Principais desafios das mulheres no ambiente corporativo
Assédio, machismo, falta de oportunidades, salários menores e síndrome da impostora são apenas alguns dos obstáculos enfrentados nas carreiras
Assédio, machismo, falta de oportunidades, salários menores, síndrome da impostora… Esses são apenas alguns dos obstáculos enfrentados por mulheres em diferentes áreas do mercado de trabalho. Apesar dos avanços na luta pela equidade de gênero mundo afora, o teto de vidro que impede que mulheres ocupem cargos de liderança em empresas e instituições continua, infelizmente, firme e forte. O relatório Women in the Workplace 2021, da consultoria McKinsey, revela que quanto mais alto for o cargo, menor a presença feminina: enquanto há 62% de homens brancos na alta liderança das empresas, há apenas 20% de mulheres brancas. O percentual de mulheres negras é ainda mais baixo, apenas 4%. E, mesmo as poucas que alcançam postos de decisão, continuam enfrentando diversos desafios semeados pelo machismo estrutural. Executivas de diferentes setores e empresas revelam a CLAUDIA os principais desafios no ambiente corporativo.
Machismo
O machismo predomina em quaisquer ambientes marcados pela baixa representatividade feminina. A sobrecarga de atividades atribuídas às mulheres pela sociedade, os empecilhos do sistema político-econômico, o preconceito e a desvalorização das mulheres muitas vezes as mantém longe dos postos de liderança e até de candidaturas políticas. “O machismo exerce um peso especialmente grande na política e no mercado de trabalho atual. Não deveria ser assim, mas a realidade é que, para se destacar, a mulher tem que ser tecnicamente muito melhor qualificada do que qualquer homem que exerça a sua mesma função e ainda ter garra para dar conta de suas duplas e até triplas jornadas de trabalho”, lamenta Larissa DeLucca, que é CEO da Negócios Acelerados e Diretora da Fundação Mulheres Aceleradas.
Brecha salarial
“A diferença entre o salário recebido por homens e mulheres é antigo tópico de discussão e luta em várias áreas. Apesar disso, esse cenário muda a passos lentos, pois ainda é comum notar a mesma vaga com salários e benefícios completamente diferentes e menores para as mulheres, principalmente em posições criativas ou de liderança, mesmo que isso se revele na abertura que determinada empresa tem na negociação na hora da contratação”, revela Fernanda Ramos, especialista em comunicação e diretora de marketing na Alpargatas S.A em Los Angeles. Ela destaca que são frequentes os casos em que homens recebem 20% a mais que mulheres nas empresas.
São muitos os números que dão conta dessa realidade. De acordo com o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), o rendimento médio mensal dos homens em 2019 foi 28,7% maior que o das mulheres. Enquanto os profissionais do sexo masculino receberam, em média, R$ 2.555 (acima da média nacional geral de R$ 2.308), as mulheres ganharam apenas R$ 1.985.
Assédio
Pelo menos 72% das brasileiras já sofreram algum tipo de assédio no ambiente de trabalho, sendo o assédio sexual o principal deles, de acordo com a Aberje (Associação Brasileira de Comunicação Empresarial). “Em meio a essa realidade, sempre acredito que informação e conhecimento são nossos melhores aliados, como sociedade e como times diversos que precisam conviver, colaborar e evoluir. No ambiente corporativo, é preciso que mulheres e homens se unam com o mesmo objetivo, com amplo apoio da liderança, a fim de implementar canais cada vez mais seguros de comunicação, aconselhamento, denúncia e gestão de consequências desses crimes”, defende Fernanda.
Falta de oportunidades
Uma pesquisa divulgada pelo Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (FGV-IBRE) apontou que, desde 2012, a taxa de desemprego das mulheres é superior a dos homens. De acordo com o levantamento, o índice de desempregadas era de 16,45% em 2021, o equivalente a mais de 7,5 milhões de mulheres. O número é superior à média anual de desemprego, que foi de 13,20% no ano passado, de acordo com o mesmo levantamento. “Esse é mais um efeito da mesma causa. Para além de respeitar e legitimar as mulheres em qualquer posição que seja, é necessário compreender que existe um déficit histórico e que a aceleração da solução passa por pensar ativamente na geração de oportunidades, desenvolver estruturas e abrir vagas pensadas e direcionadas para a equidade de gênero”, acrescenta Fernanda.
Como virar o jogo
“Quando encontramos mulheres em posições de liderança dentro de uma empresa, sabemos que o papel dela será fundamental para criar ambientes mais criativos e acolhedores. Além disso, as líderes femininas também costumam ter um olhar mais empático e sensível com os colaboradores, algo que ajuda no reconhecimento de valores, tanto no reconhecimento de valor de um colaborador, quanto no impacto direto nos valores da organização”, conta Dani Verdugo, CEO do Grupo THE. Para virar o jogo a nosso favor no mercado de trabalho, ela defende que a sororidade é fundamental. “Nenhuma líder se faz sozinha. “Quando as mulheres acreditam umas nas outras, se apoiam e lutam diariamente para ocupar espaços de destaque, isso serve para abrir portas para outras mulheres também. O percurso nunca é fácil, por conta disso, quando uma mulher conquista um espaço de destaque e liderança dentro de uma organização, ela tende a puxar outras com ela para que façam parte desse crescimento”, explica a CEO.
Para Maytê Carvalho, professora, comunicóloga e autora do livro Ouse Argumentar: Comunicação assertiva para sua voz ser ouvida (Planeta), combater o silenciamento é outro aspecto fundamental para um mercado de trabalho com equidade de gênero. “Debates de qualquer tipo podem acabar em tons elevados e é importante tentar continuar a discussão em outro momento, mas não podemos deixar de falar. O silenciamento é perverso e é usado por narcisistas como forma de punir e constranger o outro. É preciso estar atento e vigiar como nós falamos com os outros e como os outros falam conosco. Toda fala revela dinâmicas invisíveis de poder e de influência”, explica a especialista.