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Ana Claudia Paixão

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A jornalista Ana Claudia Paixão (@anaclaudia.paixao21) fala de filmes, séries e histórias de Hollywood
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Vida de Alva Vanderbilt é inspiração para a série “The Gilded Age”

Conheça a história de Alva Vanderbilt, uma mulher que abraçou a política como consolo de suas decepções pessoais, inspirada pelo discurso feminista

Por Ana Claudia Paixão
Atualizado em 4 fev 2022, 15h49 - Publicado em 4 fev 2022, 15h41
Série
 (|Foto: Reprodução/HBO)
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Em uma cena do primeiro episódio de “The Gilded Age” (A Idade Dourada, em português), da HBO Max, Bertha Russell (Carrie Coon) cita a rejeição da sociedade nova-iorquina em relação à Alva Vanderbilt, sua musa. A referência é perfeita, pois, pelo que podemos ver, Bertha é a versão romantizada e editada da milionária e feminista na visão de Julian Fellowes, o showrunner de “Downton Abbey”. Por sua vez, ele já tinha remetido a história dessa família norte-americana na sua premiada série através de Cora Crawley, a Condessa de Grantham.

A vida de Cora em “Downton Abbey” foi espelhada em Consuelo Vanderbilt, filha de Alva. Assim como Consuelo na vida real, na série, Cora se casou com um Duque inglês que estava falido e precisava de sua fortuna para recuperar suas finanças.

Carrie
(|Foto: Reprodução/HBO)

Embora o início do casamento tenha sido um acordo financeiro, o casal realmente se apaixona ao longo do tempo – isso na ficção. Na vida real, Consuelo não teve a mesma sorte. O casamento com Duque de Marlborough foi infeliz do início ao fim, sendo anulado anos depois, mesmo com filhos gerados pela união. Uma curiosidade extra: Consuelo é – por conta disso – parente distante de Winston Churchill e Princesa Diana, mas isso é outra história!

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Falei de Consuelo antes de Alva porque “The Gilded Age” nasceu de um projeto que serviria como prequel de “Downton Abbey”, mostrando a juventude de Cora em Nova York. Mas, ao se aprofundar na pesquisa, o showrunner abortou a ideia e apostou em um conteúdo completamente novo.

A conexão especial com os Vanderbilts é ainda referência, assim como o estilo narrativo de criar paralelos das vidas dos ricos e seus empregados também. Mas, desistindo de Cora, a série atual apresenta novas famílias na virada do século 19 em Nova York. Algumas delas são reais, como os Astor e os McCallisters, que viveram o que estamos vendo nos episódios.

CARRIE
(|Foto: Reprodução/HBO)

A trama acompanha a ascensão social dos Russells, que fizeram fortuna com ferrovias e construíram um palacete na 5ª Avenida, exatamente como aconteceu com os Vanderbilts. A personagem central da família é a ambiciosa e já citada Bertha Russell, que incorpora muitas das características de Alva Vanderbilt. E a vida de Alva redefine coragem, força e vitórias.

A infância e juventude de Alva foram marcadas por temporadas na Europa e férias em Newport. Sua melhor amiga, que se casou com um nobre inglês, a apresentou a William Vanderbilt, já milionário. Porém, por ser o que chamam de “dinheiro novo”, foram rejeitados socialmente pelas famílias tradicionais.

A casa dos Vanderbilts, apelidada de “Petit Chateau”, ocupava um quarteirão completo entre West 51st e 52nd Street, na 5ª avenida, perto do que hoje é o Rockefeller Center. O chateau, também conhecido como “o palácio triplo dos Vanderbilt” (apenas uma das casas tinha 58 quartos), foi um projeto do mesmo arquiteto que fez o Metropolitan Art Museum, Richard Morris Hunt, e decorado com raras peças de arte vindas da Europa. Bem parecido com o que estamos vendo na série. O prédio serviu de residência da família por 64 anos, como um símbolo de prestígio e fortuna, mas foi demolido em 1945.

