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A jornalista Ana Claudia Paixão (@anaclaudia.paixao21) fala de filmes, séries e histórias de Hollywood
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Cena mais icônica de ‘Priscilla, a Rainha do Deserto’, quase ficou de fora

O diretor Stephan Elliott está na cidade para acompanhar a sessão especial do filme no Festival do Rio e conversou com CLAUDIA

Por Ana Claudia Paixão
14 out 2022, 08h44

Quem acompanha minha coluna aqui em CLAUDIA sabe da minha paixão por musicais. Gosto dos clássicos, mas há um, recente, que eu tenho carinho especial: Priscilla, A Rainha do Deserto. Isso porque estava dando os primeiros passos como repórter e fui selecionada para fazer a cobertura do lançamento do filme, o que já seria uma grande oportunidade, mas quis o destino que fosse ainda mais. Casualmente, como acontece nos filmes, conheci o diretor, Stephan Elliott, em um fim de semana no qual nos esbarramos sem jamais ter sido planejado.

A partir desse momento, tive o privilégio, por uma semana intensa, de não apenas conhecer também os dois atores do filme, Hugo Weaving e Guy Pearce (e virar cicerone de todos no Rio), como poder ter de primeira mão verdadeiras aulas de cinema, interpretação e teatro, com papos divertidos e muito inspiradores com os três. Compartilho com Stephan a paixão por trilhas sonoras, falamos horas sobre música e como se aplicam nos filmes, e ele me ensinou muitas coisas. Por isso, quando soube que ele estaria de volta ao Festival para uma exibição especial e remasterizada de Priscilla, A Rainha do Deserto, jamais poderia deixar de compartilhar um pouco do nosso papo. Ele brincou que sou “original” do grupo que gerou o movimento do sucesso do filme (quem dera!). “1994 foi o ano zero”, ele explicou. Segue um pouco do nosso papo.

Priscilla, Rainha do Deserto
‘Priscilla, Rainha do Deserto’ está perto de completar 3 décadas. (Foto:/Reprodução)

CLAUDIA: Como é, com quase 3 décadas, olhar para trás e ver Priscilla, Rainha do Deserto? Na época era incomum abordar as questões que vemos no filme, com drags e trans liderando a história.

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Stephan: O que posso ver que é que foi um olhar que abriu uma porta, mas hoje a resposta seria que ‘não, você não pode mais fazer isso’ [o elenco tinha três atores héteros nos papéis principais]. Mas fiquei orgulhoso que a Pride North America relançou o filme nos cinemas nos Estados Unidos e que as pessoas ficaram de queixo caído quando descobriram que foi feito há quase 30 anos. Incrível.

CLAUDIA: Priscilla foi apenas seu segundo longa, como foi a experiência?

Stephan: Escrevi o roteiro original em apenas 14 dias. Era um primeiro rascunho! Nós inventamos tudo à medida que avançávamos. Para ter uma ideia, nunca vou me esquecer disso, há uma locação no filme onde eles param em um hotel espalhafatoso que acabou de ser redecorado com pinturas terríveis, em Broken Hill, na Austrália. Havia uma pessoa da Comissão de Turismo de lá e pedi para dar uma olhada, mas uma representante da Comissão me interrompeu. “Oh, você não quer entrar lá. É horrível, é horrível. Não queremos que nossa cidade seja lembrada por isso”. E eu disse “para o carro! Vou entrar!”

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CLAUDIA: E?

Stephan: Ela me pediu, “por favor, não entre lá. Por favor, não entre lá. O dono é louco”. E eu entrei e disse, “Oh meu Deus, isso é incrivelmente horrível. Este é o pior lugar que eu já vi na minha vida. [pausa] Temos que filmar aqui!” [risos] Pois então, o hotel agora é um dos principais pontos turísticos na cidade depois que Priscilla fez sucesso. Pessoas de todo o mundo visitam aquele o local.

