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Uma casa na copa das árvores, em plena Mata Atlântica

Premiada na Bienal Internacional de Arquitetura SP, a Casa Alta, como é conhecida no escritório do arquiteto escocês George Mills, é um exemplo de audácia criativa

Por Reportagem Liane Alves I Fotos Peter Musson
Atualizado em 26 Maio 2022, 15h26 - Publicado em 3 set 2012, 22h13
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Pode se dizer que George Mills é um artesão da arquitetura. Não basta, para ele, assinar um projeto, estar envolvido em desenhos, programas de computador e pranchetas. Como manda a boa tradição de Strathclyde, universidade onde se formou em Glasgow, na Escócia, ele também se envolve diretamente na construção. “Costumo trabalhar com um leque de técnicos e especialistas em várias áreas. Em vez de entregar o projeto para um construtor, gosto de conduzir a obra”, diz Mills – que nesta casa contou com a colaboração do arquiteto Ramiro Levy. A maioria de seus clientes prefere assim: um projeto global, que vai da planta à entrega da casa. O resultado desse empenho perfeccionista e atento traz muita satisfação… e trabalho. George pode acompanhar de nove a 16 casas simultaneamente em vários pontos do estado de São Paulo, do litoral à capital, das montanhas ao interior. “Por isso, também sou muito prático. A escada da Casa Alta, por exemplo, foi montada em dois dias – é semipronta e feita com peças de concreto pré-moldado. Seria impossível fazê-la in loco, numa ilha estreita rodeada de árvores no meio de um rio cujo acesso é uma ponte precária”, diz sorrindo George. A sustentabilidade é outra preocupação constante. Construída sobre pilotis, a casa não obstrui a passagem de pequenos animais, e a mata original irá se recompor naturalmente embaixo dela.

 

Está localizada a 50 m de um braço do rio de um lado e a 30 m de outro, respeitando o curso natural do fluxo da água e a legislação federal. A estrutura de concreto, além de oferecer baixa manutenção, tem uma massa térmica maior que uma de madeira ou tijolos, o que representa uma vantagem em ambientes cujas variações térmica e de umidade ultrapassam em muito as de construções urbanas. E o que chama a atenção nesta moradia são as aberturas. “Ela se mantém a uma distância segura que impede a aproximação de animais, mas está perto o suficiente para observarmos o balanço dos ramos sacudidos pelo vento e ouvirmos o canto dos pássaros e o murmúrio do rio. De vez em quando, um passarinho cheio de cor atravessa a sala de um lado a outro”, conta Tania Mills, esposa do arquiteto. “Ficamos ali para descansar de nossa vida agitada”, diz ela, que tem uma empresa que produz exposições premiadas, como a do holandês Maurits Cornelis Escher, realizada em São Paulo e no Rio de Janeiro.

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Quando o sol invade a casa, o teto de concreto recebe uma coloração dourada, reflexo da perobarosa empregada no assoalho. “Ela parece ficar iluminada”, conta admirado Mills. Esse concreto ainda guarda as texturas das tábuas de madeira de suas fôrmas. Os fios elétricos e toda a tubulação passam por dentro das seis colunas que sustentam a morada de 68 m². Mas o encontro com a família e os amigos não acontece num único ambiente. É no andar de cima, na cobertura da casa, que o casal recebe a filha, Morena, que faz doutorado em biologia marinha na Austrália, e o filho, Euan, também arquiteto, que trabalha na prefeitura de Londres. O peixe e os camarões para o churrasco chegam fresquinhos, pois o mar está a apenas 4 km, perto de uma praia do litoral norte de São Paulo. George gosta de cerveja, como bom escocês, e arrisca cantar canções dos Beatles, como Blackbird e Rocky Raccoon, no violão.

 

Depois de quase 40 anos no Brasil, seu português é perfeito, mas ainda mantém um sotaque acentuado. Ele veio para cá porque se apaixonou por Tania, quando os dois viviam em Londres, e também porque adorou viver perto da natureza no país. “Na primeira vez que vim para cá, nem tinha terminado a faculdade ainda. Fiquei alguns anos, mas voltei com Tania para terminar o curso”, diz. Os filhos foram criados no Brasil e depois bateram asas. “Cheguei a pensar em fazer mais um andar na casa na parte de baixo para os quartos deles. Mas acho que vou desistir. Eles ficam pouco tempo aqui”, avalia Mills, de forma prática. Além desta, o casal tem uma casa de madeira, também na altura da copa das árvores, a poucos quilômetros dali, caso queira dormir por lá. Por enquanto, fica assim – George Mills manterá este pequeno refúgio para descansar. E continuará construindo casas no litoral e perto de São Paulo para uma clientela muito especial.

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