole Kidman como Lucille Ball (tema que abordei aqui em CLAUDIA na época), quando anunciaram que Kristen Stewart seria Princesa Diana o mundo veio abaixo. Na época defendi a escolha de Nicole, mas nunca dei crédito a Kristen.
Os dois filmes ficaram prontos quase ao mesmo tempo e eu mudei de opinião. Spencer prometia dar a Kristen Stewart um reconhecimento nos Estados Unidos que só tem no exterior. Pois não foi dessa vez. Mesmo tendo vencido como Melhor Atriz em vários festivais, não conquistou o Globo de Ouro 2022 e foi excluída da seleta lista de cinco melhores do ano no SAG Awards. Injusto.
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Conferi Spencer em dezembro, mas o embargo me impede de comentá-lo antes de ser lançado no Brasil oficialmente. Está mais perto, faltam duas semanas, mas talvez tenham esperado demais. O que posso dizer é que – dentro de sua capacidade – Kristen Stewart está muito bem e surpreende como Diana, o que não quer dizer que mereça ser eleita a “melhor” do ano, mas tampouco estar fora da lista de destaque.
Certamente está melhor do que Nicole Kidman como Lucille Ball – ou Lady Gaga como Patrizia Gucci. Nicole, aliás, já é a franca favorita para o Oscar, pois os votantes do SAG Awards são 90% dos que elegem os vencedores no Oscar, portanto o SAG é SIM o melhor termômetro de Hollywood para sua principal premiação. A vitória no Globo de Ouro ajuda a acender a presença de Nicole na mente dos votantes.
Falar da exclusão de Kristen para inserir Jennifer Hudson interpretando Aretha Franklin é delicado. Sem Jennifer, a categoria teria apenas atrizes brancas entre as indicadas e sua dedicação para dar voz e vida à lenda da música tem significado.
A única da categoria que não está em uma biopic é Olivia Colman (a quem eu daria o prêmio por A Filha Perdida), portanto com o favoritismo de Nicole sobraria então ter que cortar Lady Gaga, Jessica Chastain ou Kristen Stewart.
Jessica, para se transformar em Tammy Faye, passou por longo processo de maquiagem. Gaga criou o polêmico sotaque e Kristen colocou uma peruca e também caprichou nos trejeitos. Eu sei quem eu não teria na lista, e seria justamente Nicole Kidman (falarei sobre isso na coluna desta sexta-feira).
Tanto Nicole, como Kristen Stewart, são especialistas em biopics. Antes de Spencer, Kristen foi Joan Jett e Jean Seberg. Em todos os papéis foi ela mesma, é verdade, mas há evolução entre elas. Como atriz mirim, foi abraçada e endossada por ninguém menos do que a respeitada Jodie Foster, mas depois que alcançou o estrelato mundial com a franquia Crepúsculo passou a ter problemas para ser levada a sério em Hollywood. Nem mesmo um César, o Oscar francês, resgatou sua credibilidade como atriz. Seja fazendo filmes menores, com diretores famosos, ou assumindo a homossexualidade, nada conseguiu a afastar da imagem da personagem que a fez famosa. Aqui está o seu maior obstáculo.
Há de se levar em conta também o desgaste em torno da narrativa da história da princesa Diana, trazida à tona na última temporada de The Crown e que endereçará o mesmo período conturbado de “Spencer” na próxima. Emma Corrin também colocou o obstáculo de dar vida à Diana muito alto, mas a inglesa teve o privilégio de que as gerações mais novas lembrem menos da Diana inocente do que da Diana chutando o balde de Kristen Stewart.
Além do mais, a briga entre os filhos, os príncipes William e Harry, que trouxe à tona toda memória de sua mãe e o drama que viveu, também contribuiu para uma rejeição de “mais uma atriz se passando por Diana”. Quem pagou a conta foi Kristen, que teve a coragem de sair da zona de conforto e se colocar à prova. Por isso repito: estar entre as cinco melhores do ano era importante e não era algo impossível de esperar.
As indicações para o Oscar saem no dia 8 de fevereiro, quase 20 dias antes da cerimônia do SAG Awards. Ainda dá tempo para reverter a injustiça, mas ninguém mais tira o favoritismo de Nicole Kidman por Being the Ricardos.