CLAUDIA: Priscilla, A Rainha do Deserto foi um dos grandes sucessos de uma onda de criatividade do cinema australiano no início dos anos 1990s. Como foi participar desse movimento?

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Stephan: Costumam perguntar se sentamos e planejamos juntos e a verdade é que não. Não era algo pensado. Na Austrália, antes disso, durante os anos 1970s e 1980, fizeram muitos filmes americanizados. E, curiosamente, a única pessoa na Terra que viu todos eles foi Quentin Tarantino! [risos]. Ele é uma enciclopédia ambulante de todos os filmes australianos que foram feitos dos anos 1970 até os anos 1980, que eram filmes terríveis que estavam apenas tentando ser filmes americanos. [risos] Sou de uma geração que inclui Jane Campion, Baz Lurhman e outros, e nós todos entendemos que se continuássemos tentando competir com os americanos íamos perder. Nós meio que percebemos, muito jovens, que a única chance de sobrevivência era sermos nós mesmos e todos nós agimos ao mesmo tempo. Priscilla, Vem Dançar Comigo, O Piano, O Casamento de Muriel são alguns dos filmes lançados perto um do outro. Por isso parece que nos sentamos e eclodimos de propósito. Mas, não, estávamos todos filmando em diferentes partes da Austrália. Todos nós, basicamente, tivemos uma ideia de que era preciso sermos originais.

CLAUDIA: Quando conversamos em 1994, no lançamento de Priscila, você comentou que a cena mais icônica – justamente a do deserto e que está no título – quase foi cortada. Lembra um pouco dessa história?

Stephan: Nunca vou esquecer isso porque era uma ideia minha, mas nada funcionou. Não tínhamos muito dinheiro e quando ficamos sem orçamento o produtor me chamou e disse “olha, estamos brincando com isso. Não temos muito dinheiro. Não temos tempo. Você fez uma tentativa e ficou horrível. Se você cortar essa cena não vai prejudicar o filme de forma alguma, a cena não diz nada”. E eu discuti com ele: “E é por isso que é importante. Não é um ponto de virada, é um voo de fantasia. É tão estranho e sem propósito que é justamente o motivo pelo qual quero colocá-la no filme”. [pausa] Reconheço que foi um argumento estranho. [risos]. Pedi que confiassem em mim.

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diretor Stephan Elliott - priscilla rainha do deserto
O diretor de ‘Priscilla’, Stephan Elliott, no Rio de Janeiro. (Foto:/Divulgação)

.CLAUDIA: E aí?

Stephan: Então Deus abençoe Tim [Chappel, um dos figurinistas que ganhou o Oscar por Priscilla, A Rainha do Deserto], que com seu próprio dinheiro foi a inúmeros teatros do país, recolhendo todos os tecidos prateados que podia. Ele montou tudo durante a noite para uma última tentativa. E quando chegamos no deserto, nunca esquecerei, não havia vento. Fizemos uma tomada e o tecido ficava arrastando no chão. Nada estava funcionando. Pedi que ele cortasse a cauda e íamos filmar como estava, para ver conseguíamos fazer o ônibus andar rápido. Quando literalmente o Tim pegou a tesoura e estava prestes a cortar a cauda, do nada, o vento bateu e eu apenas gritei “Gravando!”. O resultado está no filme.

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CLAUDIA: Um momento icônico do cinema!

Stephan: Mas imagine se que o vento viesse da direita? [risos] Ainda olho para trás e lembro que estávamos a segundos de abandonar tudo! Quatro minutos, três câmeras. E ficou um aprendizado: pode até ser um momento que não signifique nada, mas mais filmes deveriam tentar encontrar algo assim. Tentar algo que seja apenas alegre e divertido.

*Priscilla, A Rainha do Deserto é o destaque na programação de sábado do Festival do Rio, na sessão Midnight Movies, no cine Odeon. Ingressos estão à venda. 

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