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Ana Claudia Paixão

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A jornalista Ana Claudia Paixão (@anaclaudia.paixao21) fala de filmes, séries e histórias de Hollywood

Balenciaga e a genialidade da moda registrada por uma repórter

A excelente série biográfica sobre Cristobál Balenciaga, na plataforma StarPlus, tem como base uma entrevista exclusiva que fez História

Por Ana Claudia Paixão
26 jan 2024, 14h01
Série biográfica sobre Cristobál Balenciaga
Série biográfica sobre Cristobál Balenciaga é conteúdo excelente.  (Divulgação/Divulgação)
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Para os fãs de Game of Thrones, ver Yara Greyjoy bem vestida, educada e falando espanhol fluente é divertido, mas, quem acompanha a variada carreira da atriz Gemma Wheelan, que apareceu em várias outras séries, incluindo a cancelada Gentleman Jack, onde interpretou a irmã de Anne Lister, é mais um papel em que ela nos mostra sua versatilidade.

Em Cristobál, a série espanhola de apenas seis episódios disponível na Star Plus, ela interpreta a jornalista Prudence Glynn, a colunista de moda do The Times, na Inglaterra, que conseguiu um feito histórico: uma exclusiva com o elusivo, revolucionário e misterioso designer Cristobál Balenciaga.

A editora de moda do jornal britânico, tal qual aparece na série, ‘perseguiu’ Balenciaga no funeral de Coco Chanel, usando um conjunto escarlate que se destacou em meio ao mar de modelos pretos (muitos Chanel, claro). O ano era 1971 e ela não foi à Paris (apenas) para prestar homenagem à estilista francesa, mas para encontrar o “Leonardo da Vinci da Moda: Cristobál Balenciaga (Alberto San Juan).

O espanhol, avesso a qualquer contato com o público, tinha se aposentado há três anos e só tinha concedido uma única entrevista em vida antes de sentar e conversar com Prudence.

Desse encontro viria o único artigo oficial que registrou a genialidade do designer e também a espinha dorsal da série, uma pérola que abre o ano de 2024 com um conteúdo obrigatório.

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Se Balenciaga era um mistério, a jornalista nem tanto. Em 1971, Prudence já estava à frente do conteúdo de moda do The Times há 15 anos, sendo sua primeira editora e conhecida por seu estilo mordaz-informal de escrever. Ela ficou na posição até meados da década de 1980.

Muitos acreditam – e é sugerido em Cristobál – que a entrevista só aconteceu porque ela tinha boa reputação como especialista de moda. A conversa levou três dias e ele abriu o coração como jamais fez com ninguém antes.

Balenciaga viria a falecer poucos meses depois da conversa, aos 77 anos, e o artigo passou a ser um dos dois únicos materiais biográficos com depoimento dele. E o único que ele não se arrependeu.

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Publicado em agosto de 1971 com o título de Balenciaga e a vida de um cachorro (Balenciaga et la vie d’un chien), palavras ditas pelo próprio estilista durante a entrevista, o artigo contribuiu paradoxalmente para contextualizar e alimentar ainda mais a aura de enigma que marca a trajetória de Balenciaga na moda e na vida privada.

E para registro: como fica claro na série, uma peça Balenciaga não era barata, Prudence conseguia ter uma porque era baronesa por casamento, e seu marido, o nobre anglo-irlandês David Hennessy, o terceiro barão Windlesham.

Nascida Prudence Loveday Glynn, a jornalista era filha de um oficial aposentado do exército e uma dona de casa, tendo crescido e estudado em Sussex. Assim que se formou trabalhou em publicidade e esbarrou no mundo da moda quando trabalhou com Frank Usher.

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Passou então a se destacar como repórter, escrevendo para revistas femininas até se tornar a editora de moda da revista Woman’s Mirror, voltada para o público mais jovem, que leva crédito de ter revelado a modelo Twiggy para o mundo, entre outros editoriais.

Prudence já estava casada com o político do Partido Conservador David Hennessy, Barão Windlesham, quando foi contratada para ser a editora de moda do The Times, em 1966, uma decisão estratégica e editorial da publicação que a escolheu para ampliar a imagem do jornal com a criação de um caderno feminino. A proposta era evitar se restringir à receitas de culinária caseira ou à moda da tradicional Bond Street de Londres, mas trazer pautas que interessassem o universo feminino em todas as áreas.

E sabe o que é incrível? As repórteres mulheres não assinavam suas matérias antes de 1967, ou seja, quando isso aconteceu o nome de Prudence ficou rapidamente conhecido no universo da moda.

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Os leitores gostavam do estilo espirituoso e mordaz da jornalista em suas matérias, mas o que os fashionistas se ressentiam porque às vezes parecia que Prudence não tratava o mundo da moda tão à sério quanto achavam que deveria, inserindo ironias aqui e acolá. O que torna ainda mais curioso para entender como o recluso Balenciaga se abriu justamente com ela.

Durante sua gestão como Editora de Moda, o caderno do The Times passou a ser referência no Reino Unido, pois incluía desde os designers tradicionais aos jovens da Swinging London, promovendo marcas menos conhecidas também. Embora na série pareça doce e suave, sua personalidade era paradoxal, quase uma “Miranda Priestley em tempos pré- O Diabo Veste Prada”. Tanto que em seu obituário em 1986, Prudence foi descrita como “temida e respeitada, em vez de amada”. Mas há que também a defendesse como gentil e generosa. Mistério também?

O fato é que sua entrevista exclusiva com Cristobál Balenciaga a imortalizou na História da Moda, mas sua popularidade no Reino Unido também é porque em seus artigos era conhecida defender os designers britânicos e talentos emergentes.

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No final de sua carreira no The Times, a tiraram da chefia do caderno de Moda e ela passou a ter uma coluna semanal. Um ano antes de sua morte, em 1986, ela se transferiu para o The Guardian e publicou dois livros sobre moda, sendo uma referência internacional, dando depoimentos em programas de TV e documentários.Morreu aos 51 anos, devido a uma hemorragia cerebral.

De alguma forma, é importante que a sua coragem de insistir na entrevista esteja ressaltada na série. Não existe uma única gravação sonora da voz de Balenciaga, embora a explicação esteja na sugestão de que ele ficou com as fitas, a verdade é que ela prometeu a ele apagá-las depois de usá-las. Como ela deu um exemplo do jornalismo feminino transcendendo barreiras, fica mais uma curiosidade para assistir Cristobál. Eu adorei!

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