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Nos dois primeiros episódios, Bertha Russell tem sido abertamente humilhada, como Alva tinha sido, mas o jogo foi revertido usando sua fortuna. Assim como “The Gilded Age” vai mostrar mais à frente, haverá um baile onde apenas 400 pessoas foram convidadas. A lista dos 400, como era conhecida, não incluía os Vanderbilts, mas sim os Astors. Em seguida, Alva foi barrada ao tentar comprar um camarote na Academia de Música, cujos diretores rejeitavam os “emergentes” como os Vanderbilts.

Sem poder ir à Academia, Alva fundou o Metropolitan Opera House, que até hoje é o palco de grandes produções em Manhattan (mas em um endereço diferente). Também mandou construir um palácio de mármore em Newport, onde os ricos passavam as férias de verão, ao lado da casa comparativamente simples dos Astors (ambas casas são abertas para visitação e merecem o passeio).

CARRIE
(|Foto: Reprodução/HBO)

Não satisfeita, a milionária convidou jornalistas influentes da época para conhecerem sua casa. A visita rendeu artigos elogiosos da coleção de Arte dos Vanderbilts, criando curiosidade de um público maior sobre eles.

Alva, então, anunciou um grande baile para apenas 700 pessoas, e, deliberadamente, excluiu a jovem Carrie Astor, filha de Caroline Astor (ambas estão na série), deixando a jovem humilhada. Os Astors se viram obrigados a visitar Alva para garantir o convite para o baile mais disputado e falado da cidade, creditado até hoje como “o baile do século”. A presença dos Astors na festa deu o crédito oficial de aceitação aos Vanderbilts. “Chegou a hora dos Vanderbilts”, teria declarado Carolina Astor. Eu consigo ver tudo isso acontecendo em “The Gilded Age”.

Para uma segunda temporada a história fica ainda mais interessante! O período de glória para Alva foi curto. Descobriu que o marido, William, era infiel e, em vez de seguir o modelo da época de manter as aparências, pediu o divórcio, a custódia dos filhos e boa parte da fortuna como pensão. Conseguiu tudo, mas voltou à estaca zero socialmente, pois novamente passou a ser rejeitada nas grandes famílias por causa do “escândalo”. Conseguiu reverter a situação quando forçou sua filha, Consuelo, a se casar com o Duque de Malborough. Como toda sociedade de Nova York queria estar na cerimônia que transformava uma Vanderbilt em nobre, mais uma vez se submeteu à força de vontade de Alva.

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E gente, não para aí. A decepção com a futilidade de seus amigos e sua vida motivou uma mudança radical de pensamento em Alva, que entrou para a História como uma das mais importantes feministas do século 19. Um ano depois de seu divórcio, ela se casou com o banqueiro (e amigo do 1º marido), Oliver Beaumont. Com ele, seguiu ainda mais rica e extravagante, mas Oliver morreu de repente, apenas alguns anos depois.

Desolada, abraçou a política como consolo, inspirada pelo discurso feminista de Ida Husted Harper e Anna Shaw.  A causa do voto feminino passou a ser sua bandeira e fundou o Partido Nacional Feminista (do qual foi presidente até sua morte), até fazendo piquete em frente à Casa Branca. Sua fortuna foi então dedicada à causa feminista e de igualdade.

Alva também lutou contra a segregação racial, incluindo mulheres negras e imigrantes nos movimentos feministas. Seus últimos anos foram passados na França, para ficar perto de sua filha já casada com outro.

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Em 1932, sofreu um infarto e morreu no ano seguinte, em Paris, por problemas respiratórios. No seu enterro, em Nova York, apenas mulheres carregaram o seu caixão. Se Bertha Russell fizer pelo menos um terço do que Alva Vanderbilt Beaumont fez em vida, “The Gilded Age” promete ser incrível. Estou na torcida!

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